Com o objetivo de discutir os preços abusivos e
conscientizar a população, aconteceu
nesta terça-feira (18) a primeira edição do “Fala Vidigal: Ciclo de Debates” |
A alta dos preços também decepciona os moradores mais
antigos das comunidades. O turismo incentivou os comerciantes a elevarem os
preços de seus produtos. Contudo, Marcelo ressalta que “a maioria das pessoas
que está no Vidigal, mora aqui, e nem todos conseguem ou querem arcar com essas
altas”. Outro ponto levantado pelo presidente da Associação é que “o morador
antigo sempre sonhou com a pacificação e os seus benefícios, mas agora nem
todos podem aproveitar porque não podem mais ficar aqui”.
Marcelo também acredita que o perfil do Vidigal está
mudando. Ele conta que o Pico dos Irmãos está se tornando um dos maiores pontos
turísticos da comunidade, mas ainda não possui estrutura suficiente para
atender os visitantes. Outro ponto delicado são as edificações que estão sendo
construídas em áreas de forte turismo. “Elas podem atrapalhar a vista do
Vidigal, que é um dos seus maiores atrativos. Algumas pessoas compraram
terrenos próximos ao Mirante e nosso pedido é que elas não elevem essas construções”.
Assim como o Vidigal, outras comunidades estão sofrendo os
reflexos da especulação imobiliária. Na Zona Sul, a alta dos preços é mais
visível. No Morro dos Cabritos, o aluguel de um quitinete ultrapassa os mil
reais, segundo o presidente da Associação de Moradores, Danilo Ferreira de
Souza. “Muita gente do asfalto veio pra favela, inclusive estrangeiros. Pessoas
que saíram com medo da violência, voltaram. Os serviços públicos são
insuficientes para atender essa demanda. Questões básicas, como coleta de lixo
e saneamento precisam ser adaptadas para atender a todos com qualidade”, conta
o presidente. Danilo ressaltou também o aumento no número de estabelecimentos
comerciais na comunidade, principalmente bares e restaurantes.
No Morro da Babilônia, o preço do comércio seguiu o fluxo
dos imóveis. O presidente da Associação de Moradores, Carlos Palô, previne:
“hoje em dia, se você vier almoçar aqui, venha com dinheiro. Se não, você não
vai conseguir comer. Os preços estão lá em cima”. Ele também acredita que
“todas as comunidades pacificadas estão passando pela especulação imobiliária”.
Palô conta que, as pessoas que optaram por vender seus imóveis, conseguiram
fazê-lo por preços altos. Aqueles que resolvem alugar, também conseguem cobrar
mensalidades generosas. “A comunidade mudou e as pessoas mudaram. Tem gente que
veio morar de aluguel, gente que não é nativa da comunidade, até mesmo
estrangeiros”, explicou o presidente.
No Cantagalo, a chegada dos estrangeiros também chama a
atenção e mostra uma das maiores dualidades da especulação: enquanto os
moradores da comunidade não conseguem pagar os alugueis, a classe média fica
atraída pela possibilidade de pagar barato e continuar morando na Zona Sul.
Atraídos pelos preços e pela ideia de pacificação, os novos moradores optam por
alugar ou até mesmo comprar imóveis na comunidade. Conforme conta Luiz Bezerra,
presidente da Associação de Moradores do Cantagalo, “moradores que saíram,
estão querendo voltar e muita gente nova está alugando casa aqui”. Para ele, “os
preços realmente estão fora dos limites. O aluguel e o valor de venda das casas
triplicaram. Muita gente que queria se mudar e não conseguia um preço justo
pelo seu imóvel aproveitou a oportunidade e vendeu por mais que imaginava”.
*Do Projeto de Estágio do Jornal do Brasil
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