SALÁRIO INCOMPLETO — Médicos cubanos são recebidos
em Porto
Alegre, em abril passado (Foto: Claiton Dornelles/CBR)
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OPAS, QUE NEGÓCIO É ESSE?
A relação da organização de saúde com o governo brasileiro
vai além da transferência de recursos para Cuba
Reportagem de Leonardo Coutinho
publicada em edição impressa
de VEJA
Há um ano, em agosto de 2013, chegavam ao Brasil os
primeiros cubanos que vieram dar corpo ao Mais Médicos, do Ministério da Saúde.
Antes mesmo que os 400 profissionais enviados por Cuba desembarcassem, já
estava claro que o programa tinha uma finalidade eleitoreira – aumentar o
número de consultas em regiões pobres sem muita preocupação com a qualidade e
sem resolver os problemas estruturais da saúde pública nacional – e outra
ideológica – auxiliar financeiramente um regime ditatorial decadente.
O balanço desses doze meses mostra que a transferência de
dinheiro do contribuinte brasileiro para os cofres de Raúl Castro foi de nada
menos que 1,16 bilhão de reais, já descontados os cerca de 75 milhões de reais
que a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) recebeu por intermediar o
negócio e os 260 milhões de reais que o governo cubano efetivamente repassou
aos seus médicos em atuação no Brasil.
Os médicos só recebem 30% do que deveriam: o resto fica com
a ditadura cubana
Isso porque, do salário de 10 400 reais mensais a que
oficialmente os profissionais do Mais Médicos de qualquer nacionalidade têm
direito, os cubanos recebem apenas 30%. O restante é confiscado por seu
governo. Atualmente, há 11 400 médicos de Cuba no Brasil participando do programa
e, portanto, sendo submetidos a essa situação discriminatória.
O Ministério da Saúde já negocia para aumentar esse número
e, consequentemente, injetar ainda mais dinheiro na combalida ditadura
comunista.
Sob qualquer ótica, o lucro líquido que Raúl Castro tem com
a exploração da mão de obra barata enviada ao Brasil é portentoso. A quantia de
1,16 bilhão de reais equivale a quase um terço do total investido pelo governo
brasileiro na ampliação, reforma e construção de hospitais, postos de saúde e
Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em 2013.
Para Cuba, obviamente, o valor é ainda mais impactante, pois
supera em cinco vezes toda a receita anual de exportações da ilha para o
Brasil. Recentemente, a cubana Maritza Rivaflecha Castellano foi bastante
direta ao avaliar a importância do dinheiro brasileiro para a sobrevivência do
regime no site do jornal oficial Granma: “Os trabalhadores de saúde, na atual
batalha econômica do nosso povo, exercem papel de protagonistas no aporte de
numerosas entradas de recursos em nossa economia”.
Médicos são controlados e espionados
Maritza faz parte do grupo de 28 “coordenadores” que estão
espalhados pelo Brasil e que, com um salário mensal de 25 000 reais, têm a
função de controlar e espionar os médicos cubanos para evitar que eles fujam,
engravidem ou violem qualquer outro item da cartilha de conduta recebida antes
de partirem da ilha. Em outros períodos históricos, dava-se a quem exercia essa
função o nome de “capataz”.
É de perguntar por que a Opas, uma entidade vinculada à
Organização Mundial de Saúde (OMS), da ONU, se coaduna com essas relações de
trabalho imorais, para dizer o mínimo.
Há pelo menos duas explicações para isso. Primeiro, porque o
quadro de altos funcionários da Opas é dominado por gente alinhada
ideologicamente com Cuba ou diretamente indicada pelo regime castrista.
Esse é o caso do chefe da entidade no Brasil, o cubano
Joaquín Molina, um dos arquitetos do programa Mais Médicos, junto com o
ex-ministro Alexandre Padilha, hoje candidato ao governo do Estado de São Paulo
pelo PT.
Segundo, porque a Opas, cuja gestão atual não é das mais
competentes nem transparentes, fechou 2013 com um déficit de 2,6 bilhões de
dólares e depende imensamente das contribuições regulares e das comissões por
serviços prestados repassadas pelo Brasil.
Os tais “serviços” não se restringem à importação de médicos
cubanos. A Opas também atua no Brasil intermediando a compra de medicamentos e
a contratação de consultores de saúde. As parcerias com a entidade aumentaram
muito no governo do PT. Na última década, os pagamentos do Brasil à Opas quase
triplicaram – e isso sem contar os aportes feitos por causa do programa Mais
Médicos.
Em 2004, o Tribunal de Contas da União descobriu que a
comissão cobrada pela Opas variava de um contrato para outro com o governo. O
TCU considerou essa falta de critério ilegal, e o governo baixou uma norma
estabelecendo a fatia da Opas em 5% do valor dos projetos. No governo Dilma
Rousseff, a Opas faturou 130 milhões de reais somente em comissões.
Em 2011, os ministros do TCU definiram como irregular a
maneira como o Ministério da Saúde contrata funcionários por meio da Opas. “Os
consultores, em sua grande parcela, não prestam serviços especializados. De
forma geral, tais consultores desempenham as mesmas atividades que os servidores
efetivos e os temporários”, afirma um documento da Controladoria-Geral da União
(CGU) de julho do ano passado.
Em 2011, a CGU já havia pedido o fim dos contratos de
consultoria com a Opas e classificou-os de ilegais. A maioria dos consultores
nem sequer tinha pós-graduação e não apresentava as qualificações necessárias
para os serviços contratados.
Os auditores da CGU também descobriram que 59 das 183
pessoas que davam expediente na Secretaria de Gestão Estratégica e
Participativa do Ministério da Saúde eram “consultores”. Ou seja, o governo
estava usando a intermediação da Opas para burlar os mecanismos de mérito e de
transparência na contratação de funcionários. Afinal, por ser um organismo
internacional, a Opas não é obrigada a prestar contas de seus gastos ou
justificar seus critérios de recrutamento.
Apesar das recomendações do TCU e da CGU, a prática de
aparelhar os órgãos federais de saúde com funcionários que não prestaram
concurso público nem tiveram o nome e o salário divulgados, como ocorre
inclusive com os cargos comissionados, continua.
VEJA obteve, por meio da Lei de Acesso à Informação, a lista
dos contratos firmados com a Opas. Somente em 2013 foram fechadas 1 229
parcerias de consultoria, a um custo de 68 milhões de reais. Os “consultores”
da Opas têm rendimento mensal médio de 5 500 reais. Alguns chegam a receber 15
000 reais por mês.
O último relatório financeiro da Opas demonstra preocupação
com a possibilidade de o programa Mais Médicos ser julgado inconstitucional
pelo Supremo Tribunal Federal. Afinal, assim como a ditadura cubana, a entidade
ganha muito com a generosidade do governo brasileiro.
A filial de Cuba nos pampas
O governo federal não está sozinho no esforço de sustentar
financeiramente a ditadura cubana. O governador petista Tarso Genro, do Rio
Grande do Sul, também se mostra empenhado nisso. Ele pretende anunciar neste
ano a construção, no estado, de cinco fábricas de insumos biológicos e de um
laboratório farmacêutico em consórcio com a estatal cubana Labiofam.
CIÊNCIA TOSCA — Com técnicas de fundo de quintal,
funcionário cubano extrai veneno do escorpião-azul
(Foto: VEJA)
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O plano é produzir em escala industrial microrganismos que
possam ser empregados na agricultura no lugar de defensivos agrícolas e
fertilizantes químicos. Um desses produtos é o Nitrofix, que teria a função de
fixar nitrogênio no solo. Não há nenhuma evidência de que ele funcione. Em Cuba,
1 hectare plantado de soja não produz mais que vinte sacas do grão. No Brasil,
a média é de cinquenta sacas e, no Rio Grande do Sul, um produtor colheu no mês
passado 108 sacas por hectare.
A Embrapa, uma das principais ilhas de excelência em
pesquisa agropecuária do planeta, possui uma divisão de pesquisas dedicada à
agrobiologia, mas o governo gaúcho preferiu se associar aos cubanos. As
fábricas de insumos custarão 60 milhões de dólares para os contribuintes
gaúchos.
Já o laboratório da Labiofam, a ser instalado na cidade de
Santa Maria, deverá produzir um “remédio” a partir do veneno de um escorpião
endêmico de Cuba, o alacrán. O Vidatox, como é chamado o produto, já foi
apresentado pelo governo cubano como um milagroso medicamento contra vários tipos
de câncer.
O pedido de liberação no Brasil já foi entregue à Anvisa. Não há, porém, um único artigo científico em revistas internacionais que avalie o produto. Na apresentação da Lei do Orçamento de 2014, Genro dá pistas dos motivos de sua benevolência com o regime comunista de Cuba. O texto denuncia a globalização, prevê uma possível transição para o socialismo (veja abaixo), defende o distanciamento do Brasil em relação aos Estados Unidos, ataca a “grande mídia” e enaltece o modelo chavista de governo.
O pedido de liberação no Brasil já foi entregue à Anvisa. Não há, porém, um único artigo científico em revistas internacionais que avalie o produto. Na apresentação da Lei do Orçamento de 2014, Genro dá pistas dos motivos de sua benevolência com o regime comunista de Cuba. O texto denuncia a globalização, prevê uma possível transição para o socialismo (veja abaixo), defende o distanciamento do Brasil em relação aos Estados Unidos, ataca a “grande mídia” e enaltece o modelo chavista de governo.
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