Nestes últimos 12 anos, o Brasil se acostumou à diplomacia
de chanchada, à diplomacia circense, à diplomacia momesca. Um presidente
brasileiro percorreu, por exemplo, ditaduras árabes e se abraçou a facínoras.
Emprestou integral apoio a tiranos, enquanto o povo morria nas ruas. Flertou
com aiatolás atômicos, negou-se a condenar homicidas em massa na ONU, apoiou e
apoia protoditaduras latino-americanas. De A a Z, a política externa brasileira
percorreu todos os verbetes da indignidade.
O auge da estupidez estava reservado para uma nota emitida
nesta quarta. O Itamaraty publicou um verdadeiro repto contra Israel, hoje em
guerra com o Hamas, e convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv. Para
vergonha da história, o Ministério das Relações Exteriores emitiu a seguinte
nota:
O Governo brasileiro considera inaceitável a escalada da
violência entre Israel e Palestina. Condenamos energicamente o uso
desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza, do qual resultou elevado
número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças.
O Governo brasileiro reitera seu chamado a um imediato
cessar-fogo entre as partes.
Diante da gravidade da situação, o Governo brasileiro votou
favoravelmente a resolução do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas
sobre o tema, adotada no dia de hoje.
Além disso, o Embaixador do Brasil em Tel Aviv foi chamado a
Brasília para consultas.
Como já destaquei aqui, chamar de volta um embaixador é um
ato hostil ao outro país. Observem que o governo do Brasil não censura, nessa
nota, os ataques feitos pelo Hamas, tratando Israel como mero estado agressor.
Os israelenses reagiram com dureza e fizeram muito bem. Um
país que luta contra inimigos poderosos não tem tempo para palhaçadas. Disse a
chancelaria de Israel: “O comportamento do Brasil ilustra por que esse gigante
econômico permanece politicamente irrelevante”. Segundo aquele governo, o nosso
país escolheu “ser parte do problema em vez de integrar a solução”.
É uma reação à altura da indignidade da nota emitida pelo
Brasil. Agora, Luiz Alberto Figueiredo, ministro das Relações Exteriores, tenta
minimizar o mal-estar, afirmando que a discordância entre países amigos é
rotina. Mas emenda: “O gesto que tinha que ser feito foi feito. O Brasil
entende o direito de Israel de se defender, mas não está contente com a morte
de mulheres e crianças”.
Não me diga! E quem está contente com a morte de mulheres e
crianças? Se o Brasil entende o direito de Israel de se defender, deveria ter
deixado isso claro na nota. Em vez disso, preferiu transformar o conflito numa
luta entre o bem e o mal.
Judeus no Brasil também se manifestaram contra a estupidez.
A Confederação Israelita do Brasil emitiu uma nota, que segue:
A Confederação Israelita do Brasil vem a público manifestar
sua indignação com a nota divulgada nesta quarta-feira pelo nosso Ministério
das Relações Exteriores, na qual se evidencia a abordagem unilateral do
conflito na Faixa de Gaza, ao criticar Israel e ignorar as ações do grupo
terrorista Hamas.
Representante da comunidade judaica brasileira, a Conib
compartilha da preocupação do povo brasileiro e expressa profunda dor pelas
mortes nos dois lados do conflito. Assim como o Itamaraty, esperamos um
cessar-fogo imediato.
No entanto, a lamentável nota divulgada pela chancelaria
exime o grupo terrorista Hamas de responsabilidade no cenário atual. Não há uma
palavra sequer sobre os milhares de foguetes lançados contra solo israelense ou
as seguidas negativas do Hamas em aceitar um cessar-fogo.
Ignorar a responsabilidade do Hamas pode ser entendido como
um endosso à política de escudos humanos, claramente implementada pelo grupo
terrorista e que constitui num flagrante crime de guerra, previsto em leis
internacionais.
Fatos inquestionáveis demonstram os inúmeros crimes
cometidos pelo Hamas, como utilização de escolas da ONU para armazenar
foguetes, colocação de base de lançamentos de foguetes em áreas densamente
povoadas e ao lado de hospitais e mesquitas.
Também exortamos o governo brasileiro a pressionar o Hamas
para que se desarme e permita a normalização do cenário político palestino.
Lamentamos ainda o silêncio do Itamaraty em relação à política do Hamas de
construir túneis clandestinos, em vez de canalizar recursos para investir em
educação, saúde e bem-estar da população na Faixa de Gaza.
A Conib também lamenta que, com uma abordagem que poupa de
críticas um grupo que oprime a população de Gaza e persegue diversas minorias,
o Brasil mine sua legítima aspiração de se credenciar como mediador no complexo
conflito do Oriente Médio.
Uma nota como a divulgada nesta quarta-feira só faz aumentar
a desconfiança com que importantes setores da sociedade israelense, de diversos
campos políticos e ideológicos, enxergam a política externa brasileira.
Por falar em judeus brasileiros, a Federação Israelita do
Estado de São Paulo (Fisesp) e a Juventude Judaica Organizada (JJO) promovem nesta quinta-feira, 24 de julho, às
19h30, na Praça Cinquentenário de Israel,
em Higienópolis, uma manifestação em favor da paz e pelo direito de
Israel de se defender.
Meus caros, política externa é coisa séria. Não pode estar
entregue a prosélitos de quinta categoria; não pode ser fruto da ação de
camarilhas ideológicas. Qualquer pessoa de bom senso defende o imediato cessar-fogo.
Mas este tem de nascer de um entendimento entre as partes em conflito. A cada
foguete, entre os milhares, que o Hamas lança contra Israel, numa prática
cotidiana, o movimento terrorista investe na guerra, não na paz. E isso a
delinquência da política externa brasileira não reconhece.
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