quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O debate na Band: Aécio Neves foi o melhor no show de horrores

 
Terminou agora há pouco o primeiro debate entre os candidatos à presidência, organizado pela TV Bandeirantes. A verdade foi a primeira sacrificada, como de praxe. A língua portuguesa a segunda, em época na qual “nóis pega o peixe” passou a ser aceito como “apenas diferente”, e não mais algo incorreto. Marina Silva não quer que a conquista do tripé macroeconômico se “perda” (sic), o Pastor Everaldo quer que algo “seje” (sic) destacado, e por aí vai.

Mas se a forma fosse o principal ponto fraco, até dava para relevar. O problema é mesmo de conteúdo. Poucas propostas decentes, muita enrolação, fuga pela tangente, dados infundados e promessas vazias. Um espetáculo desprovido de essência, de solidez, de argumentos e propostas efetivas. Perde a democracia, ou talvez seja esta a democracia possível para nosso Brasil de hoje – quero crer que não. Abaixo, um rápido resumo de minha visão por candidato:

Aécio Neves

Foi o que se saiu melhor, sem dúvida. Manteve a postura e a calma, conseguiu colocar Dilma contra a parede em alguns momentos, como no caso da Petrobras, em que lembrou da perda de mais da metade do seu valor nos últimos anos e da transferência do noticiário econômico para o policial, com tantos escândalos e um diretor importante preso. Perguntou se a presidente não gostaria de aproveitar a oportunidade para pedir desculpas pela gestão temerária, o que foi um tiro certeiro. Não fugiu do legado positivo de FHC, das privatizações, como fizeram Alckmin e Serra antes. Soube explorar no final a diferença da equipe técnica, a experiência de Armínio Fraga, contra eventuais “aventuras” ou o “mais do mesmo”, que seria caótico. Teve uma tirada excelente ao dizer que “o sonho de todo brasileiro é viver no Brasil da propaganda do PT”. Só faltou emendar que o sonho da cúpula do PT é mais prosaico: sair da prisão! Pecou pela pusilanimidade ao não explorar melhor o Decreto 8.243, de viés bolivariano, preferindo falar em “preservar a separação dos poderes constitucionais”, em vez de mastigar melhor a mensagem e lembrar que representa o caminho da Venezuela, que o ex-presidente Lula considera viver em “excesso de democracia”. Poderia ter marcado ponto ao defender uma redução da maioridade penal logo de cara, o que não fez. E precisa maneirar nos termos para não reforçar a imagem de elitista. Falar coisas como “avilta” e “estertores” é música para nossos ouvidos, bem machucados pelos demais, mas não quer dizer patavina para um público mais simples. Dito isso tudo, é realmente assustador ver a (falta de) qualidade dos demais e pensar que Aécio poderá nem mesmo estar no segundo turno, o que nos dá vontade de jogar a toalha em ato de desespero e abandonar nosso país (o que, para a tristeza dos golpistas, não faremos).

Dilma Rousseff

Tensa, nervosa, na defensiva, e incapaz de responder uma só pergunta de forma direta. Mas treinou antes as táticas de enrolar e fugir, ou de defender o indefensável. Tenta se comparar ao governo FHC ignorando que foi nele que a inflação começou a ser efetivamente derrotada e que parte da crise na época foi causada pelo próprio PT e o risco Lula. Joga a responsabilidade pela estagflação atual na crise externa. Essa terrível crise externa de que Dilma tanto fala é aquela que fez os demais países emergentes crescerem mais que o dobro do Brasil com menos da metade de inflação? Talvez tenha conseguido enganar alguns incautos, mas em geral se saiu mal e deve ter perdido mais alguns votos, ao menos aqueles que não foram comprados. Enfatizou a importância de um plebiscito popular para uma nova Constituinte, o que é clara tentativa de golpe para quem esteve mais atento nos últimos anos. Fugiu pela tangente quando apertada sobre a relação promíscua com a ditadura cubana. Chamou a atenção, também, o fato de que concentrou sua munição mais em Aécio, sendo que Marina acaba de sair como favorita no segundo turno em nova pesquisa do Ibope. Será que o PT não confia nessas pesquisas e acha que o alvo deve ser mesmo o tucano?

Marina Silva

Postura de Gandhi, de quem paira acima de todos, da disputa partidária, o que é muito irritante para quem não sonha em “salvar o planeta” só com uma bike e comendo alface. Soube explorar a comoção nacional bancando a “viúva” política de Eduardo Campos. Não conseguiu escapar de suas contradições, mas tampouco escorregou feio. Para seu público típico, diria até que foi bem, pois quem acende sempre uma vela para o Diabo e outra para Deus tem como alegar que defende tudo, ou que é contra tudo. Marina é a favor do agronegócio (agora) e da ecologia sustentável. Quer aproveitar o melhor do PT e do PSDB, mas é a resposta para quem não aguenta mais a polarização entre ambos (e finge não ter sido do PT pelos últimos 30 anos). Ganhou pontos com os moderados quando, rebatendo a uma pergunta de Luciana Genro, disse que não dá mais para defender a velha esquerda que se julga dona da verdade absoluta (resta saber se ela não se considera esquerda). Mas quando questionada sobre o programa Mais Médicos, acabou o defendendo, ainda que como “paliativo”. É essa a “nova política” de Marina? Um bolivarianismo paliativo?

Luciana Genro

Uma piada a candidata do PSOL! A velha esquerda caricata, que “acusa” até o PT de neoliberal, lembrando que seu “papai” é não só do PT, como da linha dura esquerdista. A candidata de Gregório Duvivier acha que todos os males do mundo são responsabilidade do tal Capital Financeiro, um monstro mais malvado do que Hitler, pelo visto, como disse jocosamente um amigo. Ela quer combater a inflação com o MST! Mostra intolerância às religiões, especialmente ao cristianismo. E parece crer que as grandes prioridades do país são legalizar todas as drogas, o aborto e garantir mais direitos aos gays e transsexuais. Enfim, o simples fato de alguém com tais “ideias” retiradas diretamente de um panfleto marxista de um século atrás ser candidata e ainda receber o apoio de artistas e “intelectuais” mostra o atraso de nossa política.

Pastor Everaldo

O discurso é bom, mas o mensageiro não convence. Como brincou um leitor, parece que ele aprendeu sobre liberalismo pelo Twitter uma semana atrás. Toca nos pontos certos, fala em estado mínimo, em menos Brasília e mais Brasil, em federalismo com descentralização de poder, em reduzir a maioridade penal e valorizar quem trabalha de verdade, em cortar ministérios, até em privatizar a Petrobras! Mas fica tudo meio solto, sem convencer de verdade, sem o devido embasamento. O discurso certo na pessoa errada.

Levy Fidelix

O mesmo vale aqui. Foi uma surpresa interessante no debate, pois era um dos mais desconhecidos. Tem um jeito engraçado, e resolveu “bombardear” Marina com uma pergunta. Quer privatizar até as prisões (o discurso liberal vai ganhando força finalmente), liberar armas em casa para legítima-defesa e reduzir a maioridade penal. Como o Pastor Everaldo, tem discurso interessante, mas na fonte errada.

Eduardo Jorge

O candidato pelo PV foi a sensação da noite, pelo aspecto pitoresco. Uma espécie de Tiririca entre os outros (Luciana Genro é concorrente de peso quando tenta falar a sério). Pessoas maldosas poderiam até dizer que ele consumiu alguma clorofila estragada ou que tinha alguma substância estranha em sua granola. O fato é que o homem parecia ter saído de um hospício, e não juntava muito o lé com o cré. Chegou a encurtar uma resposta a míseros dois segundos, abrindo mão de seus três minutos, quando sabemos que o tempo é precioso demais em debates. Talvez estivesse com pressa para alguma coisa, em abstinência de granola, com muita fome, não sabemos.


O resumo geral é que nossa democracia é mesmo dominada por amadores, malucos ou safados, e assusta, como já disse, o fato de que o candidato que se destaca em termos de postura e apresentação de ideias corra o risco de sequer chegar ao segundo turno. É de tirar nosso sono mesmo…

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