Caetano Veloso fantasiado de black bloc: imagem inesquecível
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Na democracia, decisão da Justiça, a gente respeita, mas
discute, sim. Ou existiria uma espécie de tirania do Judiciário, não é? E é
evidente que ninguém quer isso. Assim, debato aqui a escolha e ponho em questão
os critérios do desembargador Siro Darlan, da 7ª Câmara Criminal do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro. Ele concedeu habeas corpus às 23 pessoas que tiveram
prisão preventiva decretada em razão de atos violentos praticados nas
manifestações do Rio de Janeiro.
À reportagem de VEJA.com, como se lê no post anterior,
doutor Darlan confessou não ter lido o processo na íntegra (eu também não,
claro!), mas ter-se baseado em informações fornecidas pelo juiz Flávio
Itabaiana Nicolau, que havia decretado as prisões. Assim, onde um viu motivos
para mandar prender, o outro viu motivos para mandar soltar.
Sei o que veio a público até agora. As gravações me parecem
muito eloquentes, bem como os elos entre os acusados. O desembargador optou
pela liberdade com medidas cautelares: entrega de passaportes em 24 horas,
comparecimento mensal à 27ª Vara Criminal da Capital do Rio, proibição de sair
da cidade sem prévia autorização da Justiça.
Vamos lá.
Hoje em dia, vocês sabem, quase todo mundo está nas redes
sociais. Eu também — embora só use o Twitter e o Facebook para reproduzir
trechos e links dos meus textos. Leio que doutor Darlan, pouco antes de tomar a
sua decisão, resolveu fundir Lupicínio Rodrigues, que foi resgatado por Caetano
Veloso, com o Hino da Proclamação da República, cuja letra é de Medeiros e
Albuquerque, e mandou ver no “Face”: “O pensamento parece uma coisa à-toa, mas
como é que a gente voa quando começa a pensar” (Lupicínio), emendando
“Liberdade! Liberdade! Abra as Asas sobre Nós!”.
Então… Parece ser, assim, uma mensagem carregada de
simbolismos, não é? Fica a sugestão de um desembargador libertário contra, sei
lá, a fúria punitiva do estado talvez…
Parece-me um falso paradoxo. Mas como deixar de apontar o que segue?
Caetano é aquele cantor que se deixou fotografar com um pano
preto na cabeça, imitando a, como dizem, “estética black bloc”. As “asas da
liberdade que se abrem sobre nós” é uma referência ao Hino da Proclamação da
República, que também já virou samba-enredo de escola de samba. Não sei qual
dos dois o doutor citava…
Se há coisa que os black blocs não respeitam é o fundamento
da “Res Publica”, da “coisa pública”. Por isso saem quebrando tudo por aí,
sejam bens coletivos, sejam bens particulares. Por fragmentos de entrevistas
que concedem — eles próprios ou seus defensores —, nota-se que têm uma
concepção muito particular de democracia, que despreza os valores consagrados
pela maioria da população, que entende que o respeito à lei e à ordem
democrática é um pressuposto básico das liberdades públicas e individuais.
O desembargador tomou a sua decisão. Eu lamento
que assim seja. E, a meu ver, os valores democráticos também.
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