Nestor Cerveró durante depoimento à CPI da Petrobras,
na
sede da Justiça Federal em Curitiba (PR)
(Rodolfo Buhrer/Reuters)
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Auditoria aponta que Cerveró desviou US$ 40 mi
Diretoria
Internacional da Petrobras utilizou projeções irreais para justificar a compra
de navios-sonda, com valores superestimados
Auditoria encaminhada ao Ministério Público aponta uma série
de irregularidades cometidas na compra de navios-sonda pela Petrobras e indica
que o então diretor da Área Internacional Nestor Cerveró atuou diretamente para
fechar contratos desnecessários à empresa e que, ao final, tiveram preços
superestimados sem explicação. Cerveró e o empresário Fernando Soares,
conhecido como Fernando Baiano e apontado como o operador do PMDB no petrolão,
são réus por corrupção, lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro
internacional. Segundo os investigadores, ele atuou na compra de navios-sonda e
na captação de propina de empresários.
De acordo com a acusação, Cerveró participou da contratação,
baseada em dados frágeis, de navios-sonda da Samsung Heavy Industries. Em uma
primeira etapa, recebeu 15 milhões de dólares em dinheiro sujo a partir da
mediação de Fernando Baiano e recomendou à Diretoria Executiva da estatal a
contratação da empresa sul-coreana por 586 milhões de dólares. Na transação
para a compra do segundo navio-sonda, Nestor Cerveró teria recebido mais 25
milhões de dólares para que a Samsung conseguisse o contrato ao custo de 616
milhões de dólares.
A auditoria interna da Petrobras analisou a compra dos dois
navios-sonda adquiridos da Samsung Heavy Industries, o Petrobras 10000 e o
Vitoria 10000, além do navio Titanium Explorer 1. Em documento assinado pelo
gerente de Auditoria de Exploração e Produção, Paulo Rangel, a contratação das
duas plataformas da Samsung foi justificada por "premissas otimistas"
que utilizavam um cenário de difícil execução. Ao tentar justificar a
necessidade de compra dos navios-sonda, a diretoria Internacional utilizou
projeções irreais: a perspectiva de quatro novos blocos por ano, com dois
prospectos e 30% de chance de sucesso, além de um poço com 30% de chance de
comercialidade e do desenvolvimento de 32 poços por campo. "Com essa
visão, estimou-se a necessidade de pelo menos duas sondas nos cinco anos
seguintes e de pelo menos seis em dez anos, sem base técnica, mas passando a
ideia de perda de oportunidade", conclui a auditoria.
"As condições comerciais iniciais para construção do
navio-sonda com a Samsung foram negociadas diretamente pelo Diretor da Área
Internacional. Além disso, não foram encontrados registros em atas da evolução
das negociações que resultaram no contrato celebrado para a construção do
navio-sonda Petrobras 10000. Outro fato que chama a atenção é a ausência de
designação de comissões de negociação", afirmam os auditores ao relatarem
a atuação de Cerveró.
As mesmas projeções irreais sobre a atuação da Petrobras em
perfuração em águas profundas foram replicadas como argumento para justificar a
compra do segundo navio-sonda da Samsung Heavy Industries, transação que, de
acordo com o MP, foi consolidada após o pagamento de propina a Nestor Cerveró.
E mais: o mesmo estudo, com as projeções otimistas, serviu como escopo para a
negociação e contratação, "sem competição" de um terceiro navio-sonda,
o DS-5. A auditoria conclui que o DS-5 e o navio-sonda Titanium Explorer foram
contratados "sem necessidade".
"O recebimento de propostas, as negociações e
assinatura de memorandos de entendimento foram realizados sem prévia
autorização da Diretoria Executiva, revelando a elevada autonomia detida pela
área Internacional", criticam os auditores. "A boa prática de
realizar processos competitivos para a seleção de propostas não foi seguida. Os
registros das rodadas de negociação e dos respectivos responsáveis foram
escassos", completa o documento enviado nesta segunda-feira ao Ministério
Público.
Ao longo da transação, lobistas como Julio Camargo e
Fernando Baiano visitaram frequentemente Nestor Cerveró - Baiano visitou o
então diretor da Petrobras 72 vezes entre fevereiro de 2004 e janeiro de 2008.
Entre junho de 2005 e janeiro de 2008, Julio Camargo foi recebido por Cerveró
18 vezes. Camargo fez um acordo de delação premiada e disse ter sido
responsável por pagar propina de 40 milhões de dólares para Baiano repassar a
Cerveró. O delator depois fez uma retificação na Justiça e informou 30 milhões
de dólares como o valor final da propina.
Os auditores da Petrobras mapearam ainda atuação da empresa
Schahin Óleo e Gás na transação envolvendo os navios-sonda e indicaram ter
havido direcionamento irregular na indicação da empresa para ser a operadora do
Vitoria 10000. Ao longo do tempo, "a Schahin deixou de honrar os
pagamentos do leasing, vindo a solicitar e receber bônus por performance
antecipadamente no contrato de serviços de perfuração para liquidar suas
obrigações". No último mês o grupo Schahin protocolou pedido de
recuperação judicial. Empreiteiras citadas na Operação Lava Jato, como a Galvão
Engenharia e a OAS, também já recorreram à Justiça para evitar a falência.
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