Por Nivaldo Cordeiro
Todos os candidatos estão usando o mote da “mudança”, até
mesmo quem é da situação, tentam seduzir o eleitorado para o engajamento
revolucionário. Os marqueteiros admitem que sem o mudancismo não se ganha,
ignorando solenemente que o povo brasileiro é majoritariamente conservador e
não deseja mudança na ordem estabelecida. Dilma Rousseff não cansa de dizer que
dará continuidade ás mudanças que o PT vem fazendo, desde que assumiu. Como
pode alguém ser da situação e falar em mudança? Aqui é preciso uma exegese
cuidadosa do discurso político em uso.
Há uma sutil confusão entre mudança de nomes (e de partidos)
com a mudança da ordem vigente. Certo que todas as candidaturas são de esquerda
e o esquerdismo consiste precisamente nisso, no discurso da mudança, até mesmo
“contra tudo que está aí”. A esquerda quer modificar o status quo porque acha
que tem as soluções para os problemas humanos, bastando, para isso, vontade
política. Obviamente é delírio perigoso. Por detrás do argumento está o ímpeto
perfectibilista de todos os revolucionários, que acham que podem aperfeiçoar a
natureza, inclusive a natureza humana.
O PSDB emprega o termo no segundo sentido, porque aprendeu
os limites do Estado e da vontade mudancista. Por isso pôde combater a inflação
crônica e elevada e dar relativamente maior estabilidade à sociedade
brasileira. Claro que, nos seus quadros, tem um grande número de mudancistas,
mas o princípio de realidade prevalece. O PSDB quer mudar mais os marcos jurídicos
dos costumes do que a estrutura econômica, como a questão do aborto, das uniões
matrimoniais e o uso de estupefacientes. Descobriu finalmente que existe a lei
da escassez e que o melhor é deixar as relações econômicas sob o império das
forças de mercado, mas sem reduzir o Estado.
O PT, ao contrário, fala de mudança no primeiro sentido.
Quer mudar a Constituição, quer mudar o Estado, quer revolucionar tudo. O
recente decreto que tenta sovietizar o Estado Brasileiro, ainda em vigor, é bem
o exemplo do que estou dizendo. Eu tenho comentado exaustivamente a desesperada
tentativa de mudar a cara dos produtores de conteúdo dos meios de comunicação,
a fim de controlar a opinião pública, como está sendo feito na Argentina e na
Venezuela.
E Marina Silva? Ela se pretende a dupla mudança, de nome (e
partido) e da ordem vigente. Ela quer governar com e para seu grupelho
político, que é socialista e ambientalista, de costas para a realidade. É por
isso que Marina Silva não consegue se apoiar nem mesmo nos quadros históricos
do PSB, pois no seu centro de decisões só tem lugar para aqueles que
ideologicamente comungam de suas crenças.
Se Marina Silva tem dificuldades para costurar apoios para
se eleger, avalie-se o tamanho das dificuldades que terá para governar. Não se
pode governar o Brasil de costa para as forças vivas da Nação, nessas
compreendidas o Centrão do PMDB, o agronegócio e os partidos que dão
sustentação à ordem. Mas é o que propõe a candidata acreana, no seu ímpeto
mudancista. Nisso consiste o maior perigo de uma eventual vitória sua.
Quem viver verá!
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