domingo, 8 de março de 2015

VAMOS À GUERRA!

Por Gen Ex R1 Rômulo Bini Pereira

Nos conflitos da humanidade, historicamente, a pior e mais sangrenta guerra é aquela entre irmãos. Ela deixa marcas indeléveis que impactam as populações dos países onde ocorre. A Guerra da Secessão nos Estados Unidos e a Guerra Civil Espanhola bem demonstram os reflexos desses conflitos até os nossos dias. Em nosso país as lutas fratricidas das décadas de 60 e 70 deixaram sequelas que impedem uma efetiva reconciliação e que ainda perturbam o atual cenário político.Em manifestações sindicalistas na cidade do Rio de Janeiro o brado de "Vamos à guerra!" foi ouvido. O seu autor foi o ex-presidente Lula e para muitos um ato surpreendente e irresponsável para quem conduziu os destinos deste país por oito anos. De alto e bom som o ex-presidente pregou a necessidade de um posicionamento agressivo para salvar a nossa maior empresa — a Petrobras — que estaria sendo predatoriamente destruída por segmentos políticos oposicionistas. Acresceu ainda em suas palavras os costumeiros e preferidos chavões das esquerdas brasileiras, quanto a um possível golpe institucional em andamento e conduzido pelas "zelites”. Para se equiparar ao seu irmão Maduro, da Venezuela, faltou somente criticar o "Satã do Norte”, os americanos.

Nessa sua defesa ele empenharia o "exército do Stédile", os integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST) que, com manifestações em todo o país, poderiam até desestabilizar as instituições democráticas. As duas afirmativas do ex-presidente mais parecem um conto interminável dos que nos governam há mais de doze anos, ou uma fábula surgida de suas férteis imaginações. O povo brasileiro não quer a destruição da Petrobras, um símbolo nacional. Ao contrário, quer que todos corruptos que se apossaram da empresa no seu governo e da sua afilhada — a presidente Dilma — sejam julgados e condenados.

Não é compreensível que essas duas lideranças políticas não tenham tido conhecimento dos graves problemas que existiam na empresa. Os órgãos governamentais que lhes poderiam assessorar ou informar a respeito falharam em suas missões ou não foram ouvidos. O “Eu não sabia!”, a costumeira declaração desses mandatários já se tornou um bordão, e é motivo de ironias e piadas nas redes sociais.

A segunda proposta do ex-presidente — infeliz e semelhante às de agitadores de rua — é para incendiar o país com o "exercito do Stedile" em defesa da Petrobras e da democracia. Não se sabe se é a democracia vigente ou a democracia totalitária preconizada pelo "Fórum de São Paulo". É uma proposta no mínimo preocupante. O MST não é somente um movimento sindical que luta pela reforma agrária, a sua permanente fachada. Mas, ao se ler os seus manuais doutrinários, confirmados pelas palavras de seus líderes, conclui-se que o seu objetivo maior é a conquista do poder, se necessário com o uso da força. A revolução e o regime cubanos são os exemplos a serem seguido por esse movimento.

A recente visita dos líderes dos “campesinos venezuelanos”, ligados ao governo de Nicolas Maduro, bem identifica a postura ideológica das duas organizações, com uma marcante diferença. Os "campesinos” possuem armamentos e são considerados o braço armado do governo venezuelano. O MST, até onde se sabe, não possui armamentos letais.

Em todos os governos da Nova República, as Forças Armadas, particularmente o Exército, foram empregadas em missões de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). São missões que envolvem riscos significativos como as da força de pacificação nas favelas cariocas e greves de policias militares. Elas se caracterizam como uma medida adotada para se evitar um descrédito e aviltamento dos órgãos governamentais, principalmente dos Estados. Ano a ano este emprego vem crescendo, não só em números de ações, mas, também na sua vigência, caracterizando-se como se diz no jargão militar, a “ultima ratio regis", expressão latina que evoca o derradeiro argumento dos governantes.

Manifestações de movimentos sociais — tais como as de cunho radical ocorridas em meados de 2013 e agora essa convocação do "exército de Stedile” — são verdadeiros fomentos para um real embate de forças e não de ideias. Iniciada por essa nova visão sectária do ex-presidente Lula, uma confrontação em um ambiente conturbado e acéfalo pelo qual passa o Brasil, sem dúvida, poderá nos conduzir a situações extremas. Novamente as Forças Armadas serão chamadas a intervir e não poderão deixar de cumprir o que preconiza o artigo 142 da Constituição Federal.

Os novos comandantes das Forças, que gozam de alto conceito entre seus pares e subordinados, certamente, não se calarão como seus antecessores que adotaram uma postura de silêncio obsequioso. Ela nos impingiu a ignominiosa acusação a chefes militares, como Castelo Branco, Eduardo Gomes, Maximiano e tantos outros, que tiveram suas vidas de integridade e honradez enxovalhadas pela Comissão Nacional da Verdade. Não houve sequer uma nota de repúdio desses antigos comandantes.

As Forças Armadas fazem parte da sociedade brasileira que lhe concedeu o maior índice de credibilidade entre nossas instituições, inclusive superior às religiosas. Elas não podem ser alijadas das grandes decisões nacionais. As suas análises, estudos e pareceres deverão ser obrigatoriamente ouvidos e considerados. Quem quer o seu silêncio são as instituições comprometidas com ideologias retrógradas e objetivos nebulosos como o Fórum de São Paulo. Esta participação não é um ato de indisciplina nem de arroubos golpistas. É um ato democrático de quem preza sobremaneira a paz e ordem.

Entretanto, vale um alerta. Riscos ao nosso sistema democrático vigente, mesmo aqueles de caráter sub-reptício, vindos de partidos políticos ou de quaisquer outras organizações, serão combatidos. Com base em nossa experiência e sem sermos presunçosos, reafirmamos que nossas Forças Armadas estarão à frente daqueles que enfrentarem as ameaças sem pronunciar bravatas, como essa abominável "VAMOS À GUERRA"!


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