Por Percival Puggina
Ser petista ficou dureza. Imagina o sujeito que passou a
vida exaltando as elevadas qualidades morais e o discernimento com que o PT
oposicionista apontava soluções para os problemas do país. Sonhava com o PT no
poder. Nas tendas e barracas em que o PT vendia adesivos, distintivos,
camisetas do Che e bandeirinhas de Cuba, o cara tinha conta em caderno. Pagava
por mês e ainda contribuía para o caixinha do partido. Era fã do Zé, do
Genoíno, da Marta. Entrava em surto cívico até nos discursos do Suplicy. Tinha
foto com o Lula na parede da sala, adesivo com estrela no carro e bandeirinha
vermelha tremulante na janela. A vida era cheia de certezas. Numa delas, o PT
salvaria o Brasil de si mesmo porque o partido tinha aquele caráter que parecia
faltar ao eleitor brasileiro, esse vendilhão de votos em troca de favores. O PT
seria o fim da estrada para a política do "é dando que se recebe". E,
sobre tudo, havia o Lula, o metalúrgico pobretão, apto a mudar o mundo com um
megafone.
Lula dizia, o PT repetia e a vida confirmava: do outro
lado da cena política atuava um bando de patifes. Contados um a um pelo próprio
líder maior, eram mais de 300. Entre eles, o Collor, o Renan, o Maluf, o
Sarney, o Barbalho, o Quércia. Santo Deus! Que bênção seria livrar o Brasil do
poder dessa gente. E isso só o PT poderia fazer porque só o PT tinha a força
moral necessária.
Durante os muitos anos em que fui filiado ao PP, os
petistas com os quais participava de debates tentavam colocar na minha conta o
fato de ser, este, "o partido do Maluf". E eu me obrigava a dizer que
o Maluf jamais pisara na soleira da sede do partido no Rio Grande do Sul,
porque sabia não ser, aqui, benquisto nem bem-vindo. Até que um dia, Lula -
quem poderia antever? - abraçou-se com Maluf, o procurado pela Interpol, nos
jardins de sua mansão. E sorria, sorria muito o Lula, num sorriso deslavado e
encardido. De um ou de outro modo, em diferentes cenários e agendas, o mesmo
aconteceu com todos aqueles que, nos tempos de oposição, provocavam arrepios
éticos na fina sensibilidade dos petistas.
Passaram-se 13 anos. Dezenas foram condenados, presos e
estão sendo processados. Bilhões de reais escoaram para bem enxaguadas contas.
Escabrosas histórias envolvendo o partido, seus agentes e parceiros são
contadas mundo afora. Sob o governo petista, o país enfrenta um pacote de
crises endógenas, todas de produção própria, caseira. Na contramão de uma
conjuntura internacional favorável (a economia mundial crescerá 3%), o Brasil é
assolado por inflação, recessão, desemprego, descrédito e o PIB cairá 2%.
Apenas 7,7% dos brasileiros aprovam o governo. Mas o PT vive dias de muita
comemoração. Afinal, o arqui-inimigo Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos
Deputados, foi acusado de ser pilantra sem que ninguém se surpreendesse. A
alegria petista diante desse fato, faz lembrar o Tavares, o canalha
rodriguiano, criado por Chico Anysio: "Sou, mas quem não é?".
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Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense
de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site
www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no
país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e
Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
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