Por Eliane Cantanhêde - Folha de São Paulo
BRASÍLIA - Os programas na TV mostram Dona Nalvinha de
dentes novos, humanizam Dilma e colorem Aécio como estadista e Marina como
salvadora da pátria. Mas tudo muda nos debates, a partir de hoje.A discussão é
quem, como e onde vai bater primeiro na intrusa Marina, que chegou atrasada,
por uma fatalidade, e já bagunçando o coreto. Dilmistas e aecistas estão loucos
para bater, mas morrem de medo.Marina, com seus 50 quilos, alimentação de
passarinho e um prontuário recheado de doenças nativas, está emergindo da
perplexidade geral e da dor particular com a morte de Eduardo Campos. Como
bater numa figura frágil assim?
Ocorre que Dilma e Aécio não têm como fugir disso. Marina é
competitiva, uma incógnita fantástica e um fantasma para a polaridade PT-PSDB.
Se os dois antes favoritos lavarem as mãos, correm o risco de acordar com
Marina disparada. Se bater, o bicho pega; se não, o bicho come.
Dilma vai desviar as baterias de Aécio para Marina, hoje a
ameaça principal. Com a economia crescendo 7,5%, Serra tinha em torno de 30% em
agosto de 2010. Com crescimento menor que 1%, Aécio só chega a 20% no mesmo mês
da campanha. Ou seja: ele se enclausurou nos votos tucanos. É bobagem Dilma
bater aí, porque são votos que não vão para ela e para o PT de jeito nenhum.
Aécio vai ter de bater no mau governo de Dilma e nos
desmandos do PT, mas sem deixar Marina correndo solta rumo ao segundo turno. E
Marina pode bater em quem quiser, mas o problema dela não é só mostrar o que há
de ruim nos outros, mas o que há de bom nela além dos sonhos.
Até aqui, Dilma e Aécio questionam a capacidade executiva de
Marina e a ausência de quadros suficientes do PSB e da Rede, tanto para compor
um eventual governo quanto para cumprir a promessa de combater a síndrome do
vitorioso no Brasil: a dependência do que há de pior na política para ter
maioria no Congresso.
Fonte: A Verdade Sufocada
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