Aproveitando o idealismo dos jovens, sua ousadia, sua
esperança de poder reformar o mundo, o PCB reunia grupos e, discutindo
política, incutia nos jovens as ideias do Manifesto Comunista de Marx e Engels.
As organizações de esquerda, tendo como suporte experientes militantes
comunistas, sempre dispensaram especial atenção ao recrutamento dos jovens -
mesmo aqueles no início de sua adolescência -, conhecedores da sua
impetuosidade, da alma sonhadora, inquieta e aventureira da juventude. A
penetração de ideias subversivas era feita no momento em que o jovem sentia os
problemas sociais no meio em que vivia.Todas as organizações deram destaque
especial ao setor de recrutamento. Normalmente, esse setor era dirigido por
elementos altamente politizados, verdadeiros líderes, de fácil trânsito no meio
jovem. Os contatos eram estabelecidos entre os elementos mais permeáveis às
novas idéias. Eles eram sondados pelos organismos de fachada das organizações.
Por exemplo, a Dissidência da Guanabara (DI/GB), depois MR-8, tinha na sua
estrutura os chamados Grupos de Estudo (GE), especialmente voltados para o
aliciamento dos jovens.
O recrutamento começava, geralmente, em reuniões sociais,
shows, bares, colégios e faculdades. Inicialmente, reuniões informais, sem
intenções políticas. Depois, os indivíduos que mais se destacavam eram reunidos
para discussões em torno de fatos políticos que haviam causado impacto no
âmbito internacional ou nacional. Ardilosamente, o coordenador da reunião
induzia o debate, conectando-o com a situação socioeconômica do Brasil e
explorando o espírito contestador do jovem contra o sistema.
A discussão dos problemas era feita em nível mais amplo.
Nessa etapa, distribuíam textos que, partindo dos problemas gerais, se dirigiam
aos problemas brasileiros. Esses textos, normalmente escritos e publicados por
membros da organização, não davam margem a qualquer discussão. Levavam a pessoa
a concluir que o sistema vigente era totalmente ineficiente, incapaz,
explorador e corrupto.
Adquirida a confiança dos jovens, o líder sugeria uma
mudança estrutural do regime vigente no País.
Qualquer crise, insatisfação popular e reivindicação de
grupos eram estopins a serem aproveitados como “ganchos”, e explorados para
despertar no jovem o desejo de mudar a realidade existente, nem sempre
agradável, e criar uma nova condição social. O próximo passo era sugerir aos
jovens, aventureiros e “reformadores do mundo”, idéias para concretizar a
mudança: a revolução social, inicialmente apresentada como pacífica, para
quebrar resistências e comprometê-los com o grupo.
Aos poucos, encantados com a idéia de um mundo melhor, eram
envolvidos de forma lenta e ardilosa. Ávidos por mudanças, propunham-se,
inicialmente, a apoiar a organização. Contribuíam com dinheiro, mantinham
material subversivo e militantes escondidos em suas casas, cediam automóveis
para deslocamentos e locais para reuniões. Depois, praticavam pequenas ações,
como panfletagem, entrega de mensagens, transporte de material e levantamentos.
Progressivamente, eram escalados para dirigir carros, sem
saberem o que, exatamente, seria feito. Num crescente, iam se envolvendo em
ações mais comprometedoras e perigosas, perdiam o medo e passavam a considerar
questão de honra participar de atos arriscados e ter um bom desempenho perante
o grupo. Nessa etapa, era chegada a hora de se afirmarem como guerrilheiros.
A organização, por sua vez, os envolvia cada vez mais. Até
que um dia não só dirigiam carros, mas já os furtavam; quando “abriam os olhos”
já estavam participando de ações armadas, explosões de bombas e, finalmente,
participavam de um assassinato. Nesse momento, descobriam que não tinham mais
volta. Largavam a família, o emprego, os estudos e passavam a viver na clandestinidade,
usando nomes falsos. Tornavam-se cada vez mais dependentes da organização.
Dependiam economicamente dela, ficando sujeitos a praticar qualquer ação para a
qual tivessem sido designados. Passavam a viver em “aparelhos” com pessoas das
quais apenas sabiam o codinome. Deslocavam-se por todo o País e perdiam a
liberdade.
A prática de ações armadas tornava-se rotina. Em muitos
casos, eram enviados ao exterior para cursos de guerrilha e de capacitação
política. Cerca de 150 militantes foram para Cuba, 120 para a China e outros
para a União Soviética. Seus princípios se alteravam e se submetiam às
condições impostas pela organização.
Depois dos cursos, ocupavam cargos de coordenação ou chefia
dentro da organização. Nessa altura, sua formação ideológica tinha normas tão
rígidas de comportamento que não havia mais volta. Em casos de arrependimento,
corriam o risco de serem “justiçados”. Frente à repressão, esses quadros eram
orientados a não se entregarem vivos. Eram ensinados a resistir até a morte.
A lavagem cerebral e o comprometimento com as organizações
subversivas os tornavam reféns do terror e verdadeiros autômatos. Família,
pátria, religião passavam a ser “alienações da burguesia”. Em suas mentes só
havia espaço para as convicções ideológicas que lhes impregnaram e que, em
muitos casos, levaram-nos à morte em enfrentamentos com os órgãos de segurança.
O recrutamento dos jovens talvez tenha sido o pior crime
cometido pela esquerda armada no Brasil, pois levou rapazes e moças a crimes
hediondos, corrompendo-os e tornando-os verdadeiras “buchas de canhão”.
Manipular criminosamente o idealismo da juventude foi mais
uma demonstração de que, para a esquerda revolucionária, os fins, realmente,
justificam os meios.
Fonte: A Verdade Sufocada – A História que a esquerda não
quer que o Brasil conheça – Carlos Alberto Brilhante Ustra – 10ª Edição
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