Por Percival Puggina
Somos caça.
Diariamente, ao colocarmos o pé na calçada, ao sairmos de nossa humilde toca ou
de nosso bunker familiar, viramos caça. Se tudo correr bem, retornamos sãos e
salvos por não termos sido alvo dos predadores. Nem por isso teremos deixado de
ser caça. Tão caça quanto qualquer lebre corredeira. Saiba: no mundo civilizado
não é assim.
O notório agravamento
da insegurança socialmente percebida tem profundas raízes ideológicas. Aliás,
no Brasil (e no RS mais do que em qualquer outra parte), tudo é desgraçadamente
ideologizado. Da religião ao chimarrão. Então, algo que deveria merecer
consistente unanimidade por urgente interesse público, ou seja, o combate ao
crime e à impunidade, o encarceramento dos bandidos, o cumprimento das penas, a
extinção da farsa do semiaberto, a redução da maioridade penal, a ampliação das
forças humanas e materiais das corporações policiais, é travado por argumentos
ideológicos. Quais? Ora, não ensinava Proudhon que a propriedade é um roubo?
Não frisaram, Marx e Engels, que abolir a propriedade é o resumo do comunismo?
Não creem os que abraçam essa doutrina que a criminalidade ou se confunde
inteiramente com a luta de classes, ou é um subproduto dela? Quando tratava da
luta de classes, não abraçou-se Marx à frase de George Sand - "Vitória ou
morte! Guerra sangrenta ou nada!"? Como pode um país saturado de marxismo
entusiasmar-se com a tarefa de sustar qualquer instrumento da
"reformulação da sociedade"?
Há poucos dias, assisti na tevê a entrevista feita com uma
senhora cuja atividade econômica consistia em garimpar e revender rejeitos de
um lixão. Com isso, cuidava dos filhos, comprou um automóvel e traçava projetos
para cursar faculdade. Na perspectiva da luta de classes, essa admirável pessoa
é uma burguesa alienada, ao passo que o assaltante de nossas ruas é um
militante da justiça social, um soldado da causa. E merece toda a leniência que
lhe é proporcionada pelas nossas instituições. Não veem elas o criminoso como
um filho bastardo e infeliz da economia de mercado e do sistema de livre
empresa? É exatamente por isso que as instituições, maculadas por uma ideologia
insana, são tão indulgentes com os criminosos enquanto assimetricamente,
relegam ao mais tenebroso abandono as suas vítimas.
Qualquer líder do PCC ou do Comando Vermelho, consultado
sobre nossas leis penais, instituições policiais e sistema penitenciário, dirá:
"Melhorem a hotelaria. E não mexam no resto que está bom demais". Ou
não?
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