Por VEJA
João
Vaccari teria feito contato entre fundos de pensão e o doleiro preso como pivô
do esquema
João
Vaccari Neto, bancário, tesoureiro do PT, ex-presidente da Bancoop, em 2010
(Sergio Dutti/AE/VEJA)
|
Num
depoimento prestado à Polícia Federal, um dos integrantes do esquema
investigado na Operação Lava Jato afirmou que o secretário nacional de finanças
do PT, João Vaccari Neto, era um dos contatos de fundos de pensão com a CSA
Project Finance Consultoria e Intermediação de Negócios Empresariais, empresa
que o doleiro Alberto Youssef usou para lavar 1,16 milhão de reais do mensalão,
segundo a PF. Vaccari é tesoureiro do partido desde 2010 e considerado um dos homens
mais próximos ao ex-presidente Lula e articulador do ministro das Relações
Institucionais, Ricardo Berzoini. Relatório da PF já apontava que o tesoureiro
procurou o doleiro na sede de uma das empresas usadas por Youssef,
"João
Vaccari esteve várias vezes na sede da CSA, possivelmente a fim de tratar de
operações com fundos de pensão com Cláudio Mente", relatou o advogado
Carlos Alberto Pereira da Costa, apontado como laranja de Youssef e do
ex-deputado federal José Janene (morto em 2010). Preso desde março pela Lava
Jato, ex-sócio da CSA Project, situada em São Paulo, decidiu colaborar
espontaneamente com as investigações em troca de eventual benefício judicial.
Ele
é réu em duas ações penais, uma sobre remessas fraudulentas do laboratório
Labogen para o exterior, outra de lavagem de dinheiro de Janene por
investimentos em uma empresa paranaense. Carlos Alberto foi ouvido no dia 15 na
Superintendência Regional da PF no Paraná. A PF, em outro documento, diz haver
indício de que Vaccari estaria intermediando negócios de fundos de pensão com a
CSA e uma outra empresa ligada ao doleiro, a GFD Investimentos.
Vaccari
é réu em ação criminal sobre suposto desvio de 70 milhões de reais da
Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop). O Ministério Público o
denunciou por formação de quadrilha, estelionato e lavagem de dinheiro.
Propina
- O colaborador disse que dirigentes da Petros, fundo de pensão da Petrobras,
receberam propina para que o fundo fizesse um investimento de interesse do
grupo de Youssef, acusado de chefiar esquema bilionário de lavagem de dinheiro.
Segundo
ele, o ex-gerente de Novos Negócios da Petros Humberto Pires Grault foi um dos
beneficiários de 500.000 reais, que teriam sido pagos como "comissão"
para que o fundo de pensão adquirisse, entre 2005 e 2006, uma cédula de crédito
bancário de 13 milhões de reais. Grault é ligado ao PT, partido que o teria
indicado ao cargo. A CSA Project, segundo disse, foi responsável pelo contrato
com a Petros. A cédula adquirida pelo fundo de pensão referia-se a créditos que
a Indústria Metais do Vale (IMV) teria a receber de outra empresa, a
Siderúrgica de Barra Mansa (SBM), por um projeto de ferro-gusa.
Carlos
Alberto disse que um saque de 500 mil da IMV foi usado para fazer pagamentos em
espécie aos que participaram do negócio. Além de Grault, teriam recebido parte
desse dinheiro Cláudio Mente, da CSA, além de funcionários da Petros. Ele
contou ter sido informado por Mente que, no fundo de pensão, "seriam
beneficiados Humberto Grault e o diretor que estaria acima dele na estrutura da
empresa". Disse que não se recorda do nome do outro suposto beneficiário.
Carlos
Alberto relata várias operações supostamente ilícitas de empreiteiras com o
doleiro Youssef, entre elas contratos sem prestação de serviços. "Em 2012
ou 2013 viajaram a Hong Kong Matheus de Oliveira, Leonardo Meirelles e João
Procópio a fim de resolver problemas ligados a abertura de contas; recorda-se
de terem sido feito contratos entre a GFD e as empresas Mendes Junior, Sanko e
Engevix, também visando transferências financeiras, sem qualquer prestação de
serviços."
Apartamento
- O advogado contou ainda ter sido informado de que Youssef se apropriou de
recursos de Janene no exterior. Relatou que o ex-diretor de Abastecimento da
Petrobras Paulo Roberto Costa também preso pela Lava Jato, era recebido por Janene
"em seu apartamento".
Segundo
ele, Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte,
atuava como um dos agentes que faziam transporte de dinheiro para operações do
doleiro no exterior. "Em determinada oportunidade os dois foram para o
Peru levar dinheiro em espécie", afirmou.
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