O gasto da Petrobras com a refinaria de Pasadena, no Texas,
chega a US$ 1,934 bilhão, se somados todos os valores mencionados por gestores
da estatal em apresentações internas obtidas pelo GLOBO. O montante equivale ao
custo da compra do empreendimento, de US$ 1,249 bilhão, mais as despesas para
manter o refino de petróleo numa unidade sucateada.
Em setembro de 2008, numa exposição de dados confidenciais à
diretoria executiva da empresa, técnicos informaram que os gastos com a
refinaria, até novembro daquele ano, somavam US$ 650 milhões, incluído o
montante desembolsado para a compra dos primeiros 50% do empreendimento, de US$
343 milhões. A segunda metade, depois de uma longa disputa judicial, saiu por
US$ 820,5 milhões.
Mais US$ 275 milhões deveriam ser gastos em
"sustentabilidade", entre 2009 e 2013, "qualquer que seja o
cenário de continuidade da refinaria", conforme uma apresentação elaborada
pela Petrobras America, subsidiária da estatal. O total de gastos atingiria,
portanto, pelo menos US$ 1,74 bilhão. No entanto, dados repassados ao GLOBO
pela própria Petrobras revelam que a conta total com a compra de Pasadena - que
a estatal já admite ter sido um mau negócio - chega a US$ 1,934 bilhão.
A conclusão da compra da refinaria no Texas ocorreu após o
fim da sociedade com a companhia belga Astra Oil. O valor final, de US$ 1,25
bilhão, passou a ser investigado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público,
pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Controladoria Geral da União
(CGU). O que os novos documentos revelam são a continuidade e a extensão desses
gastos, em razão das péssimas condições da refinaria adquirida pela estatal.
Desembolsos em segurança e meio ambiente
Durante todo o processo de aquisição e após a compra
definitiva, em 2012, a empresa precisou continuar a fazer vultosos desembolsos
em equipamentos de segurança, proteção do meio ambiente, melhoria da confiabilidade,
paradas programadas do refino e adequação às normas norte-americanas. Conforme
as apresentações elaboradas pela cúpula da estatal, esses gastos chegariam a
quase US$ 500 milhões até 2013.
Os registros contábeis da refinaria, conforme dados
levantados pela estatal em abril de 2013, mostram um valor de mercado bem
inferior ao desembolsado para a compra. Um relatório diz que o "valor
contábil de livro" em novembro de 2012 - ano do fim do litígio - era de
US$ 573 milhões, enquanto o "valor presente líquido" da refinaria era
ainda mais baixo, de US$ 352 milhões.
O GLOBO consultou a vice-presidente técnica do Conselho
Federal de Contabilidade (CFC), Verônica Souto Maior, sobre o significado
desses registros contábeis. O "valor contábil de livro" é o valor de
Pasadena registrado na estatal - quanto a aquisição custou à empresa, conforme
os registros contábeis. Trata-se, portanto, de menos da metade dos gastos
totais feitos para comprar a refinaria. Um mau negócio, como admitiu a
presidente da Petrobras, Graça Foster.
Já o "valor presente líquido" leva em conta as
projeções de fluxo de caixa para os próximos 25 anos, segundo Verônica. Para
trazer esse valor para o presente, a contabilidade faz um teste, chamado de
"impairment". As perdas da refinaria de Pasadena, por conta desse
teste, somavam US$ 221 milhões, o que resulta num valor real do empreendimento
de US$ 352 milhões, segundo os dados da estatal de abril de 2013.
- Verificou-se que o valor de livro da refinaria é bem
superior ao valor de mercado. Daí, a necessidade do reconhecimento da perda no
resultado, em face da necessidade de demonstrar o referido ativo pelo seu valor
de mercado - afirmou a vice-presidente técnica do CFC, após analisar os dados a
pedido do GLOBO.
Os números não batem com os apresentados por Graça Foster em
depoimento no Senado no último dia 15. Segundo a presidente da Petrobras, o
teste de "impairment" levou a uma perda de US$ 530 milhões no valor
de Pasadena. - A partir daí, temos um ativo de qualidade para o que se propõe
hoje - disse ela, no Senado.
Boa parte da queda do valor presente de Pasadena se deve ao
recuo do preço do petróleo e, por consequência, das margens de lucro das
refinarias a partir de setembro de 2008, quando teve início a crise
internacional. O preço do barril do petróleo despencou de um nível de mais de
US$ 140 o barril para pouco mais de US$ 30, tendo voltado a valer mais de US$
100 só três anos depois.
A apresentação da Petrobras America, de 2009, aponta que,
"sob a ótica das margens projetadas pela Petrobras, só seria possível
garantir a reversão do resultado operacional negativo a partir de 2013, após os
investimentos requeridos (de US$ 275 milhões)".
Dados de auditoria contábil obtidos pelo GLOBO
revelam que, de fato, a refinaria apresentou retorno líquido positivo nos anos
de 2009 e 2010, mas houve prejuízo de quase US$ 100 milhões entre 2011 e 2012.
Segundo a apresentação de Graça Foster no Senado, a refinaria voltou a
apresentar lucro nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, num total de US$
58 milhões, período no qual Pasadena voltou a refinar 100 mil barris por dia.
(O Globo)
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