Em coluna publicada hoje, na Folha de São Paulo, o
presidente do PSDB, Aécio Neves, acusa o governo de aparelhar os órgãos de
estado, que o PT trata como se fossem instituições do governo. O titulo do
artigo é " Gol de mão", que comparar o que Dilma fez com o IBGE com a
manipulação de dados imposta ao Idec argentino por Cristina Kirchner,
desacreditando o país diante do mundo.
O intolerável grau de aparelhamento do Estado brasileiro pelo
PT chegou às instituições de pesquisa, guardiãs do conhecimento e da informação
que serve ao desenvolvimento do país. O Brasil corre o risco de entrar na mesma
rota que levou a Argentina a perder credibilidade quanto às suas estatísticas
oficiais.
O episódio recente em torno do IBGE passou a muitos a
impressão de que o instituto estaria dando um perigoso passo na direção dos
problemas que minaram o Instituto Nacional de Estadística y Censos (Indec), do
nosso vizinho, cujos dados sobre inflação e PIB são considerados tão corretos
quanto o célebre gol de mão feito por Maradona contra a Inglaterra.
Se a "mão de Deus", expressão usada pelo próprio
atacante para descrever o lance, ajudou a Argentina a ganhar o jogo, seu uso
nas estatísticas não melhora em nada a vida dos argentinos. Não saber o que de
fato se passa na economia de um país afugenta novos investimentos, com impacto
negativo sobre o desenvolvimento.
O IBGE entrou em convulsão depois que o PT colocou em dúvida
a nova metodologia usada pelo órgão, que, ao ampliar a base de pesquisa, traz
novos dados, por exemplo, sobre o desemprego no país. Era o que faltava: o
partido querer atribuir à sua base aliada a tarefa de avaliar metodologia de
pesquisa.
Apesar da contestação de vários profissionais, a Pnad
Contínua teve sua divulgação adiada para depois das eleições. Assim, é preciso
concordar com Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE: a suspensão em momento
eleitoral levanta suspeitas sobre a falta de autonomia do órgão.
Dias antes, o sinal vermelho já havia sido acendido no Ipea.
A informação de que o instituto abriu, em 2010, escritório na Venezuela, e que
lá tem produzido textos em apoio ao chavismo, surpreendeu muita gente.
Especialmente os que já lamentavam que, apesar da resistência profissional de
tantos dos seus membros, o Ipea estivesse sendo usado para tentar dar
sustentação a "verdades" petistas. Nos mesmos dias, a imprensa
denunciou a crise na Embrapa com as nomeações políticas.
O assunto é grave. Instituições brasileiras, com credibilidade
conquistada através do merecido reconhecimento do país ao trabalho de inúmeros
pesquisadores e profissionais, não podem ter interrompida esta importante
trajetória.
Precisamos defender a autonomia das nossas instituições,
diante de qualquer pressão política. Elas pertencem ao país e não ao governo.
Até porque, depois do Ipea, do IBGE e da Embrapa, alguém pode ter a ideia de
interferir no Inep para controlar os dados de educação e no CNPq para patrulhar
as pesquisas.
O Brasil não merece isso.
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