Documentos confidenciais da Petrobrás obtidos pelo Estado
indicam que a estatal pretendia incluir um sócio na compra da refinaria de
Pasadena, no Texas (EUA), com o objetivo de "camuflar" a extensão da
transação em solo estrangeiro e evitar uma contradição com o discurso
nacionalista do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação aos
negócios da estatal. O texto não menciona se a entrada de um parceiro - a
japonesa Mitsui & Co. - na operação seria economicamente vantajosa para a
empresa brasileira.
O texto de 11 páginas foi assinado por Luis Carlos Moreira
da Silva, gerente executivo internacional de Desenvolvimento de Negócios da
Petrobrás. O documento data de 2005, um ano antes da efetivação da compra da
primeira metade de Pasadena pela estatal brasileira, e é tratado como
"confidencial". Procurada, a Petrobrás disse que não comentará o
assunto.
"A participação da Mitsui nesta aquisição, ou outro
sócio financeiro, visa reduzir a exposição política da Petrobrás com a
aquisição de ativos de refino no exterior, enquanto existe um apelo interno para
a construção de novas refinarias do Brasil", diz o documento.
De acordo com a exposição realizada pela Diretoria
Internacional da estatal, independentemente de ser ou não mais vantajoso para a
Petrobrás dividir a compra da refinaria com um sócio, essa condição era vista
como fundamental sob o ponto de vista político.
Em 2002, o então candidato do PT começou sua campanha à
Presidência criticando a gestão da Petrobrás, na época sob comando do PSDB, por
fazer encomendas de petroleiros e plataformas a estaleiros estrangeiros. Lula
citou uma concorrência para construção de um navio em Cingapura e prometeu que,
em seu governo, daria preferência a investimentos e encomendas da Petrobrás em
solo brasileiro.
Na campanha seguinte, quando a Petrobrás comprou a
participação em Pasadena com base em um plano de investimentos elaborado desde
a gestão tucana, o então presidente candidato à reeleição atacou a oposição
dizendo que o PSDB privatizaria a Petrobrás.
Oferta. Os executivos da Petrobrás ofereceram a parceria à
Mitsui em julho de 2005, quando a ideia era adquirir 70% das ações de Pasadena.
Os japoneses enviaram uma carta demonstrando interesse em participar do
negócio. No documento, ao qual o Estado também teve acesso, a Mitsui disse que
já haviam "firmado parcerias anteriores com a Petrobrás envolvendo valores
que passaram dos US$ 5 bilhões".
A parceria não avançou porque a Astra Oil, dona de 100% da
refinaria texana, concordou em vender apenas 50% de sua participação. Foi essa
a cota comprada pela Petrobrás em 2006, operação que, seis anos depois, se
completou com a compra da metade restante, ao custo total de US$ 1,18 bilhão.
No último dia 15, em audiência no Senado, a atual presidente da estatal, Graça
Foster, reconheceu que a compra "não foi um bom negócio".
A própria presidente Dilma Rousseff, em resposta à
reportagem do Estado em março, afirmou que só aprovou a compra de 50% de
Pasadena em 2006, quando era ministra da Casa Civil e comandava o Conselho de
Administração da Petrobrás, por ter recebido um resumo técnico
"falho" e "incompleto".
A aquisição da refinaria é investigada por Polícia Federal,
Tribunal de Contas da União (TCU), Ministério Público e Congresso por suspeita
de superfaturamento e evasão de divisas. O conselho da Petrobrás autorizou, com
apoio de Dilma, a compra de 50% da refinaria e de estoques de petróleo por US$
360 milhões. Posteriormente, por causa de cláusulas do contrato, ela foi
obrigada a ficar com 100% da unidade, após longa disputa judicial.
Apesar de não ter vingado a sociedade com a Petrobrás em
Pasadena, a Mitsui mantém outros negócios com estatais brasileiras no País. Os
japoneses atuam nas obras da Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, cujo custo
passou de R$ 9 bilhões para R$ 17,4 bilhões. Nesse consórcio, a Mitsui é sócia
da GDF Suez e das estatais Chesf e Eletrosul, do Grupo Eletrobrás. (Estadão)
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