Por Percival Puggina
Em época de campanha eleitoral todos fogem das chamadas
questões sensíveis. O repórter que fizer uma dessas perguntas vai perder o
amigo. É como se não fosse de bom tom formular tais questões. No entanto, são
elas que possibilitam ao eleitor formar um perfil dos políticos que postulam
seu voto.
Habitualmente, e
quase sem exceção conhecida, os candidatos se escondem desses temas discursando
sobre o que são favoráveis. Políticos adoram falar sobre o que gostam, aprovam,
respeitam, querem ver protegido. E nisso, muito provavelmente, todos estarão de
acordo: gostam do povo, de pegar criancinhas no colo, se interessam em promover
os mais necessitados, querem que haja emprego e moradia para todos. Querem
educação de qualidade e um serviço de saúde padrão Fifa. Ou seja: todos sonham
com o paraíso aqui mesmo e o prometem disponível logo ali, em janeiro do ano
que vem.
Mas isso e nada são a
mesma coisa. Numa sociedade de massa, num país onde mais de 100 milhões de
eleitores irão expressar suas escolhas, a imprensa cumpre papel importantíssimo
no esclarecimento e na formação das decisões de voto. Disse alguém, com pelo
menos boa dose de razão, que o jornalismo ou é investigativo ou não é
jornalismo. Outro alguém disse que se o jornalismo não desagrada governantes
não é jornalismo. E digo eu algo que também já foi dito: se o jornalismo
político não pressiona os candidatos para extrair deles o que eles não querem
dizer, presta à democracia um serviço inaproveitável.
As perguntas mais
necessárias são as mais indigestas. O senhor é a favor ou contra o aborto? Qual
sua opinião sobre a redução da maioridade penal? O senhor concorda com nosso
sistema de progressão de regime aos condenados? Qual sua opinião sobre invasão
de propriedades privadas ou públicas? Como o senhor reagiria em situações de
tumulto associado com vandalismo ou terrorismo? O que pensa sobre posse e porte
de armas? Qual deve ser o limite da tolerância? Como esse limite funciona em
relação a grupos intolerantes? As leis de cotas raciais são convenientes ou
inconvenientes ao país? O senhor é a favor ou contra a adoção da meritocracia
no serviço público? Como se combina meritocracia com leis de cotas raciais?
Qual sua opinião sobre o sistema tributário nacional? O Brasil é, de fato uma
Federação que respeita a autonomia dos Estados e municípios? Convém ao país a
presença de militantes partidários em posições de confiança nos órgãos da
administração pública e nas empresas estatais? Parece-lhe razoável que o
partido governante, seja qual for, influencie ideologicamente as relações
internacionais do Brasil? O Itamaraty é lugar de partido político? Como a
questão dos direitos humanos deve influenciar as relações externas do Brasil?
Qual sua opinião sobre as atuais demarcações de reservas indígenas e de áreas
para quilombolas? Parece-lhe bom ao país e à sociedade que as chefias do
Estado, do governo e da administração sejam confiadas à mesma pessoa?
Essa lista é pequena fração da que efetivamente, ao longo
dos próximos 45 dias, deveria ser respondida por todos os candidatos, de modo
especial, pelos candidatos aos cargos de presidente da República e de membros
do Congresso Nacional. Infelizmente, só ouviremos o que não interessa saber e
nada saberemos daquilo que realmente importa para o exercício correto de nosso
dever cívico.
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