Eu sempre espero as piores coisas do Ministério das Relações
Exteriores do Brasil. E não foi diferente desta vez. O Itamaraty, sob o comando
do ministro Luiz Alberto Figueiredo, emitiu uma das notas mais intelectualmente
delinquentes da sua história — no caso, sobre o conflito israelo-palestino. Eu
a reproduzo em vermelho e comento em seguida.
O Governo brasileiro considera inaceitável a escalada da
violência entre Israel e Palestina. Condenamos energicamente o uso
desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza, do qual resultou elevado
número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças.
O Governo brasileiro reitera seu chamado a um imediato
cessar-fogo entre as partes.
Diante da gravidade da situação, o Governo brasileiro votou
favoravelmente a resolução do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas
sobre o tema, adotada no dia de hoje.
Além disso, o Embaixador do Brasil em Tel Aviv foi chamado a
Brasília para consultas.
Retomo
Em linguagem diplomática, “chamar um embaixador para
consultas” implica uma espécie de agravo ao país no qual está a representação
brasileira. Com isso, o Brasil envia uma mensagem desnecessariamente hostil a
Israel.
Observem que o texto defende um cessar-fogo entre as partes,
mas se refere apenas à reação israelense, considerada “desproporcional”, sem
nem mesmo uma menção aos foguetes disparados pelo Hamas. Há até uma questão de
lógica: para um cessar-fogo, é preciso que haja… troca de fogo! Tem-se a impressão
de que Israel não é o estado originalmente agredido.
A votação no Conselho de Direitos Humanos na ONU, que, mais
uma vez, joga a responsabilidade exclusivamente nas costas de Israel, é uma
farsa. É um acinte que a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi
Pillay, fale em possíveis “crimes de guerra” de Israel sem mencionar o fato de
o Hamas recorrer a escudos humanos.
É um escárnio que o governo brasileiro seja mais duro com
Israel do que, por exemplo, com o carniceiro Bashar Al Assad, da Síria. Só para
arrematar: em 2006, na gestão Lula, com Celso Amorim à frente do Itamaraty, o
Brasil se absteve de uma resolução condenando o governo do ditador Omar
al-Bashir, do Sudão, pelo massacre de pelos menos 500 mil cristãos em Darfur.
Para o governo petista, Assad e Bashir são caras batutas.
Quem merece condenação é o estado de Israel, que já recebeu uns 2 mil foguetes
do Hamas em 15 dias.
O histórico da hostilidade dos governos petistas
com Israel está relacionado, num primeiro momento, ao antiamericanismo bronco
dos companheiros: se os EUA apoiam os israelenses, então os nossos brucutus
vermelhos vão se opor. No caso, no entanto, a omissão aos ataques do Hamas é
tão acintosa que cabe indagar se não há em nota tão delinquente um componente
antissemita.
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