Ao analisarmos as raízes da formação da nacionalidade
brasileira podemos afirmar que esta Colônia portuguesa tinha todas as condições
para dar errado como um país de dimensões continentais. E por quê?
Fomos “descobertos” no meio de uma crise mundial, envolvendo
disputas entre duas Nações detentoras do direito de dividir o mundo como suas
propriedades. Entretanto, as disputas por poder naquela época fizeram surgir
discordâncias oficiais e as consequentes ações ilegais, ditas como piratarias,
na busca de tesouros e matérias-primas.
Para que um país com todas as características de continente
pudesse ser povoado foi preciso estimular a migração trazendo braços para o
trabalho. No caso do Brasil, a mão de obra usada foi a escrava, tendo
infelizmente ocorrido da forma mais degradante possível. Centenas de milhares
de africanos foram retirados à força de suas tribos e famílias e transportados
para um local onde eram tratados piores do que animais.
Mesmo com este tratamento, com o passar dos tempos (quase
três séculos) e com os hábitos formados pelos colonizadores e demais moradores,
estes imigrantes e outros que vieram de vários continentes por razões as mais
diversas possíveis, puderam se adaptar e mostrar suas capacidades, permitindo
que suas culturas integrassem o cadinho cultural de uma Nação independente.
Todos queriam simplesmente viver em paz com suas famílias, seus bens pessoais e
com liberdades de trabalho e de religião.
Assim, a sociedade criada inicialmente sob condições
adversas formou uma população que se tornou um sonho de consumo para muitas
outras espalhadas no Mundo. Os Europeus, acreditamos que ainda sonham em vir
morar no país das praias, do Sol o ano inteiro, do carnaval e do futebol.
Se bem que no futebol estamos com uma geração que está nos
deixando quase esquecidos desta característica nacional. Grande parte da
população já incorporou o voleibol como sendo uma preferência nacional. Afinal
de contas, com estes jogadores temos visto um time com o hábito de ser
vencedor. E assim podermos esquecer parte de nossas limitações internas.
Sempre foi assim. Aliás, citam alguns estudiosos que os
brasileiros trabalham no intervalo das festas nacionais, entendendo-se que não
somente os dias de carnaval assim sejam considerados. Nos dias de jogos da
seleção brasileira de futebol o país sempre parava para vibrar. Mas, nas
manifestações de 2013, durante a Copa das Confederações e em 2014 durante a
Copa do Mundo, brasileiros mostraram que os descontentamentos haviam
extrapolado os limites da tolerância e os cidadãos de todos os matizes foram às
ruas para protestar, mesmo em dia de jogo da seleção.
Assim sendo, voltamos a citar a importância de adquirirmos
hábitos sadios nas nossas vidas.
A derrota no jogo contra a Alemanha foi entendida como uma
derrota numa batalha pela sobrevivência do orgulho nacional. E vejam que nem
nos lembramos de que estamos mais do que derrotados nos hábitos de educar, de
ensinar, de trabalhar, de respeitar as Leis do país ou simplesmente de sermos
cidadãos honrados e éticos.
Os seguidos escândalos na política levaram o atual governo a
uma aceitação nunca antes sentida. E mesmo assim, quase sem representatividade,
as pessoas e os cargos se mantêm no poder. Viramos motivo de gozação para a
mídia e para os demais países.
A pergunta que não se cala é: como um povo aceita que
pessoas envolvidas em denúncias se conservem em seus cargos durante as
investigações?
Os cidadãos de menor renda se calaram aos atuais desmandos
políticos, por causa da concessão de um auxílio chamado de Bolsa Família. Que
hábito mais nocivo ao trabalhador. Na verdade não passa de uma moeda
eleitoreira e não um benefício social. Pessoas deixam de ir trabalhar para
ganhar um salário em troca de uma contrapartida em manter os filhos
matriculados nas escolas. Ora, isto é uma “obrigação” de pai e mãe, não cabendo
nenhuma compensação financeira, não é mesmo?
A mão de obra para serviços gerais passou a ser bastante
escassa até o corrente ano, estando numa fase de transição, pela redução das
concessões e também pelo crescente desemprego. Não podemos aceitar que homens e
mulheres deixem de ir trabalhar somente por receberem um benefício social sem a
contrapartida do esforço pessoal.
A Presidente do Brasil, numa declaração feita durante uma
viagem ao exterior, afirmou que “não confiava na delação premiada”. Ora vejam,
mais um péssimo hábito de desacreditar uma Lei nacional que ela mesma havia
sancionado. Já somos conhecidos como “o País em que uma Lei pode ou não pegar”.
Onde iremos parar? A mídia esqueceu de comentar que a Lei de
Responsabilidade Fiscal também foi desobedecida pela equipe do Governo Federal
no ano de 2014 e, caso não fossem as insistentes ações de poucos setores da
oposição e da imprensa, tal hábito poderia, e pode se transformar em mais um
costume negativo.
As ações estão sob avaliação no Tribunal de Contas da União
e esperamos que a Lei seja cumprida e que a justiça seja feita para podermos
comemorar a Constituição Federal pela independência dos Poderes.
Os escândalos de corrupção parecem que não param. A cada
semana ligamos as televisões para saber qual a denúncia da hora ou do dia. E o
pior é que, mesmo para aqueles que já foram identificados como culpados,
julgados e condenados, vemos os mesmos fora das prisões e com regalias que são
inaceitáveis numa democracia. Afinal de contas, roubaram dinheiro público para
benefício pessoal.
Finalizando comentamos que a pior crise vivenciada nos dias
de hoje é uma crise de ética e moral. Merecemos sim voltar a sentir orgulho de
sermos brasileiros e sabermos que as Leis existem para serem cumpridas por
todos e todas, sem discriminação de nenhuma espécie.
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Eliéser Girão Monteiro Filho é General de Brigada.
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