Por Percival Puggina
A cartilha manda
repetir sempre as mesmas coisas, ainda que não resistam a uma acareação com os
fatos, porque a repetição se impõe à razão e acaba sendo mais convincente do
que eles. Não importa que o realejo cause lesão por esforço repetitivo. O
resultado compensa.
Assim, ao longo dos
anos, nossos ouvidos enrouqueceram de escutar que o país vivia sob um sistema
econômico iníquo, que gerava aberrantes desníveis de renda e concentração de
riqueza. Tão repetida cantoria acabou por convencer cautos e incautos de que
somente uma guinada para a esquerda poderia nos conduzir ao éden da igualdade,
da justiça e da prosperidade geral. Gradualmente, então, foi se abrindo a porta
para o socialismo, apesar de os fatos, pela janela, berrarem que isso é uma
loucura e que tal sistema não consegue apresentar um único caso de prosperidade
e democracia. Têm razão os fatos: o anunciado socialismo, sempre, excetuadas
suas elites, igualou a todos na pobreza, e só ao Estado concedeu liberdades.
Mas isso quase ninguém diz e é nesse caminho que estamos sendo lenta e
docilmente conduzidos.
O mais insólito nesse percurso é o próprio governo e seu
partido, que se declaram socialistas, após 12 anos de gestão, terem que negar
os fatos que os olhos mostram e insistirem em que a pobreza diminuiu.
Agravou-se, assim, a situação de todos os que são pobres de fato. Eles deixaram
de existir nas contas do governo.
O efeito da repetição é tão eficiente que o sujeito que
escreve o que acabei de escrever passa a ser visto como um brutamontes
destituído de sentimentos humanos. De nada vale dizer que não há concentração
de renda maior do que aquela promovida por um aparelho estatal que fica com
quase a metade de tudo que a nação produz. De nada vale denunciar esse Robin
Hood burocrata que toma de quem tem (e de quem não tem) para dar ao insaciável
governo. De nada vale informar que essa brutal, perversa e inútil concentração
de renda nas mãos do Estado é típica do socialismo, avessa ao empreendedorismo
e à economia de mercado. Com o tempo, só fará aumentar a pobreza do país.
Escrevo de teimoso, portanto: a persistência da pobreza que
o governo se recusa a reconhecer têm como causa esse crescente avanço do Estado
sobre a economia nacional. Não bastasse a robusta mordida de leão, o governo,
no curto prazo, ainda toma dívidas em nome das gerações futuras. Mais
ganancioso e perverso, só traficante.
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