Ah, Dilma
Rousseff, Dilma Rousseff… Vou comentar aqui ao menos três momentos da
sabatina a que se submeteu a presidente, nesta segunda, promovida pela Jovem
Pan, pela Folha e pelo SBT. Os meus destaques são um pouquinho diferentes dos
que estão por aí. Vamos lá.
A presidente foi indagada sobre a tal cartinha enviada pelo
Santander a um grupo de clientes afirmando que a sua ascensão ou estabilização
nas pesquisas eleitorais provocariam uma deterioração dos índices econômicos.
Dilma chamou a atenção para a suposta gravidade do fato — e não há nenhuma — e
disse que o governo não pode aceitar esse tipo de interferência. Ficou no ar a
sugestão de que uma instituição estrangeira tentou se meter nos assuntos
nacionais. Alguém chegou a indagar, ridiculamente, se a presidente pretenderia
processar o banco. Ela não descartou de maneira peremptória a hipótese absurda.
Até parece que isso seria possível!
Em primeiro lugar, não houve interferência de ninguém em
coisa nenhuma. O Santander estava falando com os seus clientes. Mais: não há
distinção entre empresa nacional e estrangeira, banco ou não. Processo? Os
bancos funcionam mediante uma carta de concessão, que pode ser cassada. Por que
Dilma não diz que lei o Santander desrespeitou?
Segundo momento
O segundo momento, que beirou o patético, avançando para o
involuntariamente cínico, diz respeito ao dinheiro que ela confessou guardar no
colchão: R$ 152 mil. Em 2010, eram R$ 113 mil. Os jornalistas tentaram saber
por quê. Ela evocou os tempos de clandestinidade, quando ter bens, digamos,
carregáveis, poderia ser até uma questão de sobrevivência. Ninguém, obviamente,
entendeu nada. Disse ainda que dá dinheiro à sua filha. Huuummm… E se aplicasse
a grana no… Santander?
Um dos jornalistas lembrou que, investido, esse dinheiro
renderia R$ 10 mil num ano. Dilma, então, mandou ver: “O que é (sic) R$ 10
mil?”. Percebeu a mancada e tentou se corrigir: “R$ 10 mil são muito; eu não
jogo fora nenhum dinheiro”. Como se nota, joga!
A memória histórica agora entra quase como piada, mas é
óbvia. Dilma, sob o codinome Estella, foi a mentora de um roubo milionário. Em
julho de 1969, três carros com 11 guerrilheiros da VAR-Palmares estacionam em
frente à casa no bairro carioca de Santa Teresa, onde morava um irmão de Ana
Capriglioni, notória amante do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros.
Lá, executando uma operação minuciosamente planejada por “Estella”, que não
tomou parte na ação, a VAR-Palmares roubou um cofre de chumbo pesando 300 kg,
recheado com uma bolada de US$ 2,16 milhões.
Pouco tempo depois, a VAR-Palmares se desintegra, por
desentendimentos entre “Estella” e Carlos Lamarca. A maior parte do grupo
seguiu a agora presidente — na época, Cláudio, seu primeiro marido, partira
para Cuba a bordo de um avião sequestrado, e Dilma já se enamorava de Carlos, o
gaúcho da VAR-Palmares — com quem veio a se casar e com quem teve Paula, a
única filha, hoje procuradora do Trabalho em Porto Alegre — de quem se separou
já depois da redemocratização.
Parte do dinheiro — US$ 1 milhão — teria sido doada aos
rebeldes argelinos. O resto teria sido usado para financiar a guerrilha. Seja
como for, uma das guardiãs da grana era… Dilma! Virá daí a sua fixação por
dinheiro em moeda sonante?
Mensalão
O terceiro momento grotesco da presidente diz respeito aos
mensalões petista e mineiro. Ela acusou tratamento desigual dispensado aos
respectivos: “dois pesos e umas 19 medidas”. Bem, trata-se apenas de uma
mentira. O mensalão mineiro ainda não chegou ao estágio do julgamento porque
foi admitido pela Justiça bem depois do petista. Não há condescendência nenhuma
da Justiça, do Ministério Público ou da imprensa! Muito pelo contrário.
Insiste-se em dar tratamento igual ao que é desigual. No caso de Minas, sim,
tratou-se, tudo indica, de caixa dois, mas não da compra de parlamentares, que
é o aspecto mais grave da malandragem petista.
De resto, não ficou claro a quem Dilma estava se referindo.
Sim, ela é candidata à reeleição. E isso evidencia que é presidente e que na
Presidência está. Aliás, só fez sabatina em condições especiais — no Palácio da
Alvorada e sem público — por isso. Não cabe à chefe do Executivo fazer
considerações que sugiram que a Justiça age de modo partidário e
discricionário, o que também é falso.
A sabatina demonstrou que, no seu quarto ano de governo,
Dilma continua sem ter o que dizer. E olhem que ela contou com interlocutores
bastante brandos.
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