Por Carlos Chagas
Três bobagens, três derrotas. Fala-se das tentativas do PT,
do PCdoB e de deputados governistas de obter do Supremo Tribunal Federal a
anulação do processo de impeachment da presidente Dilma, iniciado pelo
presidente da Câmara. Qualquer observador de bom senso desestimularia esse tipo
de ação, não só pela falta de embasamento jurídico quanto pelo estímulo da
interferência entre os poderes da União. Queriam a mais alta corte nacional de
justiça atropelando a Câmara dos Deputados numa decisão exclusiva dos
representantes da população.
O resultado só poderia ter sido a rejeição, exarada em
termos duros e necessários, pelos ministros Celso Mello, Gilmar Mendes e, sem a
menor dúvida, por todos os demais integrantes do STF. Desmoralizaram-se os
autores dos pedidos, mas, acima de tudo, ajudaram a desmoralizar o governo.
Forneceram mais uma prova da confusão verificada em torno da presidente Dilma,
que se foi consultada previamente e autorizou, fica muito mal. Mas se não foi,
pior ainda.
Apesar das sucessivas reuniões ministeriais promovidas por
Madame, continua o bate cabeça no Palácio do Planalto e adjacências. A
novidade, ontem, foi a disposição do governo de apressar o julgamento. O
argumento anunciado como exigência da presidente baseou-se no raciocínio de que
se agora está feio, com o passar dos meses ficará horrível, tendo em vista o
agravamento da crise econômica. Quer dizer, em vez de demonstrar disposição para
debelar o desemprego, o aumento de impostos e as dificuldades crescentes na
vida nacional, os detentores do poder preferem antecipar o confronto.
Imaginam dispor de mais apoio, ou de menos abandono, antes
que a situação se deteriore. É reconhecer a incapacidade de recuperar a
economia. Em especial quando concluem melhor submeter-se agora ao pedido de
afastamento, quando dizem dispor de 258 votos, do que daqui a dois ou três
meses, quando faltará a certeza de que contarão com 172, o número mínimo para salvar
o pescoço da rainha. Mais uma prova de fraqueza. Por isso sustentam os
governistas a suspensão do recesso parlamentar, com o funcionamento normal do
Congresso em janeiro. Dificilmente conseguirão outra evidência de haverem
perdido o controle do processo político.
Enquanto isso, prossegue a baixa tertúlia entre Dilma e seus
ministros, de um lado, e Eduardo Cunha, de outro, acusando-se de mentirosos e
chantagistas. Um lamentável espetáculo que não deveria ser encenado. Afinal, os
dois grupos desdobraram-se em simulacros de entendimento e agressões
ostensivas. Ninguém controla ninguém. O governo, com medo das ruas, prevendo
que crescerão as manifestações ditas contra o impeachment, mas na realidade de
indignação frente ao caos econômico. As oposições, cada vez mais ávidas de
aproximar-se do vice Michel Temer, para o que der e vier.
Por enquanto, faltam votos no plenário da Câmara para a
condenação da presidente. Em fevereiro, ignora-se, tendo em vista o perigo real
e imediato da desagregação econômica prestes a transformar-se em crise social.
Entre exortações para a antecipação do embate parlamentar, a pergunta fica é
sobre o que fará mais mal ao país: o Natal sem Dilma ou o Carnaval do
impeachment.
Fonte: A Verdade Sufocada
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