Guilherme Boulos, o dono dos sem-teto de São Paulo — e o
maior agente privatista das casas construídas com o dinheiro público —,
resolveu dedicar a mim a sua coluna na Folha Online. Estou um pouco
decepcionado. Alguém me disse que ele era intelectualmente preparado. É só um bobo
repetindo chavões. Como ele se transformou, no entanto, no maior agente
imobiliário do Brasil, vou, sim, responder ponto a ponto. Mas só à noite. À
diferença de Boulos, eu tenho de trabalhar para ganhar a vida.
O coxinha radical, filhinho de papai convertido ao
socialismo, chega a se oferecer para ser meu psicanalista!!! Que cara
ético! E falando justamente em “negação
da experiência”. O homem que prometeu fazer correr sangue durante a Copa diz
que eu “babo e xingo”. Mas fica para mais tarde. Divirtam-se sabendo tudo o que
Boulos pensa a meu respeito — eis no que dá excesso de achocolatados matinais
com cereais… Esse rapaz não deve ter
tido uma babá que o amasse incondicionalmente, pobrezinho! Segue o texto do homem
que nem baba nem xinga. Por que será que eu o incomodo tanto?
Reinaldo Azevedo e a direita delirante
A direita brasileira já foi melhor. Teve nomes como Roberto
Campos e José Guilherme Merquior entre seus quadros, formulando sobre teoria
econômica e política internacional. Naquele tempo, a direita recorria a
argumentos, além do porrete. Hoje restou apenas o porrete, aplicado a esmo sem
maiores requintes de análise.
Impressiona o baixo nível intelectual dos representantes da
direita no debate público nacional. Não elaboram, não buscam teoria nem
referências. Não fazem qualquer esforço para interpretar seriamente a
realidade. Apenas atiram chavões, destilando preconceitos de senso comum e ódio
de classe.
Reinaldo Azevedo é hoje o maior representante dessa turma.
Com 150 mil acessos diários em seu blog mostra que há um nicho de mercado para
suas estripulias. Ao lado dele tem gente como Rodrigo Constantino, aquele que
se orgulha das viagens a Miami e se despontou como legítimo defensor dos
sacoleiros da Barra da Tijuca.
Antes os intelectuais de direita iam fazer estudos em Paris.
Agora vão comprar roupas em Miami. Sinal dos tempos e das mentes.
Dispostos a tudo para fazer barulho no debate público, mas
sem substância em suas análises, aproximam-se frequentemente de um discurso
delirante.
Reinaldo Azevedo jura que o governo petista quer construir o
comunismo no Brasil. E vejam, ele não está falando do Lula de 1989, mas do
governo do PT de 2003 a 2014. Sim, o mesmo que garantiu lucros recordes aos
bancos e empreiteiras na última década. Que manteve as bases da política
econômica conservadora e que nem sequer ensaiou alguma das reformas populares
historicamente defendidas pela esquerda. Neste governo que, com muito esforço,
pode ser apresentado como reformista, ele enxerga secretas intenções socializantes.
Certamente com o apoio da Odebrecht e de Katia Abreu. Só no delírio…
Para ele, João Goulart é que era golpista em 64. Os black
blocs são amigos do ministro Gilberto Carvalho. E as pessoas só são favoráveis
às faixas exclusivas de ônibus por medo de serem acusadas de elitistas. Ah sim,
sem esquecer que a mídia brasileira – a começar pelas Organizações Globo – é
controlada sistematicamente pela esquerda.
Ele baba, ele xinga. Ofende os fatos e fantasia perigos.
Lembra, embora com menos poesia, dom Quixote atacando os moinhos de vento.
A pérola mais recente é escabrosa: Israel seria vítima do
marketing internacional do Hamas. No momento em que o mundo vê a olhos nus
centenas de palestinos serem massacrados na Faixa de Gaza, ele denuncia uma
conspiração internacional de mídia contra o Estado de Israel. Encontrou eco no
também direitista delirante Luis Felipe Pondé, em artigo nesta Folha.
Teoria da conspiração vá lá, até pode ter seu charme; mas,
como dizia Napoleão, entre o sublime e o ridículo há apenas um passo. Reinaldo
Azevedo e seus sequazes já atravessaram faz tempo esta fronteira.
De fato, os textos que têm se prestado a publicar acerca do
genocídio na Palestina já superaram o ridículo. Chegaram ao cinismo. Dizer que
as crianças mortas na Faixa de Gaza são marketing é uma afronta do mesmo nível
da deputada sionista que defendeu o extermínio em série das mulheres palestinas
para impedir a procriação. É apologia covarde ao genocídio e ao terrorismo de
Estado.
A direita se diferencia da esquerda, dentre outras coisas,
pela análise dos fatos. Mas não por criar fatos ou ignorá-los. Ao menos quando
tratamos de uma direita séria.
No caso de Reinaldo Azevedo e dos seus, estamos num outro
campo. Não é apenas a direita. É uma direita delirante. A psiquiatria clínica é
clara: negação dos dados da experiência, somada a uma reconstrução da realdade
pela fantasia chama-se delírio. Aqui há ainda o agravante da fixação em temas
recorrentes. PT, movimentos populares e mais uns dois ou três.
Um delírio em si é inofensivo. O problema é quando começa a
juntar adeptos, movidos por ódio, preconceitos e mentiras. É assim que nascem
os movimentos fascistas. Quem defende extermínio higienista em Gaza também deve
defendê-lo no Complexo do Alemão ou em Paraisópolis.
Reinaldo Azevedo certamente ainda não representa um risco
político real, mas o crescimento de seus seguidores é um sintoma preocupante da
intolerância e desapego aos fatos que ameaçam o debate público no Brasil.
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