BRASÍLIA (Reuters) - O governo da presidente Dilma Rousseff
vê com bons olhos a eventual participação de Luiz Inácio Lula da Silva no
ministério, embora o ex-presidente, alvo da mais recente fase da operação Lava
Jato, resista à ideia.
O ministro da Secretaria de Governo,Ricardo Berzoini,
afirmou nesta quarta-feira que o ex-presidente pode assumir um ministério, em
meio a notícias sobre essa possibilidade. Segundo Berzoini, uma nomeação
depende apenas “de ele (Lula) querer”.
“A bola sempre esteve com ele”, disse Berzoini, ao ser questionado
sobre o assunto. “Para o governo é bom. Qual governo não vai querer pôr o Pelé
em campo?”, comparou.
Caso assuma um ministério, o ex-presidente passará a ter
foro privilegiado junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). Lula foi o principal
alvo da 24ª da Lava Jato, deflagrada na sexta-feira, e foi obrigado a prestar
depoimento à Polícia Federal após mandado de condução coercitiva expedido pelo
juiz federal Sérgio Moro, que cuida das ações da operação na primeira
instância.
O ato de Moro acendeu a luz vermelha no PT e no governo, que
passou a ver chances reais de o ex-presidente ser preso.
Até agora, a alternativa mais provável para Lula na
Esplanada seria o Ministério das Relações Exteriores, com o qual o
ex-presidente tem uma grande afinidade e seria bem recebido pela maior parte
dos diplomatas - dentro do Itamaraty, os tempos da pasta durante o governo Lula
ainda são lembrados com saudade.
Outra possibilidade seria a Secretaria de Governo,
responsável pela articulação política e a cargo hoje de Berzoini.
No entanto, de acordo com duas fontes próximas ao
ex-presidente, Lula ainda resiste a voltar ao governo, mas a pressão do PT tem
aumentado e estaria surtindo efeito.
De acordo com uma dessas fontes, um advogado amigo de Lula
analisou as informações disponíveis no processo da Lava Jato e sinalizou ao
ex-presidente que, da forma como a investigação está sendo feita, há indícios
de que a intenção é realmente prendê-lo.
"A melhor chance seria ele (Lula) assumir um ministério
para o processo ir ao STF e ter um julgamento justo", disse a fonte ligada
ao ex-presidente. Ela reconheceu, no entanto, que Lula continua resistindo à
ideia por achar que seria uma confissão de culpa e um ato de covardia.
Uma fonte palaciana disse à Reuters que Dilma deixou claro a
Lula que o governo está aberto para que ele ocupe o cargo que achar mais
adequado e que não é preciso convite, apenas a decisão do ex-presidente.
A ideia de levar Lula para o ministério de Dilma já havia
surgido no ano passado, durante a reforma ministerial, justamente para dar foro
privilegiado ao ex-presidente, mas não prosperou porque Lula recusou essa
possibilidade acreditando que não seria necessário.
O governo sabe que enfrentará enormes críticas se nomear
Lula para um ministério com o claro intuito de protegê-lo da Lava Jato, mas
avalia que ainda assim é um movimento necessário.
"Seria bom para ele, mas bom para o governo também, que
precisa de um apoio na área política", disse a fonte palaciana, que pediu
anonimato. "Seria um desgaste para o governo, mas depois passa",
acrescentou.
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