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Swetlana Alexievich
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Abaixo uma dolorosa reflexão da jornalista russa Swetlana Alexievich,
em 1991, após Boris Yeltsin enterrar o PCUS e a União Soviética e ressuscitar a
Rússia
Despedimo-nos dos tempos soviéticos. Dessa nossa vida. Tentarei escutar
honestamente todos os participantes do drama socialista
O comunismo tinha um plano louco — transformar o homem "antigo", o
vetusto Adão. E isso foi conseguido; foi talvez a única coisa que se conseguiu.
Em pouco mais de setenta anos, no laboratório do marxismo-leninismo criou-se um
tipo humano especial — o Homo Sovieticus. Há quem
considere que esse é um personagem trágico; outros chamam-no de sovok¹.
Eu acho que conheço esse homem, que o conheço muito bem, estou ao lado
dele, vivi muitos anos ombro a ombro com ele. Ele sou eu. São os meus
conhecidos, os meus amigos, os meus progenitores. Durante alguns anos viajei
por toda a anterior União Soviética, porque o Homo Sovieticus não
são apenas os Russos, são também os Bielorrussos, os Turcomanos, os Ucranianos,
os Cazaques... Agora vivemos em Estados distintos, falamos línguas diferentes,
mas somos inconfundíveis.
Imediatamente reconhecíveis! Todos nós, gente do socialismo, somos
parecidos com as outras pessoas e diferentes delas — temos o nosso dicionário,
a nossa compreensão do bem e do mal, dos heróis e dos mártires. Temos uma
relação especial com a morte. Nas histórias que eu escrevo, há palavras que
ferem constantemente o ouvido:"disparar", "fuzilar",
"liquidar", "pôr em circulação" ou variantes soviéticas
de "desaparecimento" como: "detenção", "dez
anos sem direito de correspondência", "emigração". Quanto
pode valer uma vida humana, se nos lembramos de que ainda há pouco morreram
milhões? Estamos cheios de ódio e de preconceitos. Tudo vem de lá, de onde
havia o GULAG² e a guerra medonha. Coletivização, deskulakização, deslocação
das populações.
Isto era o socialismo e era simplesmente a nossa vida. Nesse tempo
pouco falávamos dela. Mas agora, que o mundo mudou irrevogavelmente, essa nossa
vida tornou-se interessante para todos - não importa como ela fosse, era a
nossa vida. Escrevo, procuro nos grãozinhos, nas migalhas da história do
socialismo "doméstico" "interior". A maneira como
ele vivia na alma humana. Atrai-me sempre esse pequeno espaço — a pessoa, uma
pessoa. Na verdade, é aí que tudo acontece.
Porque é que há no livro tantos relatos de suicídios, e não dos
soviéticos comuns, com biografias soviéticas comuns? Afinal de contas as
pessoas também se suicidam por amor, por velhice, sem mais nem menos, por
interesse, pelo desejo de descobrir o segredo da morte... Procurei aqueles em quem
cresceu firmemente a idéia, que a interiorizaram de um modo impossível de
erradicar — o Estado tornou-se o seu cosmos, substituiu tudo, até a sua própria
vida. Não conseguiam sair da grande história, despedir-se dela, ser felizes de
outro modo. Mergulhar... Perder-se na existência privada, como acontece
atualmente, em que o pequeno se tornou grande.
O homem quer apenas viver, sem uma grande idéia. Isso nunca aconteceu
na vida russa, nem a literatura russa conhece isso. Em geral nós somos gente
guerreira. Ou combatíamos, ou preparávamo-nos para a guerra. Nunca vivemos de
outro modo. Daí a psicologia militar. E mesmo na vida de paz tudo acontecia de
um modo militar. Soava o tambor, soltavam-se as bandeiras o coração saltava do
peito, o homem não notava a sua escravidão, até gostava dela.
Também eu me lembro: depois da escola, toda a classe se reunia para ir
para as terras virgens, desprezávamos aqueles que se recusavam, lamentávamos
até às lágrimas que a revolução, a guerra civil — tudo acontecesse sem a nossa
participação. Olhamos para trás: será possível que fôssemos nós? Que fosse eu?
E recordei tudo isso juntamente com os meus heróis. Um deles disse: "Só
o homem soviético pode compreender o homem soviético". Éramos pessoas
que só tínhamos memória comunista. Vizinhos pela memória.
O meu pai recordava que pessoalmente passou a acreditar no comunismo
depois do vôo de Gagárin. Somos os primeiros! Podemos fazer tudo! Era assim que
ele e a minha mãe nos educavam. Eu fui outubrista³, usava o emblema com o
menino de cabelos frisados, fui pioneira,komsomolka. A desilusão veio
mais tarde.
Depois da perestroika esperávamos que abrissem os
arquivos. Abriram-os. Ficamos sabendo a história que escondiam de nós.
"Devemos atrair para nós noventa ou cem milhões que povoam a Rússia
Soviética. Com os restantes não devemos falar — é preciso , exterminá-los"
(Zinóviev, 1918).
"Enforcar (sem falta, enforcar, para que o povo veja) não menos
de mil kulaks presos, que enriquecem, e tirar-lhe todos os cereais, designar
reféns... De tal modo que a cem quilômetros em redor o povo veja e trema" (Lênin,
1918).
"Moscou está literalmente a morrer de fome" (professor
Kuznetsov para Trotski). "Isso não é fome. Quando Tito ocupou
Jerusalém, as mães judias comiam os seus filhos. Quando eu forçar as vossas
mães a comerem os seus filhos, então pode vir ter comigo e dizer: 'Temos
fome'" (Trotski, 1919).
As pessoas liam os jornais e as revistas e calavam-se. Sobre elas caiu
um horror insuportável! Como viver com isto? Muitos receberam a verdade como
uma inimiga. E a liberdade também. "Não conhecemos o nosso país. Não
sabemos em que pensa a maioria das pessoas, vemo-las, encontramo-las todos os
dias, mas não sabemos em que pensam, nem o que querem.
Mas temos a ousadia de lhes ensinar. Depressa saberemos tudo, e
ficaremos horrorizados", dizia um conhecido meu, com quem muitas vezes
me sentava a conversar na minha cozinha. Eu discutia com ele. Isto acontecia em
1991... Tempo feliz! Acreditávamos que no dia seguinte, literalmente amanhã,
começaria a liberdade. Começaria do nada, dos nossos desejos.
Dos Cadernos de Apontamentos de Chalámov: "Participei
de uma grande batalha perdida por uma verdadeira atualização da vida".
Isto foi escrito por um homem que passou 17 anos de detenção nos campos
stalinistas.
A nostalgia do ideal manteve-se... Eu dividiria as pessoas soviéticas
em quatro gerações: stalinista, khruschovista, brejnevista e gorbatchovista.
Pessoalmente, pertenço à última. Para nós era mais fácil aceitar o colapso da
idéia comunista, porque não vivemos no tempo em que a idéia era jovem, forte,
sem a perdida magia do romantismo fatal e das esperanças utópicas. Crescemos no
tempo dos velhos do Kremlin. Nos magros tempos vegetarianos. O grande sangue do
comunismo já estava esquecido. O entusiasmo continuava os seus desmandos, mas conservava-se
o conhecimento de que não era possível aplicar a utopia na vida.
Isto aconteceu durante a Primeira Guerra da Chechênia... Conheci em
Moscou, numa estação de caminho de ferro, uma mulher que era das proximidades
de Tambov e estava de partida para a Chechênia, com o objetivo de tirar o filho
da guerra: "Não quero que ele morra. Não quero que ele mate."
O Estado já não dominava a alma dela. Era uma pessoa livre. Eram poucas as
pessoas assim. A maioria eram aqueles a quem a liberdade irritava: "Comprei
quatro jornais e cada um deles tem a sua verdade. Onde está então a verdade?
Dantes líamos de manhã o jornal Pravda e sabíamos tudo.
Compreendíamos tudo." As idéias saíam lentamente de sob a narcose. Se
eu iniciava uma conversa acerca do arrependimento, ouvia em resposta:
"De que devo eu arrepender-me?" Cada qual se
considerava vítima, mas não participante. Um dizia: "Eu também estive
preso." O segundo dizia: "Eu combati." E um terceiro:
"Levantei a minha cidade das ruínas, acartava tijolos dia e noite".
Isto era completamente inesperado: todos bêbados de liberdade, mas não
preparados para a liberdade. E onde estava ela, a liberdade? Só na cozinha,
onde por hábito continuavam a criticar o Poder. Criticavam Yeltsin e
Gorbatchov. Yeltsin porque traíra a Rússia. E Gorbatchov? Gorbatchov porque
traíra tudo. Todo o Século 20. E agora, o nosso país será igual aos outros.
Será como todos. Pensavam que desta vez se conseguiria. A Rússia mudara e
odiava-se a si mesma por ter mudado. "O Mongol imóvel",
escreveu Marx acerca da Rússia.
Civilização soviética... Apresso-me a registrar os seus vestígios. As
caras conhecidas. Interrogo não acerca do socialismo, mas acerca do amor, do
ciúme, da infância, da velhice. Sobre a música, as danças, os penteados. Sobre
os mil pormenores da vida que desaparecia. Este é o único meio de dirigir a
catástrofe para o quadro do habitual e tentar contar alguma coisa. Adivinhar
alguma coisa. Não paro de me espantar com a maneira como a vida humana comum é
interessante. Com a interminável quantidade das verdades humanas. A
história interessa-se apenas pelos fatos, e as emoções ficam fora de bordo. Não
é costume admití-las na história. Mas eu olho para o mundo com os olhos de uma
humanista e não de uma historiadora. Fico surpreendida com a pessoa...
O meu pai já não é deste mundo. E eu não posso terminar uma das nossas
conversas... Dizia que morrer na guerra era mais fácil para ele do que para os
rapazes que agora morrem na Chechênia. Nos anos 1940, iam de um inferno para
outro inferno. Antes da guerra, o meu pai estudou em Minsk, no Instituto de
Jornalismo. Lembrava-se de que quando voltavam das férias, muitas vezes já não
encontravam um único professor conhecido, estavam todos presos. Eles não
compreendiam o que se passava, mas era horrível. Horrível, como na guerra.
Tive poucas conversas francas com o meu pai. Ele tinha pena de mim. E
eu, tinha pena dele? Tenho dificuldade em responder a esta pergunta... Éramos
implacáveis com os nossos pais. Parecia-nos que a liberdade era uma coisa muito
simples. Passou algum tempo, e nós próprios nos curvamos sob o peso dela,
porque ninguém nos ensinou a liberdade. Ensinaram-nos apenas como morrer pela
liberdade.
Ei-la, a liberdade! É como a esperávamos? Estávamos prontos para morrer
pelos nossos ideais, para combater na batalha. Mas começou uma vida . Sem
história. Ruíram todos os valores, menos o valor da vida. Da vida em geral.
Novos sonhos: construir uma casa, comprar um bom carro, plantar uma
groselheira... A liberdade revelou-se a reabilitação da pequena burguesia,
habitualmente maltratada na vida russa. Liberdade de Sua Majestade o Consumo.
Majestade das trevas. Trevas dos desejos, dos instintos — da vida humana
oculta, da qual fazíamos uma idéia aproximada.
A toda a história sobrevivemos, mas não vivemos. E agora a experiência
militar já não era necessária, era preciso esquecê-la. Milhares de novas
emoções, estados, reações De súbito tudo em redor como que se tornou diferente:
as tabuletas, as coisas, o dinheiro, a bandeira E até o próprio homem.
Tornou-se mais colorido, solto, explodiram o monólito, e a vida espalhou-se em
ilhas, átomos, células. Como em Dalh: liberdade-vontade, liberdadezinha ampla
vastidão.
O grande mal tornou-se uma lenda distante, um romance de suspense
político. Já ninguém falava de idéias, falavam de créditos, de juros, de
letras, não ganhavam dinheiro a trabalhar, mas "faziam-no" em
"jogadas". Seria por muito tempo? "A mentira do
dinheiro na alma russa impoluta", escreveu Marina Tsvetáeva. Mas
parece que os heróis de Ostrovski e de Saltikov-Schedrin ganharam vida e se
passeiam pelas nossas ruas.
A todas as pessoas com quem me encontrei, perguntava: "O que é
a liberdade?" Pais e filhos respondiam de modos diferentes. Aqueles
que nasceram na URSS e os que já não nasceram na URSS têm experiências
distintas. São pessoas de planetas diferentes.
Os pais: a liberdade é a ausência de medo; três dias em agosto, quando
vencemos o golpe; uma pessoa que escolhe numa loja entre cem variedades de
salame é mais livre do que a pessoa que escolhe entre dez variedades; não ser
espancado, mas nunca chegaremos às gerações não espancadas; o homem russo não
compreende a liberdade, precisa do cossaco e do látego.
Os filhos: a liberdade é o amor; a liberdade interior, um valor
absoluto; quando não temos medo dos nossos desejos; ter muito dinheiro, e nesse
caso teremos tudo; quando se pode viver de tal maneira que não se pensa na
liberdade. A liberdade é o normal.
Procuro uma linguagem. O homem tem muitas linguagens: a linguagem que
usa com os filhos, e mais uma, a do amor Há ainda a linguagem a que recorremos
quando falamos conosco mesmos, quando travamos diálogos interiores. Na rua, no
trabalho, nas viagens — por todo o lado se ouve qualquer coisa diferente, mudam
não apenas as palavras, mas qualquer coisa mais. Uma pessoa até de manhã e à
tarde fala de modos diferentes. E aquilo que acontece durante a noite entre
duas pessoas desaparece por completo da história. Tratamos apenas da história
do homem diurno. O suicídio é um tema noturno, a pessoa encontra-se no limite
da existência e da não existência. Do sono. Quero entender isto com a precisão
da pessoa diurna.
Disseram-me: "Não tem medo de que isso lhe agrade?"
Seguimos pela estrada de Smolensk. Paramos numa aldeia ao lado de uma
loja. Uns conhecidos (eu própria cresci nesta aldeia), uns rostos bonitos,
bondosos, e em redor uma vida humilhante, pobre. Conversamos acerca da vida.
"Pergunta-me sobre a liberdade? Entre na nossa loja: vodca, há toda a
que se queira: Standart, Gorbatchov Putinka, salame à farta, e queijo, e peixe.
Até há bananas. De que outra liberdade precisa? Esta para nós é
suficiente." "E deram-lhes terra?" "Quem é que vai mourejar
nela? Se a queres, toma-a. Aqui só o Vaska Krutoi aceitou. O filho mais novo
tem oito anos e anda atrás do arado ao lado do pai. Se fores trabalhar para
ele, não penses em juntar algum dinheiro, ele nem dorme. É um fascista!"
Na "Lenda do Grande Inquisidor" de Dostoiévski há uma
discussão sobre a liberdade. Diz-se que o caminho da liberdade é difícil,
sofrido, trágico "Para que conhecer esse diabo desse bem e desse mal,
se isso custa tanto?" O homem tem sempre que escolher: a
liberdade ou o bem-estar e a organização da sua vida, a liberdade com
sofrimento ou a felicidade sem liberdade. E a maioria das pessoas segue por
esse segundo caminho.
O Grande Inquisidor diz a Cristo, que voltou à Terra:
"Porque vieste cá incomodar-nos? Porque tu vieste incomodar-nos
e sabes isso muito bem"
"Ao respeitá-lo [ao homem], tu procedeste como
se tivesses deixado de sentir compaixão por ele, porque exigiste demasiado dele
Ao respeitá-lo menos, exigias-lhe menos, e isso estaria mais perto do amor,
pois o fardo dele seria mais leve. Ele é fraco e vil Que culpa tem a alma
fraca, se é incapaz de juntar em si tão terríveis dons?"
"Não há preocupação mais constante e torturante para o homem do
que, ao ficar livre, procurar depressa alguém diante de quem se inclinar a quem
transmitir depressa o dom da liberdade com que esse ser infeliz nasce"
Nos anos 1990 sim, éramos felizes, e essa nossa ingenuidade já nunca mais
volta. Parecia-nos que a escolha estava feita, que o comunismo tinha perdido
sem apelo. Mas tudo estava apenas a começar
Passaram-se vinte anos... "Não nos assustem com o socialismo",
dizem os filhos aos pais.
De uma conversa com um professor universitário meu conhecido:
"No final dos anos noventa os estudantes riam-se quando eu recordava a
União Soviética; estavam confiantes de que à sua frente se abria um novo
futuro. Agora o quadro é diferente Os estudantes de hoje já descobriram, já
sentiram o que é o capitalismo — a desigualdade, a pobreza, a riqueza
descarada, têm diante dos olhos a vida dos pais para quem nada restou do país
saqueado. Sonham com a sua revolução. Usam camisolas vermelhas com retratos de
Lênin e de 'Che' Guevara."
Cresceu na sociedade o interesse pela União Soviética. Pelo culto de
Stálin. Metade dos jovens dos 19 aos 30 anos consideram Stálin "o maior
dirigente político". Num país em que Stálin liquidou tantas pessoas
como Hitler, um novo culto de Stálin?! Tudo o que é soviético está outra vez na
moda. Por exemplo, os cafés "soviéticos" — com nomes
soviéticos e pratos soviéticos. Surgiram os bombons "soviéticos"
e o salame "soviético" — com o cheiro e o sabor nossos
conhecidos desde a infância. E, é claro, a vodca "soviética".
Na televisão há dezenas de transmissões e na Internet dezenas de sites
nostálgicos "soviéticos". Podem fazer-se visitas turísticas
aos campos stalinistas — em Solovka, em Magadan. O anúncio promete que para
mais completa sensação fornecem um fato do campo e uma picareta. Mostram os
barracões restaurados. E no final organizam uma pescaria.
Renascem idéias antiquadas: sobre o Grande Império, sobre a "mão
de ferro", "sobre a via russa especial" Reapareceu o
hino soviético, há o Komsomol, mas chama-se simplesmente "Nachi"
(os "Nossos"), há o partido do Poder, que copia o Partido
Comunista. O presidente tem um poder como o do secretário-geral. Absoluto. Em
vez do marxismo-leninismo, a religião ortodoxa.
Antes da revolução de 1917, Aleksandr Grin escreveu: "E o
futuro parece ter deixado de estar no seu lugar." Passaram cem anos, e
de novo o futuro não está no seu lugar. Chegou um tempo em segunda mão. A
barricada é um lugar perigoso para um artista. Uma armadilha. Ali estraga-se a
vista, obscurece a íris, o mundo perde a cor. Na barricada, o mundo é preto e
branco. Dali já não se distingue o homem, vê-se apenas um ponto negro — um
alvo. Passei toda a vida nas barricadas e queria sair delas. Aprender a
alegrar-me com a vida. Recuperar a visão normal. Mas dezenas de milhares de
pessoas saem de novo para as ruas. Dão-se as mãos, trazem fitas brancas nos
blusões, símbolo do renascimento. Há cor. E eu estou com elas.
Encontrei nas ruas jovens com a foice e o martelo e o retrato de Lênin
nas camisolas. Saberão eles o que é o comunismo?
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Carlos I. S. Azambuja é Historiador.
1 ¹Designação depreciativa do regime soviético e de tudo o que com ele se
relaciona. (N. do T.)
2 Ou simplesmente Gulag. Acrónimo da designação russa: Glavnoe Upravlénie
Ispravi- telno-trudovikh Laguerei (Direção Central dos Campos de Trabalho
Correcional). 3 Outubrista: primeira forma de organização das crianças, que a
seguir entravam para os pioneiros e mais tarde para o Komsomol, a juventude
comunista.