Dilma Rousseff perde o sono em dia de pesquisa e perde o
controle dos nervosos em noite de debate. É compreensível que se apavore ao
imaginar-se conversando com um jornalista independente. Ao escapar do encontro
com o excelente William Waack, a fugitiva do Jornal da Globo poupou o cérebro
baldio do colapso que seria inevitavelmente consumado pelas perguntas que aguardavam
a entrevistada. Confiram:
- Os últimos índices oficiais de crescimento indicam que o país entrou em recessão técnica. A senhora ainda insiste em culpar a crise internacional, mesmo diante do fato de que muitos países comparáveis ao nosso estão crescendo mais?
- A senhora continuará a represar os preços da gasolina e do diesel artificialmente para segurar a inflação, com prejuízo para a Petrobras?
- A forma como é feita a contabilidade dos gastos públicos no Brasil, no seu governo, tem sido criticada por economistas, dentro e fora do país, e apontada como fator de quebra de confiança. Como a senhora responde a isso?
- A senhora prometeu investir R$ 34 bilhões em saneamento básico e abastecimento de água até o fim do mandato. No fim do ano passado, tinha investido menos da metade, segundo o Ministério das Cidades. O que deu errado?
- Em 2002, o então candidato Lula prometeu erradicar o analfabetismo, mas não conseguiu. Em 2010, foi a vez da senhora, em campanha, fazer a mesma promessa. Mas foi durante o seu mandato que o índice aumentou pela primeira vez, depois de quinze anos. Por quê?
- A senhora considera correto dar dentes postiços para uma cidadã pobre, um pouco antes de ser feita com ela uma gravação do seu programa eleitoral de televisão?
O que há com Aécio Neves que até agora não formulou nenhuma
dessas perguntas ─ claras, concisas e contundentes ─ em debates na TV ou no
horário eleitoral? O que espera o terceiro colocado nas pesquisas (e em quda)
para acrescentar à sequência de interrogações dezenas de outras amparadas no
colosso de casos de polícia protagonizados pelo governo em decomposição? Por
que não força a candidata à reeleição a afundar agarrada a respostas bisonhas e
álibis mambembes? Para continuar sonhando com o segundo turno, Aécio deve
gastar muito mais chumbo com a presidente sem rumo do que com Marina. É Dilma a concorrente a ser batida.
A onda cavalgada por Marina parece exibir força e fôlego
suficientes para alcançar a praia do Planalto. É na onda antipetista, de dimensões
igualmente impressionantes, que Aécio Neves talvez consiga surfar. Aí reside a
chance derradeira. O PT está cada vez mais grisalho e enrugado. Sumiu o Lula
que instalava postes em qualquer gabinete. Quase todos os companheiros
candidatos a governador estão mal no retrato. Alguns resfolegam na zona do
rebaixamento. Em São Paulo, por exemplo, Alexandre Padilha, produzido e
dirigido pelo chefe supremo, nem chegou aos dois dígitos.
Até agora, os milhões de indignados com os fora da lei no
poder não têm porta-voz na temporada de caça ao voto. Nenhum candidato à
Presidência ou a governos estaduais traduz o que vai pela mente e pela alma
dos humilhados e ofendidos por 12 anos
de corrupção, descaramento, cinismo, inépcia, parcerias obscenas, cafajestagem,
arrogância, agressões à liberdade e ao Estado Democrático de Direito, fora o
resto.
Na paisagem eleitoral, falta o candidato da indignação.
Talvez haja tempo para que Aécio Neves se transforme no que desde sempre
deveria ter sido e não foi.
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