A troca feita pela presidente Dilma Rousseff no comando da
Petrobras no início de 2012 mudou o rumo de um negócio bilionário que a estatal
analisava, a venda de seus poços de petróleo na África. O negócio, que estava
nas mãos de um diretor indicado pelo PMDB, passou a ser tocado por um
subordinado da nova presidente da estatal, Graça Foster, depois da troca.
No ano seguinte, o banco BTG Pactual pagou US$ 1,5 bilhão
para ficar com metade das operações africanas da Petrobras e se tornar sócio da
estatal. O valor obtido pela venda despertou desconfianças, porque a gestão
anterior calculava que os ativos valiam quase quatro vezes mais. Os
funcionários que participaram do início do processo foram afastados depois que
Jorge Zelada, o afilhado do PMDB que dirigia a área internacional da Petrobras,
deixou o cargo e Graça Foster repassou a tarefa a outra equipe, de sua
confiança.
Mudanças de rota como essa ajudam a entender como o
loteamento político da maior empresa do país tem afetado a maneira como ela
toma decisões, gerando confusão sobre o que se passa lá dentro. Em março de
2012, pouco depois da posse de Graça Foster, executivos que estudavam a venda
dos poços da empresa na África avaliaram uma proposta que projetava captar no
mercado US$ 3,5 bilhões com a venda de 25% dos ativos, de acordo com um
documento obtido pela Folha. Se o plano fosse adiante, e dependendo das
condições do mercado, eles achavam que metade dos poços da Nigéria, Tanzânia,
Angola, Benin, Gabão e Namíbia poderia valer US$ 7 bilhões.
O projeto, apresentado pelo banco sul-africano Standard Bank
e discutido com a diretoria internacional, previa a criação de uma nova empresa
para reunir todas as operações da África, que teria o capital aberto na bolsa.
Os executivos estudavam alternativas para cumprir a decisão de Graça Foster,
que assumiu com a missão de vender operações da empresa para levantar dinheiro.
A vantagem de abrir o capital da nova empresa, a Petrobras
Africa, seria separar poços promissores do resto da estatal, cujas ações se
desvalorizaram 35% no governo Dilma. Os investidores têm mantido distância da
Petrobras por causa das perdas que a ingerência política do governo impôs à
companhia.
Os executivos da estatal e do Standard Bank achavam que, por
causa da crise da empresa, os poços africanos estavam com valores muito
depreciados quando comparados aos de concorrentes que também atuavam na África.
De acordo com os cálculos do banco, baseados em premissas otimistas para os
campos, o valor da Petrobras Africa na bolsa poderia alcançar algo entre US$ 11
bilhões e US$ 17 bilhões. A ideia era vender 25% da nova empresa.
Esse plano nunca chegou a ser testado. Segundo a Folha
apurou, o diretor financeiro, Almir Barbassa, foi contra, argumentando que a
companhia prometera aos investidores em 2010 que não abriria o capital de suas
subsidiárias separadamente, para não desvalorizar a empresa. Nesse momento, os
responsáveis pela transação foram afastados, e seus substitutos contrataram o
banco inglês Standard Chartered para organizar um leilão internacional. Os sul-africanos
do Standard Bank ficaram fora.
Foram convidados 14 potenciais interessados, mas apenas nove
apareceram. Quase todos recuaram depois que a estatal desistiu de vender a
totalidade dos ativos e passou a procurar um sócio. Apenas o BTG e a espanhola
Cepsa prosseguiram --a oferta dos espanhóis foi inferior. Os ativos foram
avaliados em cerca de US$ 4,5 bilhões. Mas dúvidas sobre uma possível mudança
na legislação da Nigéria, que poderia diminuir a rentabilidade das petroleiras,
diminuiu a avaliação para US$ 3,16 bilhões.
O BTG acabou levando metade por US$ 1,5 bilhão, mas a
mudança nas leis nigerianas até agora não saiu. Para o banco, o negócio foi tão
bom que, em menos de oito meses, começou a recuperar o capital investido e
tirou de lá US$ 150 milhões na forma de dividendos. Procurados pela Folha, a
Petrobras, o BTG e os outros bancos envolvidos com a transação não quiseram dar
entrevistas sobre o assunto.(Folha de São Paulo)
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