sexta-feira, 11 de abril de 2014

Conspiração contra a Venezuela

Por Pedro Corzo

É vergonhoso que a maioria dos governos dos países da América tenham sido capazes de se pôr de acordo em estabelecer uma espécie de política comum que só beneficia os regimes despóticos do hemisfério, sem considerar que com essa atitude deixam em absoluta falta de defesa os povos submetidos aos regimes autoritários.

A conduta de muitos dos políticos latino-americanos reflete, no melhor dos casos uma grande miopia e no pior, uma franca e aberta cumplicidade com os autocratas, situação confirmada na Assembléia da Organização de Estados Americanos (OEA), quando se impediu à deputada María Corina Machado expor a realidade que seu país padece sob o regime de Nicolás Maduro.

O povo cubano tem sido a vítima por antonomásia da estultícia, covardia e oportunismo dos líderes políticos do hemisfério. Apesar de que a política de desestabilização do governo de Cuba não havia mudado para seus pares do hemisfério, a maioria dos governos do continente modificou sua política para Havana, restabeleceu relações diplomáticas e comerciais com a ilha enquanto a OEA deu seu aval às mesmas.

A ditadura imperante na ilha não a impediu que se integrasse a organismos regionais, entre eles, as Cúpulas de Chefes de Estado e Governo da Ibero-América, ao extremo de que organizou alguns desses eventos. Nenhum governo reparou que Havana violava descaradamente os acordos nos quais se comprometia a respeitar os direitos humanos, a pluralidade e transparência política.

A nova vítima desta crônica negligência é a Venezuela. A confabulação dos governos a favor do despotismo se evidencia outra vez.

A dupla moral e a quebra dos valores que nossos governantes dizem defender, possibilitará que sejam mais os povos submetidos a ditaduras eleitorais, na qual os governantes vestidos de civil podem ser tão cruéis e desapiedados como os militares que lhes precederam. Maduro é um exemplo.

É conveniente fazer notar a rapidez e firmeza com a qual políticos, organizações sociais, setores intelectuais e governos identificados com o populismo eleitoral, atuam solidariamente quando um de seus iguais, ou próximo a seus interesses, são afetados negativamente por decisões que ponham em perigo a sobrevivência do aliado.

Conseqüente com esse compromisso, a delegação da Nicarágua solicitou que a sessão na qual a deputada venezuelana falaria fosse a portas fechadas, proposta a que os governos aliados ideológicos do castro-chavismo e os que se beneficiam do petróleo venezuelano, apoiaram sem reparo.

Posteriormente, outras manobras que evidentemente haviam sido previamente acordadas entre os que respaldam o regime de Maduro, impediram que na Sessão Ordinária do Conselho Permanente da OEA, a deputada María Corina Machado pudesse denunciar o que acontece em seu país.

É certo que o governo da Venezuela exerce uma chantagem vil com seu talão de cheques sobre muitos governos e que outros mandatários o respaldam porque sua aliança, diga-se de passagem, ideológica com Caracas assim o indica, porém o voto do Brasil, embora tipifique a apatia da maioria dos governos da América Latina sobre valores como a liberdade e os direitos humanos, é muito preocupante porque parece indicar que apesar de suas muitas potencialidades não está com capacidade de assumir a liderança hemisférica que se lhe supõe.

Se a conspiração orquestrada pela Venezuela para impedir que a deputada Machado falasse no conclave foi uma vitória pírrica, em particular, graças ao Panamá e os governos que apoiaram sua proposta, o regime de Maduro se auto-agravou quando reteve a deputada no aeroporto quando retornava ao país.

Essa detenção temporária, mais a obsessão de Diosdado Cabello para retirar de María Corina a imunidade parlamentar, a prisão de vários prefeitos e o incremento da repressão, demonstram que o regime não tem vontade de discutir com sinceridade os problemas do país e dar-lhes solução com a participação de setores independentes da sociedade.

O governo de Maduro está consciente do caráter político dos protestos, mas também sabe que se estenderam-se, apesar da repressão por várias semanas, é porque estão sustentadas em problemas reais da nação, como a existência de presos políticos, controle dos meios de comunicação, restrição às liberdades econômicas, a corrupção, a elevada inflação, insegurança pública e outras travas que prejudicam a cidadania.

Até o momento morreram muitas pessoas, em sua maioria estudantes e gente do povo que repudia a violência, o que deixa apreciar que Maduro confia devotadamente na capacidade dos repressores cubanos para submeter os manifestantes e no talento de Ramiro Valdés em construir um país modelado a seu gosto, onde os protestos sejam lembrados como um mal exemplo da democracia.



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Tradução: Graça Salgueiro

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