Por Nivaldo Cordeiro
É indubitável que o Brasil vive numa encruzilhada histórica.
Temos o PT governando há doze anos e bem vimos o que aconteceu: o partido
colocou o Estado, sua burocracia e seus recursos para o propósito megalomaníaco
de fazer do Brasil o centro da revolução latino-americana. Quem duvida disso
basta olhar para a diplomacia brasileira, outrora profissional, e hoje alinhada
com as piores causas internacionais. O Brasil deixou os EUA e a Europa de lado
e passou a cortejar regimes ou criminosos ou irrelevantes ou inimigos do
Ocidente: Rússia, China, Irã, Hamas e tutti quanti. E olhar também no que se
transformou o Mercosul, numa canga que tem impedido o crescimento do comércio
exterior brasileiro. A diplomacia brasileira virou piada internacional, um
arremedo, uma nulidade.
O mesmo aconteceu com órgãos como a Receita Federal. Nunca
os contribuintes foram tão perseguidos injustamente pelos sistemas da Receita
Federal e da Procuradoria da Fazenda Nacional. Uma verdadeira derrama está em
curso desde que Lula assumiu pela primeira vez. O risco jurídico no Brasil
ficou insuportável, sobretudo por causa do arbítrio e da insegurança fiscal.
Multa-se injustamente em valores milionários, ao arrepio da lei e da Justiça. O
mesmo vale para as agências reguladoras, agora senhoras dos empresários dos
setores que administram, inventando regras incumpríveis e multando-os
impiedosamente. O arbítrio burocrático nunca foi tamanho.
Associado a isso foi construído, pelo partido governante, o
mais formidável esquema de corrupção de todos os tempos. O Mensalão é um
exemplo, a Petrobras outro, mais recente. Todos sabem que a corrupção ganhou
ares epidêmicos em todos os níveis do governo federal. Para vender, receber o
que foi vendido e ter direitos reconhecidos dos fornecedores é sempre
oportunidade para a cobrança de pedágio por parte dos militantes petistas.
Criou-se uma tributação privada, embolsada pelos membros do partido e seus
aliados.
Nem é preciso falar da tentativa de implantar a revolução
cultural, via decreto. Temos ainda em vigor aquele que deu vida à tentativa de
sovietização dos órgão estatais, com a instituição dos tais conselhos
populares, que outra coisa não é que a nomeação de comissários partidários para
opinar e dirigir a administração pública. Com esse decreto tenta-se acabar com
a democracia representativa, que tem posto freios à ânsia revolucionária do PT.
A vigência do decreto em si é um escândalo, pois o PT não permitiu que o
Congresso Nacional se pronunciasse, revogando sua vigência por ser
inconstitucional.
O mesmo tem sido feito na área do aborto, esse crime infame
agora suportado e estimulado pelo Estado, contrariando o sentimento cristão da
maioria dos brasileiros. O governo do PT tem passado por cima de tudo que é
mais sagrado.
O PT empolgou o Estado, colocando no seu comando um
ajuntamento de celerados irresponsáveis, argentários e corruptos, de tal sorte
que puseram os destinos da nação em perigo. A economia desandou, a inflação
voltou e o desemprego cresce. A crise moral, todavia, é muito maior do que a
crise econômica que foi formada.
Essa situação exige que as pessoas conscientes lutem, talvez
pela derradeira vez se não tiverem êxito, para retirar o PT do poder pelo voto.
Penso que essa consciência se espalhou em toda parte e não ao acaso a candidata
oficial, contra todos os prognósticos, perdeu a liderança nas pesquisas de
intenção de votos. Quem, ainda ontem, dava apoio político ao PT, como as
classes empresariais e os banqueiros, hoje o recusa. Esse sentimento
generalizou-se.
As alternativas oposicionistas não são as melhores,
sobretudo pela ausência de uma candidatura liberal-conservadora típica. Aécio
Neves tem a estrutura do PSDB, mas agora sofreu o impacto do lançamento da
candidatura de Marina Silva, turbinada pela emoção nascida do desastre com
Eduardo Campos, que lhe deu ampla cobertura de mídia na véspera da eleição. A
onda Marina ainda não esgotou o seu crescimento e é provável que a candidata
seja consagrada pelas urnas.
Marina Silva tem a favor de si a coragem de ter levantado
uma bandeira conservadora, por pressão das igrejas evangélicas que lhe dão
apoio, e não por convicção. Mas o que vale e fica é o gesto. Ao modificar o
programa de governo no que se refere à questão gay, Marina Silva trouxe para si
os votos conservadores, que não têm qualquer motivo para votar em Aécio Neves,
que jamais fez gesto semelhante para esse segmento do eleitorado. Seus líderes
ainda continuam defendendo com força a revolução cultural. O próprio Fernando
Henrique Cardoso é o maior dos advogados da liberação das drogas.
A campanha de Aécio Neves prima pelo discurso da
competência, sem qualquer chance de empolgar o eleitorado. O PSDB quer ser um
PT civilizado, socialista comportado. É claro que o discurso socialista do PT é
mais consistente e tem mais credibilidade do que o do PSDB. Aécio Neves padece
em face da covardia do partido, que se recusa a ampliar sua base social, fato
unicamente possível junto ao eleitorado de centro-direita, que está sem
candidato.
Alguns argumentam que não há diferença entre as
candidaturas, mas considero isso um erro grave. O fato de todos os três
candidatos se dizerem socialistas e de terem presença do Foro de São Paulo não
os torna homogêneos. É claro que o PT é muito mais perigoso, muito mais
corrupto e tem uma força organizativa superior, bem como disposição para ir às
últimas consequências revolucionárias do que os candidatos da oposição.
Comungam de algumas ideias, mas não são iguais.
Cair nessa argumentação é não enxergar a realidade e recusar
fazer o que precisa ser feito: remover o PT do poder, ainda que para isso
tenhamos que votar em Marina Silva.
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