Por Felipe Werneck/Rio - Estadão
Durante homenagem, família de torturado defendeu
transformação de DOI-Codi em centro de memória da ditadura
Duas filhas do ex-deputado Rubens Paiva, assassinado em 1971
no antigo DOI-Codi (Departamento de Operações de Informações - Centro de
Operações de Defesa Interna) da Barão de Mesquita, na Tijuca, zona norte do
Rio, defenderam ontem a transformação do quartel em centro de memória,durante a
inauguração de um busto de bronze do pai. A homenagem, que reuniu cerca de 100
pessoas, ocorreu na praça Lamartine Babo, que fica em frente ao 1.º Batalhão de
Polícia do Exército, onde funcionou o principal centro de torturas no Estado
durante a ditadura militar (1964-1985).
Em cartazes,
manifestantes pediam a "abertura de arquivos da ditadura" e
"tortura nunca mais". No início da cerimônia, com o busto ainda
coberto, a voz de Rubens Paiva podia ser ouvida até mesmo dentro do quartel. Em
depoimento à Rádio Nacional no dia do golpe militar, o então parlamentar
conclama trabalhadores e universitários de São Paulo a fazer uma greve geral em
solidariedade ao presidente João Goulart.
Sentada na platéia improvisada, Eliana Paiva, uma das filhas,
abraçou a tia Maria Lúcia Paiva de Mesquita e chorou. "A gente tinha
ficado 43 anos sem ouvir a voz dele.Agora, é como se tivéssemos finalmente um
lugar para homenageá-lo", discursou Vera Paiva. A filha falou sobre a
dificuldade de encerrar o ciclo de luto, porque até hoje o corpo de Rubens
Paiva nunca apareceu. "O desaparecimento é uma forma de tortura também,
assumida pelo aparato militar, que continua acontecendo até hoje."
Falou ainda que a família se sente privilegiada, mas que há
muitas outras histórias a serem contadas. "Eu gostaria que esse ato fosse
o início do resgate da memória, da transformação desse espaço em um museu,como
a Comissão da Verdade do Rio (CEV-Rio) reivindica." Idealizada pelo
aposentado Lao Tsen, a homenagem foi uma iniciativa do Sindicato dos
Engenheiros no Estado do Rio– Rubens Paiva era engenheiro.
Inicialmente, o busto ficaria de frente para o quartel, mas
acabou sendo chumbado de costas para os militares. "Parece que ele está
saindo. Ficaria mais aflita se tivesse ao contrário", disse a filha
Eliana, que comemorou a decisão de quarta-feira do Tribunal Regional Federal da
2.ª Região sobre o caso Rubens Paiva. Pela primeira vez, um tribunal brasileiro
reconheceu que assassinatos e desaparecimentos de corpos atribuídos a agentes
da ditadura são crimes contra a humanidade, seguindo o entendimento do
Ministério Público Federal de que não se aplica a Lei da Anistia.
Fonte: A Verdade Sufocada
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