Leiam o que vai na VEJA.com. Volto ao assunto mais tarde.
Por Daniel Haidar, na VEJA.com:
Ao mapear o caminho percorrido pelos mais de 10 bilhões de
reais lavados pelo grupo comandado pelo doleiro Alberto Youssef, a operação
Lava Jato, da Polícia Federal, encontrou um duto que abastecia diretamente
políticos, partidos e campanhas eleitorais. Policiais e procuradores de Justiça
já sabem que, para manter a influência e garantir contratos para “amigos”, o
doleiro e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa,
destinavam grandes somas de dinheiro a autoridades. Um levantamento feito pelo
site de VEJA, a partir dos registros oficiais de doações de campanha, revela
que, de 2006 a 2012, as empresas e seus diretores agora investigados por
participação no esquema destinaram pelo menos 856 milhões de reais para
financiar candidaturas. O PT lidera com ampla vantagem o ranking de doações do
grupo, com 266,4 milhões de reais recebidos. Em seguida, estão PSDB (158,1
milhões), PMDB (149,8 milhões), PSB (70,7 milhões), DEM (43,9 milhões) e PP
(34,2 milhões).
A investigação começou a cruzar empresas, siglas, candidatos
beneficiados e contratos com a estatal. Um dos negócios esmiuçados pela
investigação é a construção da refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca, Pernambuco.
Costa e Youssef já viraram réus em processo por desvio de verbas da refinaria.
Dados bancários e fiscais obtidos pela polícia revelaram que o Consórcio
Nacional Camargo Corrêa (CNCC), responsável pela construção do empreendimento,
pagou comissões para a subcontratada Sanko Sider. Parte do dinheiro, no
entanto, foi parar na MO Consultoria – uma das empresas de fachada do doleiro.
Pelo menos 26 milhões de reais foram desviados entre 2009 e 2013 para a firma
de Youssef. A Sanko Sider, que forneceria tubos para a obra, fez doações para o
PT pelo menos em 2006 – ano em que doou 6.000 reais para a campanha de Luiz
Inácio Lula da Silva à reeleição. Esta foi a única doação oficial registrada
pela empresa desde então.
Já se sabe também que outros doadores de campanhas, como
OAS, Galvão Engenharia, Jaraguá Equipamentos e Arcoenge depositaram recursos
diretamente em contas da MO Consultoria. Só a OAS repassou 1,6 milhão de reais
para a empresa de fachada, bem menos, no entanto, do que efetivamente registrou
em doações legais a campanhas políticas desde 2006 (131,3 milhão de reais).
Entre as empresas que Costa anotou como alvo de cobranças de
doações, a Andrade Gutierrez foi a que mais fez contribuições oficiais. De 2006
a 2012, o conglomerado distribuiu 189,5 milhões de reais a políticos e
partidos. Nesse período, PT, PMDB e PP ficaram com 53% do total doado. Na
gestão dele, um único contrato rendeu 958 milhões de reais para a construtora
Andrade Gutierrez, depois de prorrogações e aumentos de gastos com 45 aditivos.
O segundo maior doador oficial foi a Camargo Corrêa, que já
tem conexão identificada com o esquema de Youssef. O conglomerado doou 176,9
milhões de reais para campanhas desde 2006. Só em 2010 foram distribuídos 56
milhões de reais – dos quais metade ficou com PT, PMDB e PP. No total, em 2010,
o grupo financiou oficialmente 83 candidatos a deputado estadual, 70
candidaturas a deputado federal, 16 campanhas a governador e 25 candidatos a
senador. O deputado federal Eduardo Cunha, líder do PMDB e comandante dos
rebeldes na base do governo, levou sozinho 500.000 reais para sua candidatura
naquele ano.
A Polícia Federal suspeita que o ex-diretor da Petrobras
agia para abastecer o caixa de políticos mesmo após deixar o cargo na estatal,
que ocupou de 2004 a 2012. Em um caderno, ele tinha anotado nomes de sócios e
executivos de fornecedores da estatal e a situação de cada cobrança. Aparecem
nessa lista empresas como a Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, UTC Engenharia,
Engevix, Iesa, Hope e Toyo Setal. Em 2010, Paulo Roberto Costa fez, como pessoa
física, uma doação de 10.000 reais ao Comitê Financeiro Único do PT no Rio de
Janeiro.
Caixa dois
Investigadores desconfiam que os recursos angariados pelo
doleiro e pelo ex-diretor da Petrobras tenham sido destinados ao caixa dois de
partidos. Pelo endereço de email paulogoia@hotmail.com, Youssef indicou em 17
de agosto de 2010 uma conta bancária para que Othon Zanoide de Moraes Filho,
diretor da construtora Queiroz Galvão, depositasse uma série de valores para
políticos e diretórios. Uma parte da lista bate com os registros do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). Youssef cobrou 500.000 reais para o PP da Bahia;
250.000 reais para o deputado federal Roberto Teixeira (PP); 500.000 reais para
o deputado federal Nelson Meurer (PP); 100.000 reais para o deputado federal
Roberto Britto (PP); e 100.000 para o ex-deputado federal Pedro Henry (PP), um
dos condenados no escândalo do mensalão. Na Justiça Eleitoral, estes são
exatamente os valores doados pelo grupo Queiroz Galvão.
Há outras cobranças, no entanto, com valores divergentes
entre o que foi proposto pelo doleiro e efetivamente registrado – o que reforça
a tese de que havia também um esquema de caixa dois operado por Youssef. No
caso do diretório Nacional do PP, a cobrança era de 2.540.000 reais, mas foram
registrados 2.740.000. Há outros valores que, nos registros do TSE, são
superiores aos do email enviado pelo doleiro, como o pedido de 250.000 reais
para a deputada federal Aline Corrêa (PP), que recebeu oficialmente da empresa
350.000. Já para o PP de Pernambuco, a cobrança era de 100.000, mas foram doados
formalmente 1.640.000.
Youssef também fez contato com Cristian Silva da Jaraguá
Equipamentos para cobrar dados e emitir recibos de doações. De acordo com os
registros do TSE, a Jaraguá doou 250.000 reais para o deputado federal Roberto
Teixeira (PP), 250.000 reais para a deputada federal Aline Corrêa (PP), 100.000
reais para o deputado federal Pedro Henry (PP) e 50.000 reais para o deputado
federal Roberto Britto (PP). Mas a operação Lava Jato constatou, com base em
dados bancários e fiscais oficiais, que a Jaraguá fez depósitos em contas da MO
Consultoria, de Youssef. A empresa pagou 1,94 milhão de reais. A polícia
desconfia que esse valor foi distribuído como propina para o esquema de Youssef
e Costa.
Até o momento, apenas o deputado federal André Vargas
(ex-PT), amigo de Youssef, foi diretamente atingido pelas revelações da
operação Lava Jato. A Polícia Federal suspeita que o doleiro e o deputado eram
sócios em operações, mas o retorno financeiro auferido pelo parlamentar ainda é
desconhecido. O Comitê Financeiro Único do PT no Paraná recebeu, na campanha de
2010, pelo menos 1,6 milhão de reais de fornecedores da estatal que aparecem
entre os contatos do esquema. Essas empresas garantiram mais da metade da
arrecadação do comitê paranaense petista e esse órgão partidário injetou cerca
de 20 mil reais na campanha de Vargas. O deputado teve de renunciar à
vice-presidência da Câmara e se desfiliar ao PT para minimizar os danos ao
partido. Pode também ter o mandato cassado pelo Conselho de Ética da Câmara dos
Deputados, porque há indícios de que ele ajudou a Labogen, um laboratório de
fachada de Youssef, na assinatura de um contrato milionário com o governo
federal. O Supremo Tribunal Federal (STF) vai decidir se o envolvimento de
Vargas com o doleiro deve ser investigado no âmbito criminal.
A atuação de Vargas para favorecer o doleiro no Ministério
da Saúde respingou no ex-ministro Alexandre Padilha, pré-candidato petista ao
governo de São Paulo. Subordinados de Padilha assinaram o convênio que
permitiria ao laboratório de Youssef faturar até 31 milhões de reais. A
operação Lava Jato revelou também que Vargas recebeu a indicação de um
ex-assessor de Padilha para ser contratado como lobista da Labogen em Brasília.
Em conversa com o doleiro, o deputado federal diz que a indicação para o posto
partiu do ex-ministro da Saúde. E Youssef falava a interlocutores como se
tivesse capacidade de influenciar a nomeação de cargos em eventual governo de
Padilha, como revelou o site de VEJA.
Nos palanques de candidaturas a governos estaduais, os
estragos da Lava Jato trazem mais riscos ao PT. Também no Paraná os nervos dos
petistas estão à flor da pele. Vargas era cotado para chefiar a campanha da
senadora Gleisi Hoffman ao governo paranaense. Ela também faz parte da bancada
que recebeu recursos de fornecedores suspeitos de contribuir em doações
intermediadas por Costa e Youssef. Oficialmente, Gleisi foi a candidata ao
Senado que mais recebeu recursos da Camargo Corrêa, com 1 milhão de reais
embolsados na última eleição. Conseguiu ainda doações de outras empreiteiras na
lista de Costa. A UTC Engenharia deu 250.000 reais para a campanha da senadora
e a OAS repassou 780.000 reais. Angariou ainda 100.000 reais da Contax, uma
coligada da Andrade Gutierrez, para sua candidatura.
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