quarta-feira, 4 de junho de 2014

A moral e os revolucionários

Por Eduardo Britto*

che-guevara_redUma das mais marcantes características da mentalidade revolucionária é o total desprezo pelo conjunto de valores que norteiam a conduta da maioria dos indivíduos. Enquanto um cidadão médio é guiado por um padrão moral consolidado na sociedade, o revolucionário entende que esse padrão é uma mera formalidade do sistema, não passando de um instrumento de opressão e manutenção do status quo e que, portanto, deve ser destruído em sua integralidade.

Para o revolucionário, a honestidade, a bondade ou a empatia nada valem se não se converterem em reconhecimento pelo seu movimento. Por exemplo, para alguém do movimento feminista, gayzista ou abortista (e aí se incluem também os idiotas úteis nesses meios), buscar atingir uma conduta que tenha como orientador algum valor moral elevado não tem a mínima importância se o seu grupo não lhe der reconhecimento e valorização por suas ações. O sujeito pode se valer de uma desonestidade intelectual repugnante, distorcendo fatos e atacando da forma mais baixa os seus adversários, mas se o grupo do qual faz parte lhe prestigiar por isso, sua missão estará cumprida e sua consciência tranquila.

A busca constante pelo reconhecimento do movimento revolucionário como um todo faz com que seus seguidores abdiquem da prática do bem e da nobreza de suas atitudes, substituindo-as por uma posição de respeito dentro de seu grupo ou partido. É como se a fidelidade a preceitos ideológico-partidários fosse uma virtude em si mesma; a virtude maior e única.

Podemos ver isso com muita clareza no caso do mensalão, em que os criminosos José Genoíno e José Dirceu foram saudados como verdadeiros santos pela cúpula e pela militância petista. Como diz o filósofo Olavo de Carvalho, é o “desejo de enobrecer-se e beatificar-se pela prática do mal, transfigurada em virtude partidária”.

Ademais, se o revolucionário considera que o sistema vigente está corrompido e deve ser derrubado, nada mais eficiente do que se empenhar em corroer as bases do sistema, as quais consistem exatamente nos princípios morais que orientam nossas ações. A partir do momento em que esses princípios são descartados, começam a imperar a confusão mental, o caos e o mal.

Tendo em mente que o revolucionário não se pauta pelo mesmo conjunto de valores das pessoas comuns, não se pode esperar dele coerência e, muito menos, escrúpulos. Ele tem pleno conhecimento da prudência e da moralidade presente na consciência de seus adversários e faz disso uma poderosa arma de ataque e conquista de espaço. Ele pode não ter virtude moral alguma, mas imputa a seus adversários violações ao padrão moral que ele mesmo despreza. O revolucionário pode, sem conflito interno algum, acusar alguém de corrupção em um dado momento e, posteriormente, ou até simultaneamente, ser ele mesmo o corrupto. Na verdade, não é a conduta em si que ele considera reprovável ou não, mas sua finalidade.

Entender esse esquema de pensamento e ação é fundamental para que se ofereça uma resistência decente ao movimento revolucionário. Tentar vencê-lo na disputa cultural e política partindo do pressuposto de que ele é baseado no mesmo senso de respeito e razoabilidade de um adversário comum é o primeiro grande passo rumo ao abismo. Para que a democracia e a liberdade tenham alguma chance de resistir frente às táticas revolucionárias, é preciso aceitar o quanto antes que a batalha não acontecerá por métodos convencionais.




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*Eduardo Britto é graduando do curso de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

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