Confesso ao leitor: não sou uma pessoa incrível. Ao menos
não quando sou obrigado a me comparar com seres fantásticos que habitam nossa
esquerda política. Sou acusado – com razão – de ser um liberal e, portanto, um
ser individualista e até, cruzes!, ganancioso. Mea culpa. Penso no meu
bem-estar e no de minha família antes de pensar na situação do pobre garoto
acriano que desconheço, quiçá no menino miserável indiano ou nas baleias em
risco de extinção.
Sim, é verdade que luto com afinco para tentar melhorar o
Brasil, que me esforço para apresentar uma alternativa liberal, uma agenda de
reformas que, estou certo, ajudariam milhões de brasileiros. Esse blog, com
vários textos diários, inclusive nos fins de semana, prova isso. Mas não tenho
a pretensão de “salvar o mundo” ou de criar “um mundo melhor”, daqueles
totalmente revolucionados em que a maldade, o preconceito e a pobreza não mais
existem, um mundo igualitário como o paraíso socialista. Tenho metas mais
modestas.
E Deus sabe que, apesar de minha ganância por querer
melhorar também a minha vida e a de minha família, já aceitei fazer inúmeras
palestras gratuitas Brasil afora. A causa liberal foi, nesses vários casos,
colocada acima dos meus próprios interesses imediatos ou pecuniários. A troca
do carro pode esperar. Aquela viagem prometida fica para depois. Há muito em
jogo. O futuro de minha filha corre perigo em um país cuja democracia está ameaçada.
E por aí vai minha racionalização.
Fiz todo esse arrazoado para chegar à notícia que estampa a
capa da Folha hoje: Marina ganhou R$ 1,6 milhão com palestras em três anos. O
mistério está desfeito. Ninguém sabia como ela se sustentava direito. Está explicado,
ainda que parcialmente, pois os nomes das empresas e o cachê por palestra não
foram relevados. Podemos inferir que cobra mais de R$ 20 mil por palestra, pois
foram 72 no total, segundo a reportagem:
Em pouco mais de três anos, Marina diz que assinou 65
contratos e fez 72 palestras remuneradas. Ela se recusa a identificar os nomes
das empresas e das entidades que pagaram para ouvi-la, alegando que os
contratos têm cláusulas de confidencialidade.
No ano passado, a própria Marina pediu a entidades que a
tinham contratado para não divulgar seu cachê, como a Folha informou em
outubro.
Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando
Henrique Cardoso, que também cobram por palestras desde que deixaram o cargo,
mantêm igualmente em segredo os valores que recebem e a identidade dos
clientes.
O faturamento bruto da empresa de Marina lhe rendeu, em
média, R$ 41 mil mensais. O valor é mais que o dobro dos R$ 16,5 mil que ela
recebia como senadora no fim de seu mandato, em 2010.
Diante dos valores cobrados por Lula, que chegam às centenas
de milhares por uma mísera palestra, até que Marina é mais comedida. Talvez
porque ela ainda não foi presidente. Mas é realmente impressionante como a
esquerda ungida e abnegada, que só pensa nos pobres e em salvar o mundo, do
café da manhã à hora de dormir, fatura alto.
Alguém mais cético poderia até suspeitar de… ganância! Mas
não é nada disso. É que até um revolucionário altruísta precisa sobreviver,
como outro especialista em palestras justificou. Falo de Pimentel, candidato ao
governo de Minas Gerais pelo PT, que arrecadou R$ 2 milhões em “palestras” que
ninguém viu. Ei, quem luta tanto pelos mais pobres tem direito a um pouco de
conforto, não é mesmo?
Marina, associada pelo eleitor aos mais pobres, ainda que
financiada pela bilionária herdeira do Itaú e o bilionário dono da Natura,
também precisava se sustentar nesse período longe do governo. Sim, é verdade
que seu marido ganhava bem no governo petista do Acre. Mas ela é uma mulher
moderna e independente, e tem direito à sua própria remuneração. Pouco mais de
R$ 40 mil mensais, porque ninguém é de ferro, e todos temos obrigações no
cotidiano.
Thomas Sowell diz que não compreende por que é ganância
querer preservar o próprio dinheiro, mas não é ganância desejar avançar sobre o
dinheiro dos outros, como propõem todos os políticos de esquerda. Sowell pode
ser muito inteligente, mas não entendeu o mundo direito. Ganância não tem nada
a ver com o acúmulo desenfreado de riqueza; mas sim com a postura ideológica.
Se o sujeito cobra milhares de reais só para uma rápida
palestra, se faz consultorias milionárias, se importa tecido do Egito ou
demanda jatinho particular para sua locomoção, como faz Lula, mas preserva um
discurso em prol dos pobres, pregando mais estado que, por ironia, vai ter de
cobrar mais impostos que punem os pobres, ele é um ungido abnegado.
Agora, se o sujeito faz palestras gratuitas, fica na fila
para pegar um voo na classe econômica e mantém seu carro ano 2007 com mais de
80 mil quilômetros rodados, mas adota um discurso liberal que prega menos
concentração de poder no estado, então claro que ele é um ganancioso egoísta,
lacaio do capital, que só pensa em ficar rico. Entendeu, Sowell?
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