Por Guilherme Fiuza - O Globo
Armínio Fraga foi o comandante da etapa de consolidação do
Plano Real — a última coisa séria feita no Brasil
Pela primeira vez em 12 anos, os companheiros avistam a
possibilidade real de ter que largar o osso. Nem a obra-prima do mensalão às
vésperas da eleição de 2006 chegara a ameaçar a hegemonia dos coitados sobre a
elite branca. A um mês da votação, surgem as pesquisas indicando que o PT não é
mais o favorito a continuar encastelado no Planalto. Desespero total.Pode-se
imaginar o movimento fervilhante nas centrais de dossiês aloprados. Há de
surgir na Wikipédia o passado tenebroso dos adversários de Dilma Rousseff. Logo
descobriremos que foram eles que sumiram com Amarildo, que depenaram a
Petrobras, que treinaram a seleção contra os alemães. É questão de vida ou
morte: como se sabe, a elite vermelha terá sérias dificuldades de sobrevivência
se tiver que trabalhar. Vão “fazer o diabo”, como disse a presidente, para
ganhar a eleição e não perder a gerência da boca.
O Brasil acaba de assistir à queda de um avião sobre o
castelo eleitoral do PT. Questionada sobre as investigações acerca da situação
legal da aeronave que caiu, Dilma respondeu que não está “acompanhando isso”, e
que o assunto não é do seu “profundo interesse”. Altamente coerente. Se a
presidente e seu padrinho não “acompanharam” as tragédias no governo popular —
mensalão, Rosemary e grande elenco — não haveria por que terem “profundo
interesse” numa tragédia que veio de fora. Eles sempre fingiram que estava tudo
bem e o povo acreditou, não há por que acusar o golpe agora. Avião? Que avião?
Melhor continuar arremessando gaivotas de papel, para
distrair o público. Até o ministro decorativo da Fazenda foi chamado para
atirar a sua. Guido Mantega, como Dilma e toda a tropa, é militante de Lula. O
filho do Brasil ordena, eles disparam. Mantega já chegou a apresentar um
gráfico amestrado relacionando o PAC com o PIB — um estelionato intelectual que
o Brasil, como sempre, engoliu. Agora o homem forte (?) da economia companheira
entra na campanha para dizer que Armínio Fraga desrespeitou as metas de inflação.
Uma gaivota pornográfica.
Para encurtar a conversa, bastaria dizer que Armínio Fraga
foi um dos homens que construíram aquilo que Mantega e seu bando há anos tentam
destruir. Inclusive a meta de inflação. Armínio foi o comandante da etapa de
consolidação do Plano Real — última coisa séria feita no Brasil — enfrentando o
efeito devastador da crise da Rússia, que teria reduzido a economia nacional a
pó se ela estivesse nas mãos de um desses bravateiros com estrelinha. Mantega e
padrinhos associados devem a Armínio Fraga e aos realizadores do Plano Real a
vida mansa que levaram nos últimos 12 anos. E deve ser mesmo angustiante
desconfiar pela primeira vez que essa moleza vai acabar.
Se debate eleitoral tivesse alguma ligação com a realidade,
bastaria convidar os companheiros a citar uma medida de sua autoria que tenha
ajudado a estruturar a economia brasileira. Uma única. Mas não adianta, porque,
como o eleitorado viaja na maionese, basta aos petistas dizer — como passaram a
última década dizendo — que eles livraram o Brasil da inflação de Fernando
Henrique. A própria Dilma foi eleita em 2010 com esse humor negro, e jamais
caiu no ridículo por isso. Com a fraude devidamente avalizada pelo distinto
público, Guido Mantega pode se comparar a Armínio Fraga e entrar em casa sem
ter que esconder o rosto.
Em meio às propostas ornamentais, aliás, Armínio é o dado
concreto da corrida presidencial até aqui. Nada de poesia, de “nova política”,
de arautos da “mudança” — conceito tão específico quanto “felicidade”, que
enche os olhos da Primavera Burra e dos depredadores do bem. Armínio não é
terceira, quarta ou quinta via, nem a mediatriz mágica entre o passado e o
futuro. É um economista testado e aprovado no front governamental, que não
ficará no Ministério da Fazenda transformando panfleto em gaivota.
O PSDB, como os outros partidos, adora vender contos de
fadas. Mas seu candidato, Aécio Neves, resolveu anunciar previamente o seu
principal ministro. Eis a sutil diferença entre o compromisso e a conversa
fiada.
Marina Silva também é uma boa notícia. Só o fato de ser uma
pessoa íntegra já oferece um contraponto valioso à picaretagem travestida de
bondade. Nunca é tarde para o feminismo curar a ressaca dos últimos quatro
anos. O que seria um governo Marina, porém, nem ela sabe. Se cumprir a promessa
de Eduardo Campos e empurrar o PMDB S.A. para a oposição, que grande partido
comporia a sua sustentação política? Olhe em volta e constate, com arrepios, a
hipótese mais provável: ele mesmo, o PT — prontinho para a mudança, com frete e
tudo.
Marina vem do PT e está no PSB, cujo ideário é de arrepiar o
maior sonho cubano de José Dirceu. E tentar governar acima dos partidos foi o
que Collor fez. Que forças, afinal, afiançariam as virtudes de Marina?
Fonte: A VerdadeSufocada
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