quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Lições da guerra em Gaza

Por Daniel Pipes

À medida que as operações israelenses contra o Hamas estão perdendo intensidade, apresento sete insights sobre o conflito que já dura um mês:

irondome
A Cúpula de Ferro em ação, protegendo israelenses.
Escudo antimísseis: O impressionante desempenho da Cúpula de Ferro, o sistema de proteção que derrubou praticamente todos os foguetes do Hamas que ameaçavam vidas ou propriedades, acarreta importantes implicações militares tanto para Israel quanto para o mundo. Seu sucesso sinaliza que a "Guerra nas Estrelas" (como os adversários apelidaram maliciosamente a Cúpula de Ferro quando da sua criação em 1983), pode realmente proporcionar proteção contra foguetes e mísseis de curto alcance e provavelmente de longo alcance mudando, potencialmente, o futuro das operações militares.

Túneis: O uso de túneis atrás das linhas inimigas não é uma tática nova, já teve sucesso, historicamente falando, como por exemplo na Batalha de Messines em 1917, quando minas britânicas mataram 10.000 soldados alemães. As Forças de Defesa de Israel (IDF) sabiam da existência dos túneis antes do início das hostilidades em 8 de julho, mas não avaliaram quantos eram, comprimento, profundidade, qualidade da construção e sofisticação eletrônica. Jerusalém percebeu rapidamente, segundo o Times of Israel, que a mesma supremacia de "Israel no ar, mar e terra não se dava no subsolo". Assim sendo, as Forças de Defesa de Israel (IDF) precisavam de mais tempo para atingir o domínio subterrâneo.

Consenso em Israel: A incessante barbárie do Hamas criou um raro consenso entre os judeus israelenses a favor da vitória. Essa quase unanimidade reforça a posição do governo quanto à maneira de lidar com as potências externas (o Primeiro Ministro Netanyahu alertou a administração dos EUA a nunca mais censurá-lo) e, é provável que ele leve mais para direita a política interna israelense, para o campo nacionalista.

Resposta do Oriente Médio: com exceção dos países que patrocinam o Hamas (Turquia, Catar, Irã), os terroristas islamistas não tiveram praticamente nenhum apoio governamental na região. Em um exemplo digno de nota, o rei saudita Abdullah se pronunciou a respeito da matança de moradores de Gaza pelo Hamas da seguinte maneira; "é vergonhoso e uma desgraça que esses terroristas estão (mutilando os corpos de inocentes e orgulhosamente divulgando suas ações) em nome da religião". Ele conhece muito bem seu inimigo mortal.

Nos bons tempos: Ismail Haniyeh (esquerda) e Khaled Meshaal 
(centro) do Hamas em Jidá com o rei saudita Abdullah em 2007.
Aumento do antissemitismo: Especialmente na Europa, mas também no Canadá e Austrália, o antissemitismo veio à tona, principalmente de palestinos e islamistas, bem como de seus aliados da extrema esquerda. Essa reação irá, provavelmente, aumentar a imigração de judeus para os dois refúgios da vida judaica, Israel e os Estados Unidos. Em contrapartida, os muçulmanos do Oriente Médio se mantiveram em silêncio, com exceção dos turcos e daqueles árabes que vivem sob controle israelense.

Reações da elite versus reações populares: Não é todo dia que o secretário geral das Nações Unidas e todos os 28 ministros da União Européia ficam do lado de Israel contra o inimigo árabe, mas aconteceu. No Congresso dos EUA, o Senado aprovou por unanimidade e a Câmara votou 395 a 8 em favor de um adicional de US$ 225 milhões para o programa Cúpula de Ferro. Por outro lado, entre o público em geral, o sentimento pró Israel caiu quase em toda parte, (não nos Estados Unidos). Como explicar tal disparidade? Meu palpite: Os líderes imaginam o que fariam se fossem deparados com foguetes e túneis inimigos, ao passo que o público se foca em fotografias de bebês mortos em Gaza.

Bebês mortos: O que nos leva para o mais complexo, surpreendente e estranho aspecto de todo o conflito. Pelo fato das Forças de Defesa de Israel (IDF) usufruirem de uma vantagem esmagadora sobre o Hamas no campo de batalha, o confronto se assemelha mais a uma operação policial do que a uma guerra. Consequentemente, os israelenses foram julgados principalmente pela objetividade das declarações públicas de seus líderes, uso criterioso da força e a forma de lidar com as evidências. Assim sendo, a atenção da mídia se afastou continuamente da esfera militar para as questões de proporcionalidade, moralidade e política. A maior arma estratégica do Hamas, em seu esforço de prejudicar a reputação de Israel e marginalizar o pais, não foram nem os foguetes nem os túneis e sim as lancinantes fotografias de civis mortos supostamente pelas Forças de Defesa de Israel (IDF).

O que resulta na situação bizarra em que o Hamas procura a destruição da propriedade palestina, obriga civis a sofrerem ferimentos e mortes, infla o número de vítimas e até mesmo pode atacar intencionalmente seu próprio território, enquanto as IDF sofrem fatalidades desnecessárias com o objetivo de poupar os palestinos. O governo israelense vai ainda mais longe fornecendo alimentos, assistência médica e envio de técnicos que se arriscam para certificar-se de que os habitantes de Gaza continuem desfrutando de energia elétrica gratuita.

Caminhões com alimentos, medicamentos e outros suprimentos indo de Israel para Gaza pela passagem de Kerem Shalom, durante as hostilidades.
É uma guerra muito estranha essa, em que o Hamas comemora o tormento palestino e Israel faz o possível para que a vida continue normalmente para seu inimigo. Realmente estranha, mas esta é a natureza da guerra moderna, onde artigos em jornais e revistas muitas vezes valem mais do que balas. Em termos Clausewitzianos, o centro de gravidade da guerra passou do campo de batalha para o das relações públicas.

Levando tudo isso em conta, as forças da moral e da civilização de Israel se saíram bem nesse confronto direto com a barbárie. Mas não o suficiente para evitar, por um tempo considerável, outro ataque.

Tradução: Joseph Skilnik

Publicado na National Review Online.
Original em inglês: Lessons of the War in Gaza




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O Sr. Pipes (DanielPipes.org) é o presidente do Middle East Forum. © 2014 por Daniel Pipes. Todos os direitos reservados.


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