Por Eduardo Britto*
Uma das mais marcantes características da mentalidade
revolucionária é o total desprezo pelo conjunto de valores que norteiam a
conduta da maioria dos indivíduos. Enquanto um cidadão médio é guiado por um
padrão moral consolidado na sociedade, o revolucionário entende que esse padrão
é uma mera formalidade do sistema, não passando de um instrumento de opressão e
manutenção do status quo e que, portanto, deve ser destruído em sua
integralidade.
Para o revolucionário, a honestidade, a bondade ou a empatia
nada valem se não se converterem em reconhecimento pelo seu movimento. Por
exemplo, para alguém do movimento feminista, gayzista ou abortista (e aí se
incluem também os idiotas úteis nesses meios), buscar atingir uma conduta que
tenha como orientador algum valor moral elevado não tem a mínima importância se
o seu grupo não lhe der reconhecimento e valorização por suas ações. O sujeito
pode se valer de uma desonestidade intelectual repugnante, distorcendo fatos e
atacando da forma mais baixa os seus adversários, mas se o grupo do qual faz
parte lhe prestigiar por isso, sua missão estará cumprida e sua consciência
tranquila.
A busca constante pelo reconhecimento do movimento
revolucionário como um todo faz com que seus seguidores abdiquem da prática do
bem e da nobreza de suas atitudes, substituindo-as por uma posição de respeito
dentro de seu grupo ou partido. É como se a fidelidade a preceitos
ideológico-partidários fosse uma virtude em si mesma; a virtude maior e única.
Podemos ver isso com muita clareza no caso do mensalão, em
que os criminosos José Genoíno e José Dirceu foram saudados como verdadeiros
santos pela cúpula e pela militância petista. Como diz o filósofo Olavo de
Carvalho, é o “desejo de enobrecer-se e beatificar-se pela prática do mal,
transfigurada em virtude partidária”.
Ademais, se o revolucionário considera que o sistema vigente
está corrompido e deve ser derrubado, nada mais eficiente do que se empenhar em
corroer as bases do sistema, as quais consistem exatamente nos princípios
morais que orientam nossas ações. A partir do momento em que esses princípios
são descartados, começam a imperar a confusão mental, o caos e o mal.
Tendo em mente que o revolucionário não se pauta pelo mesmo
conjunto de valores das pessoas comuns, não se pode esperar dele coerência e,
muito menos, escrúpulos. Ele tem pleno conhecimento da prudência e da
moralidade presente na consciência de seus adversários e faz disso uma poderosa
arma de ataque e conquista de espaço. Ele pode não ter virtude moral alguma,
mas imputa a seus adversários violações ao padrão moral que ele mesmo despreza.
O revolucionário pode, sem conflito interno algum, acusar alguém de corrupção
em um dado momento e, posteriormente, ou até simultaneamente, ser ele mesmo o
corrupto. Na verdade, não é a conduta em si que ele considera reprovável ou
não, mas sua finalidade.
Entender esse esquema de pensamento e ação é fundamental
para que se ofereça uma resistência decente ao movimento revolucionário. Tentar
vencê-lo na disputa cultural e política partindo do pressuposto de que ele é
baseado no mesmo senso de respeito e razoabilidade de um adversário comum é o
primeiro grande passo rumo ao abismo. Para que a democracia e a liberdade
tenham alguma chance de resistir frente às táticas revolucionárias, é preciso
aceitar o quanto antes que a batalha não acontecerá por métodos convencionais.
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*Eduardo Britto é graduando do curso de Direito da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ)
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