Por Daniel Pipes
“O Egito não intervirá para deter a guerra na Faixa de Gaza
porque o Hamas conspirou com a Irmandade Muçulmana contra o Egito.
O Hamas trabalhava com a Irmandade Muçulmana contra o
exército egípcio”.
O atual ataque do Hamas a Israel persuadiu a previsível
confusão de nacionalistas palestinos, islâmicos, ultra-esquerdistas e anti-semitas
de sair da caverna para criticar de forma ameaçadora o Estado judeu. Porém,
mais curiosamente, Israel está recebendo apoio, ou contenção e equanimidade
pelo menos, de fontes inesperadas:
O Secretário Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon: “Hoje nos
enfrentamos ao perigo de uma escalada integral em Israel e Gaza com a ameaça de
uma ofensiva terrestre ainda palpável e somente evitável se o Hamás deixar de
disparar projéteis”. As Forças libanesas de Interior detinham dois particulares
por haver disparado projéteis sobre Israel. Efetivos da segurança egípcia
confiscavam uma vintena de projéteis que estavam sendo introduzidos de
contrabando em Gaza. Mahmoud Abbas, secretário da Autoridade Palestina,
assistia em Israel a uma “conferência de paz” organizada pelo diário Haaretz, a
mesma jornada em que começava o atual enfrentamento* e indignou o Hamás por sua
disposição a seguir trabalhando com o Governo de Israel. O ministro jordaniano
de Exteriores, Nasser Judej exigia que Israel “detenha imediatamente sua escalada”,
porém equilibrava isto com chamamentos à “restauração da calma total e o
respeito aos civis” e “a volta às negociações diretas”.
François Hollande, presidente da França, dava a Netanyahu o
respaldo mais fervoroso de todos os líderes estrangeiros, ao assegurar ao líder
israelense que “a França condena com firmeza os ataques” a Israel, e expressava
“a solidariedade da França aos projéteis disparados de Gaza. O governo
israelense há de adotar todas as medidas necessárias para proteger sua
população de todas as ameaças”.
Os meios de comunicação convencionais também estão mostrando
uma equanimidade inusual à Israel. A BBC publicava o artigo “São precisas as
imagens de #GazaUnderAttack?”, relativo a umas fotografias que dizem mostrar os
efeitos dos ataques israelenses em Gaza, e concluía que “Parte das fotografias
são da situação atual em Gaza, porém a análise #BBCtrending descobriu que
algumas remontam a nada menos que 2009, e as há procedentes da Síria e do
Iraque”. O jornalista da CNN Jake Tapper perguntava à antiga assessora legal da
OLP, Diana Buttu pela gravação de porta-vozes do Hamas que instam os civis de
Gaza a proteger as residências dos líderes do Hamás com seus corpos. Quando
Buttu replicou chamando esta acusação de racista, Tapper respondeu: “Não é
racista, temos o vídeo... Não é racista, é um fato”.
Impondo-se a todos estes indicadores, mas menos curioso,
Rasmussen refere que o provável votante norte-americano culpa mais os
palestinos do que Israel, por uma margem de quase 3 a 1 (42 por cento frente a
15 por cento) pelo conflito em Gaza (segundo a sondagem levada a cabo nos dias
7-8 de julho, recém começadas as hostilidades). É talvez a estatística mais
importante, com diferença do conflito fora do Oriente Próximo, mais
evidentemente que os votos no Conselho de Segurança.
Comentários:
(1) A frieza ao Hamas é em grande medida produto do
descobrimento tardio de que os islâmicos representam um perigo maior que os
sionistas. Porém a sobriedade dos meios convencionais insinua que, em parte,
também se depreenderia do rechaço às táticas vis do Hamas e à repulsa a seu
repugnante objetivo de destruir Israel.
(2) Sendo político o objetivo do Hamas nesta guerra, este
menor apoio ganha uma importância notável. (11 de julho de 2014).
*12 de julho de 2014: minhas informações acerca da
assistência de Abbas à conferência do Haaretz procediam do artigo de Al-Monitor
acima, onde ele diz que “No apogeu dos bombardeios israelenses de Gaza na
primeira hora de 8 de julho, o Presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud
Abbas, surpreendeu os palestinos intervindo em uma conferência de paz
organizada pelo periódico israelense Haaretz”. Porém, o jornalista Adi Schwartz
corrigiu isto, escrevendo-me que Abbas não interveio no ato: “todos os
representantes palestinos que se supunha assistiriam, decidiram boicotar a
conferência. Ele assina uma coluna no periódico”.
13 de julho de 2014: “Egípcios esperam que Israel destrua o
Hamas”, escreve Halid Abú Toamehed no Gatestone Institute. Alguns extratos:
Azza Sami, Al-Ahram: “Obrigado, Netanyahu e que Alá nos envie muitos como tu
para destruir o Hamas”. Amr Mustafá, intérprete, dirigindo-se aos palestinos na
Faixa de Gaza: “Tens que desfazê-los do Hamas e vamos ajudá-los”. O Hamas deve
deixar de se intrometer nas questões internas dos países árabes imediatamente:
“Tira os vossos do Egito, Síria e Líbia. No Egito, hoje combatemos a pobreza
criada pelas guerras. Temos problemas próprios de sobra. Não espereis que os
egípcios dêem mais do que já deu. Tivemos bastante do que fizestes ao vosso
país”.
O Al-Bashayer: “O padrão de vida de um cidadão de Gaza é
muito mais elevado do que o de um cidadão egípcio. O pobre do Edito passa mais
necessidade que o pobre da Faixa de Gaza. Que Qatar gaste quanto quiser na
Faixa de Gaza. Nós não devemos enviar nada que falte em casa”.
Quando o famoso jornalista e apresentador televisivo Amr
Adib criticou “o silêncio” de Sisi sobre a guerra na Faixa de Gaza, muitos
egípcios lhe pediram que se calasse. Um exemplo: “O Hamas é responsável pela
morte de soldados egípcios”. Hamdi Bakhit, antigo general: Israel deveria
voltar a ocupar a Faixa de Gaza porque “seria melhor que o governo do Hamas”.
A apresentadora da televisão egípcia, Amany al-Hayat,
acusava o Hamas de se fazer de vítima de um ataque israelense para obrigar o Egito
a reabrir a passagem fronteiriça de Rafaj com Gaza. “Não querem mais que lhes
abramos a passagem de Rafah. O Hamas está disposto a que todos os residentes da
Faixa de Gaza paguem um elevado preço com o objetivo de se desfazer de sua
crise. Não esqueçamos que o Hamas é o braço armado do movimento terrorista da
Irmandade Muçulmana”.
Ahmed Qandil, responsável pelo Programa de Estudos
Energéticos da instituição Al-Ahram Estudos Estratégicos, denunciava o ataque
às instalações nucleares israelenses de Dimona como “estúpido” e advertia que
isto põe em perigo vidas egípcias e árabes: “O Egito tem que adotar medidas de
precaução”. Em resposta a esta intervenção, um egípcio escreve: “Que Alá faça
vitorioso o Estado de Israel em sua guerra contra o movimento terrorista Hamas,
durante este sagrado mês do Ramadán”.
Mustafá Shardi, jornalista: “Nenhum país árabe fez pelos
palestinos o que fez o Egito. Por que o Hamas não acode ao (primeiro ministro
turco Recep Tayyi) Erdogan? Onde está Erdogan quando faz falta? Por que guarda
silêncio? Se ele abre sua boca, eles (Israel e Estados Unidos) lhe renhirão. O
povo egípcio se pergunta: onde estão os nossos seqüestrados e levados à Faixa
de Gaza? O Hamas deveria se desculpar pelos milhares de túneis que se
costumavam utilizar para introduzir recursos egípcios de contrabando. Todos têm
seus próprios aviões privados e contas em bancos suíços”.
Mohamad Dahlán, antigo responsável do Interior na Autoridade
Palestina, prediz que os egípcios não farão algo para salvar o Hamas: “O Egito
não intervirá para deter a guerra na Faixa de Gaza porque o Hamas conspirou com
a Irmandade Muçulmana contra o Egito. O Hamas trabalhava com a Irmandade
Muçulmana contra o exército egípcio”.
Depois que o secretário da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas,
telefonou a Sisi para instar-lhe a trabalhar em “um cessar fogo imediato” entre
Israel e Hamas, admitia que seu chamamento a Sisi havia fracassado. Segundo Abú
Toameh, Sisi (do mesmo modo que muitos egípcios) parece “encantado de que o
Hamas esteja sendo fortemente punido”.
O Hamas fez declarações da postura egípcia. Um porta-voz
destacava: “É desafortunado ver que alguns egípcios apóiam publicamente a
agressão israelense à Faixa de Gaza enquanto os ocidentais expressam
solidariedade com os palestinos e condenam Israel”. Os líderes do Hamas
utilizam termos como “traição” ou “conchavados”.
Tradução: Graça Salgueiro
Fonte: Mídia Sem Máscara
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