Polícia Federal
apreendeu documentos na casa do advogado Marcelo Bulhões dos Santos, suspeito
de manter ligações com grupos extremistas
Marcelo Bulhões dos
Santos, no canto esquerdo da foto
(de barba): ele trabalhou por 3 anos e 9
meses na Casa Civil
Facebook/VEJA
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O advogado de
Brasília que entrou no radar da Justiça por suspeita de cumplicidade com
terroristas é um brasileiro que se converteu ao islamismo e já trabalhou na
Casa Civil da Presidência da República durante a gestão de Dilma Rousseff. Ele
também foi funcionário da própria Polícia Federal, órgão que ele viria a acusar
de ser conivente com interferência internacional na CPI da Espionagem. Marcelo
Bulhões dos Santos pertence à corrente sunita e frequenta com regularidade a
mesquita da capital federal.
Os policiais
federais que estiveram no prédio de Bulhões nesta sexta-feira apreenderam
documentos e materiais eletrônicos, por ordem da Justiça Federal. Os indícios
dão conta da ligação dele com extremistas estrangeiros. Como não há crime de
terrorismo no país, a Justiça colhe elementos para julgá-lo por crimes
acessórios, como estelionato e falsificação de documento.
Bulhões já era
conhecido pela PF. Ele é ex-servidor de nível médio da corporação, onde
trabalhou entre 2004 e 2007. Como fala árabe, espanhol, italiano e inglês foi
lotado na Coordenação-Geral de Polícia Criminal Internacional, braço da
Interpol na PF, antes de ser cedido à Presidência da República. Exercia
atividades burocráticas na troca de informações e comunicados com outros
escritórios centrais nacionais da Interpol. Anos depois, ele diria que havia
interferência de serviços de inteligência dos Estados Unidos da PF.
Bulhões formou-se em
2009 em uma universidade particular de Brasília. Ele trabalhou por quase quatro
anos como assessor da Casa Civil, durante a gestão da então ministra Dilma
Rousseff. Foi nomeado por ela para um cargo de confiança: supervisor de
legislação pessoal. Bulhões diz ter se desligado em 2010 por vontade própria,
para se dedicar à atividades de consultoria jurídica. Hoje, atua no próprio
escritório, que funciona no apartamento onde também mora sua mulher e o filho
do casal. Há dois meses, passou a assessorar a embaixada de Omã na capital
federal.
Espionagem - O alvo
da PF também denunciou supostas atividades de contraterrorismo dos Estados
Unidos no Brasil. Em setembro de 2013, Bulhões encaminhou à senadora Vanessa
Grazziotin (PCdoB-AM), então presidente da CPI da Espionagem, um documento que
reunia relatórios sobre atividades de terroristas na América do Sul. Disse que
agia por "senso de responsabilidade cívica". Alguns dos documentos
eram da Embaixada Americana no Brasil, vazados pelo WikiLeaks, e parte do
acervo da biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Outros, datados de 1995 a
2011, pertenciam ao arquivo do Itamaraty e, segundo ele, "sugeriam
atividades de espionagem norte-americana em desfavor do governo
brasileiro".
O relatório
americano sobre atividades criminosas e terroristas na tríplice fronteira,
encaminhado por Bulhões à CPI da Espionagem, cita entre outros alvos o doleiro
Alberto Youssef, delator do escândalo do petrolão. Youssef é descrito como um
dos "maiores operadores de lavagem de dinheiro do país, tendo trabalhado
para o traficante Fernandinho Beira-Mar".
"Há fortes
indícios de que cidadãos brasileiros de origem árabe e/ou de confissão islâmica
tenham sido objeto de investigação por parte de órgãos de inteligência
nacionais e estrangeiros , sendo que nem sempre havia motivo plausível para
tal", justificou Bulhões. "Nesse sentido, houve, inclusive, diversas
ocasiões em que o ora signatário [ele mesmo] presenciou a interferência de
serviços estrangeiros na atuação de órgãos do governo federal, dentre os quais
é possível destacar o Departamento de Polícia Federal, do qual o subscritor é
ex-servidor."
Em postagens no
Facebook, Bulhões também justifica a ação do grupo terrorista Hamas, que
costuma lançar mísseis sobre o território israelense. "Sem a ocupação dos
sionistas de uma terra alheia nem sequer existiria o Hamas, muito menos os
mísseis", disse ele em julho de 2014. O advogado prosseguiu: "Os
apoiadores de Israel chamam o Hamas de 'terrorista', mas esquecem de estudar
sobre o modo que se deu a formação do pseudo-estado judeu".?
Bulhões formou-se
bacharel com uma monografia intitulada "O princípio da igualdade no
Direito islâmico" e estudou no prestigiado Colégio Militar do Rio de
Janeiro.
Em nota, a PF disse
que cumpriu um mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça em inquérito
sigiloso que apura falsificação de documentos. Segundo a PF, "os atos
praticados pelo investigado não guardam relação direta com seu passado
funcional ou, ainda, com suas atividades como servidor comissionado".
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