Por Ferreira Gullar*
Os escândalos que envolvem a Petrobras merecem ser considerados
com atenção porque revelam quem são as pessoas que nos governam e às mãos de
quem nosso país foi entregue.
Todos certamente se lembram do uso que Lula fez da Petrobras
durante a campanha eleitoral, inventando que o adversário iria privatizá-la. O
adversário ganhou as eleições e não a privatizou; ele, Lula e sua turma,
chegados ao governo, usaram-na politicamente, levando-a a prejuízos sucessivos,
levando-a da condição de empresa lucrativa, mundialmente respeitada, à situação
crítica em que se encontra hoje, com a perda preocupante de seu valor de
mercado: caiu de aproximadamente R$ 500 bilhões para R$ 150 bilhões, ou seja,
para menos de um terço do que valia.
Até aqui, nós brasileiros atribuíamos esse desastre ao uso
eleitoral que Lula fez da empresa, obrigando-a a vender seus produtos por um
preço inferior ao que paga para importá-los. Até aí, o abuso se limitava a
prejudicar o desempenho da Petrobras em função de seus interesses partidários.
Mas o escândalo da compra da refinaria de Pasadena já é
outra coisa: envolve Lula, então presidente da República, e Dilma Rousseff,
chefe de sua Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobras
naquela época. Trata-se de uma inexplicável transação de que resultou um
prejuízo de milhões de dólares para a empresa brasileira.
Mas o problema não se limita a esse vultoso prejuízo, pois
foi agravado pelo modo como a coisa se deu. Como se não bastasse ter a
Petrobras pago US$ 360 milhões pela metade da refinaria que havia sido
comprada, um ano antes, por apenas US$ 42 milhões, ainda foi obrigada a
adquirir por US$ 680 milhões a outra metade, conforme a obrigava o contrato!
E Dilma, como presidente de Conselho, concordou com isso?
Diante do escândalo, ela soltou uma nota afirmando que aquelas cláusulas haviam
sido omitidas no contrato que lhe foi apresentado, do contrário, não teria
aprovado a compra. E puniu o suposto responsável, Nestor Cerveró, que lhe teria
apresentado o suposto documento, demitindo-o cargo de diretor internacional. O
curioso é que tudo isso já era conhecido desde 2012 e ninguém havia sido
punido.
No entanto, nossa surpresa não para aí. Após a nota da
presidente Dilma, admitindo a falcatrua, o ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, veio a público afirmar que a compra da refinaria de Pasadena foi feita
de acordo com as estritas normas administrativas, não tendo havido nenhuma
trapaça. Se isso é verdade, então a nota de Dilma é mentirosa e a demissão de
Cerveró, uma medida farsesca para ocultar a verdade. Afinal, qual dos dois está
mentindo?
A verdade é que a história da Petrobras, desde que caiu nas
mãos de Lula, tem sido desastrosa. Lembram-se da propalada iniciativa do
presidente Lula ao decidir construir, em Pernambuco, uma refinaria em sociedade
com presidente venezuelano Hugo Chávez? A tal refinaria Abreu e Lima, que
custaria US$ 2,5 bilhões, já está custando US$ 18 bilhões e ainda não funciona.
A Venezuela não entrou com um tostão que fosse.
Como se vê, pelo menos no que se refere a petróleo, o
estadista Lula é um fracasso. Sim, porque tem mais: ele também inventou de
comprar uma refinaria no Japão por US$ 71 milhões, mas, até agora, a Petrobras
já gastou US$ 200 milhões. A consequência de tudo isso é que, como seria
inevitável, a grande empresa brasileira vem se descapitalizando, chegando hoje,
na avaliação do mercado internacional, a menos de um terço do que valia antes
de ser entregue ao populismo petista.
Como se sabe, uma das características do populismo é usar
empresas do Estado como moeda de troca no jogo do poder. Nesse jogo, entram
desde o presidente da República até vigaristas como Paulo Roberto Costa, preso
por lavagem de dinheiro.
E o pior é que a senadora Gleisi Hoffmann, do PT, até
recentemente ministra da Casa Civil de Dilma, teve a coragem de afirmar que a
finalidade da Petrobras é melhorar a vida do brasileiro pobre e não dar lucro,
pois isso só interessa aos acionistas. Ou seja, a Petrobras está no caminho
certo, falindo.
Fonte: Alerta Total
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*Ferreira Gullar é Poeta. Originalmente publicado na Folha
de S. Paulo em 14 de abril de 2014.
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