Por Nelson Motta - O Globo
Após sete anos, das 167 intervenções urbanas prometidas, só
68 estão prontas e 88 atrasadas, e Lula explicou: ‘Vai levar alguns séculos
para a gente virar uma Alemanha’
‘Macaco que muito mexe quer chumbo” é um velho e sábio
ditado mineiro sobre os perigos da superexposição e do exibicionismo, mas
certamente nem passou pela cabeça de Lula e Ricardo Teixeira quando fizeram o
diabo para trazer a Copa do Mundo para o Brasil, imaginando os benefícios
políticos e comerciais e esquecendo os riscos e consequências de se colocar no
centro das atenções do mundo como sede de um evento dessa grandeza. E veio
chumbo grosso.
Recebidas como ofensas ao país, as críticas internacionais
foram respondidas com bravatas grandiosas e apelos ao patriotismo paranoico,
como se os estrangeiros só revelassem as mazelas e precariedades que estamos
cansados de conhecer por maldade, inveja e má-fé, ou talvez por tenebrosas
conspirações para atrapalhar a nossa Copa. É reserva de mercado: só nós podemos
nos esculachar.
Mas, depois de sete anos, das 167 intervenções urbanas
prometidas, só 68 estão prontas e 88 atrasadas, e Lula explicou tudo: “Vai
levar alguns séculos para a gente virar uma Alemanha.”
O complexo de vira-latas também se caracteriza pela
incapacidade de reconhecer erros, de responder a críticas e de tentar disfarçar
o sentimento de inveja e inferioridade com a força bruta de hipérboles,
bravatas e rosnados. Quando Nelson Rodrigues disse que a vitória na Copa de
1958 nos livrou do complexo de vira-latas, ao contrário de Dilma, não entendi
que havíamos nos tornado cão de raça ou mesmo cachorro grande, mas que nos
livrávamos do complexo porque nos assumíamos como vira-latas bons de bola.
Sim, a vira-latice étnica e cultural é uma de nossas
características mais fortes, para o bem e para o mal, e isso não há Copa nem
metáfora genial que mude. Nesse sentido, ninguém é mais vira-latas do que os
americanos, que também são os cachorros grandes do mundo.
Outra expressão atual da vira-latice é a ostentação, como o
novo estilo de funk que celebra a riqueza e o exibicionismo, com orgulho e sem
vergonha. É a trilha sonora perfeita para o Brasil ostentação da propaganda
oficial que nos mostra no melhor dos mundos e fazendo a Copa das Copas.
Macaco que muito mexe…
Fonte: A Verdade Sufocada
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