Por Nivaldo Cordeiro
A eventual consagração de Marina Silva como presidente da
República significará o passo final para o caos, pois a possibilidade de
governança ou governabilidade tende a desaparecer.
A boutade de Abílio Diniz, o empresário que aderiu de mala e
cuia ao PT, vem muito a calhar aqui: “o país não é ingovernável, mas é
‘ingerenciável’.” Esse tem sido o resultado das sucessivas administrações
esquerdistas, desde 1985. Os governos Lula e Dilma aprofundaram a transformação
do Estado, de tal sorte que se criou sua incapacidade gerencial, de
gerenciar-se a si mesmo e de prover os serviços públicos que dele o povo
espera.
Não é à toa que a inflação está voltando forte,
irresistível, inexorável. Os desequilíbrios governamentais sempre se
transformam, com o passar dos dias, na peste inflacionária. Podemos ver o
fenômeno a olhos vistos, no Brasil, que virou um grande laboratório a céu
aberto. É possível ver o que está predito por economistas sensatos quando os
governos saem dos seus próprios sapatos e crescem além da conta.
Da mesma forma, a notícia sobre o encolhimento rápido das
expectativas do crescimento do PIB confirma o estrago que o ímpeto petista fez
sobre a realidade social e econômica brasileira. A desordem parece tomar conta
de tudo e, quanto mais o faz, mais vemos o governo querendo governar tudo. Mas
como o governo é “ingerenciável”, então a desordem é a consequência natural
dessa expansão estatal. Puro movimento irracional.
A diferença entre os governos Lula e Dilma é que o
ex-metalúrgico conseguiu se manter dentro dos parâmetros da realidade, mesmo
“avançando” na agenda socialista. Já Dilma Rousseff foi mais ideológica e
programática, mais “pura”, dando as costas para a realidade. O efeito econômico
foi imediato e devastador, a combinação de inflação com recessão, conforme
previsto nos manuais de economia. O caráter não gerenciável do mastodôntico
estado se impôs com vigor. O Brasil é a Casa da Mãe Joana.
É nesse contexto que estamos, às vésperas das eleições. A
parte mais consciente do eleitorado, que esperava que Aécio Neves pudesse ser o
nome para tirar o PT da Presidência, parece que se frustrou. O acidente que
vitimou Eduardo Campos matou a candidatura de Aécio Neves, fazendo surgir a
estrela ascendente de Marina Silva. O que esperar dela governando?
Antes, é preciso registrar aqui que Marina Silva é uma
história particular de sucesso, que tem em si o sorriso da Roda da Fortuna.
Maquiavel, homem renascentista, falou dela no famoso O Príncipe. O avião
poderia tê-la matado também, mas os deuses foram com ela generosos. A Fortuna
foi duplamente favorável: deu-lhe a vida e a oportunidade de ganhar, de forma
sensacional, a Presidência da República.
Não se pode subestimar alguém assim bafejado pela sorte.
Todos achavam que ela estava fora do palco e eis que ela retornou para vencer,
provavelmente. Marina tem a favor de si o recall da última eleição, tem uma boa
imagem junto à opinião pública e tem mantido sua “pureza” ideológica intacta.
Como o eleitorado brasileiro está amestrado para as causas esquerdistas, Marina
Silva passou a representar a possibilidade de avanço em relação ao PT.
Atropelou Aécio Neves.
Nisso consiste a principal contradição de Marina Silva, se
eleita: a impossibilidade de governar bem. Não se pode governar o país sem a
acomodação com o Centrão, os interesses estabelecidos e a própria realidade ela
mesma. Todavia, como ela é “sonhática”, ou seja, “pura”, terá grandes
dificuldades para se compor com o Congresso Nacional, do qual dependerá para
todas as decisões relevantes. O Congresso Nacional reúne as chamadas “forças
vivas da Nação”.
Uma única medida anunciada por ela, a de carimbar 10% da
verba orçamentária para a saúde, mostra o tamanho do despreparo da candidata. O
Estado não tem que gerenciar apenas a saúde, mas também suas funções outras,
inclusive a educação, que também tem sua gorda verba carimbada, e diplomacia,
defesa, justiça, etc. Promessas deste tipo não são exequíveis, embora fáceis de
falar no palanque, sob aplausos dos eleitores desavisados. Essas promessas
pressupõem que as demais funções deverão encolher pela transferência de
recursos orçamentários.
Os carimbadores de verbas orçamentárias pensam assim
transferir para as outras funções do Estado a dureza da lei da escassez, mas é
um equívoco: a realidade sempre se imporá, dando a proporção correta na
alocação dos recursos. Um governante sensato jamais poderia se comprometer com tamanha
parvoíce, mas em se falando de “sonháticos” tudo se pode esperar.
A eventual consagração de Marina Silva como presidente da
República significará o passo final para o caos, pois a possibilidade de
governança ou governabilidade tende a desaparecer. Um presidente da República
precisa governar para todos os brasileiros e não apenas para sua corriola
política. Tem que ter grandeza, ao menos um verniz de estadista, mínimo que
seja.
A mensagem que Marina Silva passa é essa, a de que de
“governável, mas ingerenciável” o Brasil finalmente será “ingovernável e
ingerenciável”. Há o perigo de se contemplar perigosamente o fundo do abismo
trazido pelo caos. Em um cenário assim, tudo pode acontecer, além da elevação
inflação e da queda do PIB.
Fonte: Mídia Sem Máscara
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