“Professor,
Sou aluno do Curso de Ciências Sociais da (...). Admiro seu
trabalho há um ano e estou amadurecendo a idéia de me tornar aluno do Seminário
de Filosofia, o que me impede é o tempo. Hoje na aula de História Moderna uma
colega minha expôs para toda a turma a minha admiração pelo seu modo de pensar,
prontamente os colegas começaram a me olhar com olhar de reprovação. O
professor desta disciplina, estava presente em sala e ao ouvir o comentário da
minha colega, começou a se dirigir a mim de maneira debochada sobre as
denuncias que o senhor faz há vinte
anos, perguntas do tipo: "Você realmente acredita que há uma
conspiração revolucionária gramsciana em andamento no Brasil?’ ou ‘Você é tolo ao
ponto de acreditar que estamos sob uma ditadura petista?’.
O professor seguiu rompendo com toda q qualquer ética
profissional e passou a alvejar a sua pessoa, atribuindo adjetivos como
alarmista, fascista e reacionário e dizendo que o senhor é maluco, mas admitia
que é um bom professor de Filosofia e portador de uma erudição impar (inclusive
ele disse que a mãe dele foi sua aluna). Fiquei muito constrangido e sem
resposta devido ao estado de choque em que me encontrei em ver um professor
universitário me admoestando por minhas preferências politico-filosóficas. Um
único colega mais conservador (por minha influência) veio em minha defesa e
indagou qual é o problema de gostar do senhor e sobre a necessidade de alguém
esculachar’ o senhor devido a idéias divergentes, encerrando a discussão e
deixando o professor e os colegas mais falantes sem respostas.
Com o ocorrido pude ter certeza da veracidade de tudo o que
é dito pelo senhor a respeito da infiltração esquerdista no meio acadêmico e
senti na pele a discriminação praticada por esse grupo (já havia sofrido
anteriormente pelo fato de ser Espiritualista e Cristão, mas nunca na
intensidade do evento de hoje).
Gostaria de alguma orientação a respeito de como proceder no
meu próximo encontro com este professor.”
RESPOSTA
Prezado X.,
Distribua na classe e leia em voz alta, diante do seu
professor, a mensagem abaixo.
Prezado Professor,
Não sei sequer o seu nome, mas sua conduta em classe é minha
velha conhecida, já que repete fielmente a de milhares de outros professores
universitários neste país.
Tenho dito e escrito, vezes sem conta, que há uma diferença
essencial entre a ditadura militar e a presente ditadura petista. A primeira
exercia algum controle da opinião pública através de medidas administrativas
oficiais e explícitas, como por exemplo a censura nos jornais, feita por
funcionários da Polícia Federal. Esse controle era frouxo, pois havia dezenas
de semanários comunistas circulando livremente e as notícias censuradas na
grande mídia eram freqüentemente liberadas depois. Na esfera editorial não
havia controle absolutamente nenhum. Os vinte e um anos da ditadura foram,
segundo comprovam os registros da Câmara Brasileira do Livro, a época de maior
expansão e prosperidade da indústria do livro esquerdista no Brasil. Muitas
editoras comunistas, a começar pela maior delas, a Civilização Brasileira, conforme
me confessou seu próprio diretor, Ênio Silveira, recebiam substancial ajuda
financeira do governo, interessado em seduzir uma parcela dos esquerdistas para
que se afastassem dos grupos guerrilheiros armados.
Na presente ditadura petista, o controle é exercido por meio
de uma rede enorme de militantes e idiotas úteis espalhados por todas as
cátedras universitárias, redações de jornais, estações de rádio e TV e
instituições culturais em geral, incumbidos de aí criar um ambiente de terror
psicológico, por meio do achincalhe, do boicote e da humilhação pública de quem
quer que ouse divergir da ortodoxia dominante.
Esse método, em substituição à censura oficial, foi
preconizado por Antonio Gramsci e quem quer que o pratique é um agente da
revolução cultural gramsciana. É um método eminentemente escorregadio e
covarde, que só pode alcançar sucesso, como explicou o próprio Gramsci,
camuflando a sua própria existência e dando a impressão de que as opiniões que
estão sendo impostas brotam espontaneamente do consenso social, sem nenhuma
fonte central ou comando, de modo que pouco a pouco o Partido se torne "um
poder onipresente e invisível de um imperativo categórico, de um mandamento
divino".
Não é preciso dizer que esse método é mil vezes mais
opressivo e mil vezes mais eficiente do que qualquer censura oficial, já que
neste caso as vítimas enxergam claramente o culpado pela situação, e naquele
todos se vêm perdidos e desorientados, acossados e intimidados por um poder sem
rosto, "onipresente e invisível".
Sua própria conduta em classe, professor, é a do típico
agente desse poder, seja na condição de militante ou, mais provavelmente, de
idiota útil. O senhor busca intimidar e humilhar os alunos que não sigam a
cartilha oficial, no mesmo ato em que nega cinicamente que essa cartilha exista
e que alguém esteja tentando impô-la a quem quer que seja.
Nada poderia ilustrar melhor a técnica de Antonio Gramsci,
hoje aplicada persistentemente em todas as instituições de ensino no Brasil.
Sua conduta é a melhor prova daquilo cuja existência o
senhor nega.
Não sei se, malgrado essa conduta dúplice e escorregadia, o
senhor ainda conserva no coração algum resto do senso normal de honestidade que
o gramscismo destrói em seus militantes, mas peço-lhe que não se vingue desta
mensagem no aluno que é simplesmente o portador dela. O responsável por estas
palavras sou apenas eu e não ele.
Atenciosamente,
Olavo de Carvalho
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Publicado no Diário do Comércio.
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