Se os marqueteiros soubessem exatamente o que fazer para ganhar uma disputa nas urnas, o Brasil teria inventado a eleição sem perdedores. Se s conhecessem a receita que garante a vitória, não seriam marqueteiros; seriam candidatos imbatíveis. É de bom tamanho, convém ressalvar, o acervo que reúne ótimas sacadas dos integrantes da tribo. É tão volumoso quanto o que congestiona a ala que expõe ideias de jerico.
Entre tantas, a mais imbecil é provavelmente a que rebaixa a
alunos de curso de boas maneiras os participantes de debates eleitorais
transmitidos pela TV. Por determinação dos marqueteiros, todo candidato deve
fugir como o diabo da cruz de qualquer coisa que possa parecer “muito
contundente” ou “deselegante demais” aos olhos dos espectadores.
Uma pergunta que cause desconforto ao concorrente, uma
resposta que mire o fígado do adversário, mesmo uma testa crispada pela
irritação ─ tudo isso virou ”sinal de
agressividade”. É pecado mortal, sobretudo se houver mulheres no grupo de
debatedores. Graças a essa estratégia, menos lógica que uma análise de Dilma
sobre a engorda da inflação e a anemia do PIB, nas campanhas eleitorais como no
futebol brasileiro os atacantes são hoje uma espécie em extinção.
Paradoxalmente, os remanescentes vivem desmentindo na
prática a teoria forjada pelos apóstolos da pusilanimidade. A discurseira de
Lula, por exemplo, é muito mais que agressiva: é uma bisonha aula magna de
boçalidade. Se os marqueteiros tivessem razão, a usina de insolências que
venceu duas disputas presidenciais não conseguiria sequer o voto dos parentes.
Quem prefere a retirada quando todas as circunstâncias imploram pela ofensiva é
gente que nunca ouviu falar em Carlos Lacerda, Jânio Quadros, Leonel Brizola e
outros especialistas em duelos retóricos.
No vídeo de 2010, sem ultrapassar em nenhum instante a
fronteira da civilidade, Plínio de Arruda Sampaio demitiu sem aviso prévio o
besteirol covarde, revogou a caricatura eleitoral da Lei Maria da Penha e
ensinou como se bate com palavras também em mulheres. As máscaras faciais de
Dilma Rousseff vão revelando o pote até aqui de raiva, a temperatura interna a
caminho do ponto de combustão.
Os candidatos da oposição precisam rever os 35 segundos em
que Plínio associa Dilma Rousseff à corrupção em geral e a Erenice Guerra em
particular. Aécio Neves e Eduardo Campos
vão constatar que a grosseria é apenas a a prima paupérrima da combatividade,
da firmeza, da contundência, da ironia fina, do sarcasmo desmoralizante. A
verdade só soa insultuosa aos ouvidos de gente com culpa no cartório. Não há
bala de prata tão mortal quanto a evocação do fato criminoso.
Milhões de brasileiros indignados sonham com um candidato
que conte o caso omo o caso foi, que chame coisas e seres pelo nome certo. Quem
rouba é ladrão. Quem prospera com vigarices é vigarista. A presidente incapaz
de dizer algo que preste é um embuste que foi longe demais. E quer continuar
até 2018 no emprego que ganhou do padrinho Lula.
Pouco importa o sexo de quem não se importa com o Brasil. A
doutra em nada é uma ameaça à nação, e como tal merece ser tratada.
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