Coronel reformado Paulo Malhães, em depoimento para a
Comissão Nacional da Verdade, no Rio
(Pedro Kirilos/Agência O Globo)
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Guia de sepultamento não faz referência a suspeita de
sufocamento de Paulo Malhães, que admitiu prática de tortura durante a ditadura
A guia de sepultamento do coronel da reserva Paulo Malhães,
morto na última quarta-feira, aponta três razões como causa mortis: edema
pulmonar, isquemia de miocárdio e miocardiopatia hipertrófica. O documento não
faz referência a suspeita de sufocamento, uma das hipóteses levantadas pela
polícia. Paulo Malhães — coronel da reserva que confessou ter participado de
torturas durante a ditadura militar — será enterrado neste sábado, às 15h, no
cemitério de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
A filha do ex-militar, Carla Malhães, de 51 anos, confirmou
que o pai tinha problemas cardíacos. Ela afirmou que o pai não havia relatado
ameaças e que, por ora, a família deixa a solução do caso nas mãos da polícia.
"Não estamos pensando nisso, estamos nos despedindo do nosso pai",
disse. "Para nós, ele era apenas um pai. Os demais é que o veem como o
coronel da ditadura."
A Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), que
investiga o caso, não descarta nenhuma das hipóteses para explicar o
assassinato: homicídio por motivo de vingança ou latrocínio (roubo seguido de
morte). A possibilidade de a morte ter relação com o depoimento de Malhães à
Comissão da Verdade, em março, também é investigada. Na ocasião, ele afirmou
ter participado de torturas, assassinatos e desaparecimentos de militantes
políticos, inclusive do sumiço dos restos mortais do deputado Rubens Paiva,
desaparecido em 1971. Ele também deu detalhes sobre o funcionamento da Casa da
Morte de Petrópolis, na Região Serrana fluminense, um centro clandestino de
tortura e homicídios mantido pelo Centro de Informações do Exército (CIE).
De acordo com a DHBF, agentes estão nas ruas realizando
diligências. Os policiais buscam câmeras que possam ter registrado imagens dos
bandidos fuga. Segundo o delegado Wilian Medeiros, testemunhas estão sendo
ouvidas na especializada. Medeiros disse, no entanto, que não divulgará outras
informações para não atrapalhar o andamento das investigações.
Histórico – Na tarde da última quinta-feira, três homens
invadiram o sítio de Malhães e fizeram de reféns por nove horas ele, a mulher,
Cristina Batista Malhães, e o caseiro, Rogério. Os criminosos levaram dois
computadores, pelos menos três armas antigas colecionadas pelo ex-militar, um
aparelho de som, joias e cerca de 700 reais em dinheiro.
Malhães foi mantido em seu próprio quarto, onde
foi encontrado morto, supostamente por asfixia. O corpo estava de bruços, com o
rosto contra um travesseiro e apresentava sinais de cianose — características
de sufocamento. Os criminosos amarraram Rogério e Cristina e foram embora
depois do crime.
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