Por Bruno Braga
"Foro de São Paulo". A expressão, antes
pronunciada com heroísmo por alguns poucos, está cada vez mais presente nos
debates sobre a situação política do país. Nos últimos protestos contra a
Presidente Dilma e contra o PT, que levaram milhares de pessoas às ruas, ela
compôs gritos de denúncia, apareceu nas faixas e cartazes empunhados pelos
manifestantes. Miopia aguda ou surdez dissimulada, não há outra forma de
explicar a omissão da imprensa de não destacá-la.
O Foro de São Paulo foi criado por Lula e por Fidel Castro
em 1990. O objetivo era - e é - reunir a esquerda latino-americana, de partidos
políticos a quadrilhas de narco-guerrilheiros, para transformar o continente na
"Patria Grande" socialista-comunista. Porém, dúvidas e suspeitas são
lançadas contra o audacioso projeto. Uma reação natural de desconfiança por
causa do impacto da denúncia ou um artifício para ofuscar a gravidade das
acusações. Mas, seja lá o que for, a documentação pode ser examinada por
qualquer um que tenha interesse no assunto. E, para dissipar qualquer nuvem de
incerteza, basta ler "A estrela na janela: ensaios sobre o PT e a situação
internacional" [1]. O livro foi escrito por Valter Pomar, que o apresenta
como a "prestação de contas" do seu trabalho de oito anos à frente da
Secretaria de Relações Internacionais do PT e da Secretaria Executiva do Foro
de São Paulo (2005-2013) (pp. 07-08).
"O Foro de São Paulo já é parte indissolúvel da
história da esquerda latino-americana durante a última década do século XX e a
primeira do XXI" (p. 256). O mapa do continente não foi pintado de
vermelho de forma espontânea: "o Foro participou e contribuiu para esta
mudança de correlação de forças na América Latina e Caribe" (p. 244).
Pomar observa que, "quando o Foro foi criado, havia apenas um governo
encabeçado pela esquerda: Cuba. Hoje governamos parte importante dos países da
região. Isto se deve, ao menos em parte, à ação dos partidos que integram o
Foro" (p. 267) [2].
As palavras do petista dão uma idéia da importância do Foro
de São Paulo para a configuração do atual cenário político e da dimensão
monstruosa que adquiriu este projeto de poder que é sim comunista [3]. Valter
Pomar escreve como parte do movimento revolucionário. Ele enaltece a herança
soviética, elogia o "modelo" cubano, faz da Unidade Popular do Chile
uma fonte de inspiração, é um entusiasta das relações entre Brasil e China. O
ex-Secretário Executivo do Foro de São Paulo fala abertamente sobre o horizonte
perseguido pela organização:
[...] "o termo 'comunismo' é recusado ou simplesmente
deixado de lado por amplos setores da esquerda, inclusive por alguns que se
proclamam revolucionários. Mas, desde o ponto de vista teórico, o uso do termo
é essencial, uma vez que permite distinguir entre o que é a 'transição' e o que
é o 'objetivo final' (ou seja, a forma madura de sociedade que se pretende
construir)" (p. 93).
Pomar ressalta que "a luta pelo poder pode se resolver
no prazo de anos, mas a construção de outra sociedade é um projeto de décadas e
séculos" (p. 117). As conquistas até o momento são inegáveis: "o
potencial da esquerda latino-americana é confirmado, ao longo dos anos 1990 e
adiante, com o surgimento do Foro de São Paulo; a gestação do Fórum Social
Mundial; e a eleição de uma onda de presidentes progressistas" (p. 139).
Porém, não basta estar no "governo" para "controlar o
poder" (p. 155). O esquema comunista deve ser ampliado em uma
"segunda etapa" (p. 206), e por duas vias: "aprofundar as
mudanças e acelerar a integração" (p. 247).
"Temos que mudar o Estado, mudar sua natureza, não
apenas sua forma" (p. 221). Pomar observa que as mudanças devem ser feitas
com rapidez, porque as crises "externas" ou "internas"
poderiam colocar "em questão nossa permanência no governo" - [...]
"o tempo é curto, a janela é pequena, pode se fechar" (p. 213). Para
ele, "reformas estruturais" precisam ser promovidas: a reforma
política (p. 211); o controle do judiciário e dos meios de comunicação - o
domínio da indústria cultural e do sistema educacional (p. 221).
A reforma política é imprescindível para o Foro de São
Paulo:
"Nós precisamos fazer uma REFORMA POLÍTICA, mas não
conseguimos, desde 2003 até hoje, fazer que este debate ganhe a sociedade. Não
há como fazê-lo desde o governo nem desde o parlamento. Haveria que desencadear
um movimento político-social, que tenha o partido [o PT] e os partidos de
esquerda aliados como protagonistas" (p. 211).
As principais propostas de reforma política oferecidas para
o público são a execução da estratégia descrita por Pomar. Para conquistar a
adesão das pessoas, a coleta de assinaturas para a convocação de um Plebiscito
Constituinte e para a legitimação do projeto de lei de "iniciativa
popular" da "Coalizão pela Reforma Política Democrática" é
propagandeada como mobilização da "sociedade civil organizada".
Porém, os "movimentos sociais" envolvidos, as ONG's e sindicatos, ou
estão a serviço do PT, ou estão de alguma forma alinhados com o partido. Pior.
As propostas preveem - entre outros absurdos - a inserção desses mesmos grupos
em instâncias decisórias da administração pública, promovendo aquilo que tanto
quer o petista Valter Pomar: a ampliação sorrateira do esquema de poder do Foro
de São Paulo [4]. Para a vergonha dos católicos - porque contraria escandalosamente
os princípios e as orientações da Igreja, a CNBB apoia a convocação do
Plebiscito Constituinte e assina o projeto da "Coalizão pela Reforma
Política Democrática" [5].
A respeito da instrumentalização da Igreja Católica pelos
comuno-petistas - algo que ocorre há décadas com a pregação de um engodo criado
pela KGB e batizado por ela de "Teologia da Libertação" [6] - Pomar
observa o estusiasmo da esquerda latino-americana com Francisco, o Papa
argentino que poderia ser explorado para a promoção dos seus planos (p. 259).
Pomar - que esteve presente na fundação do Foro de São Paulo
como representante do Instituto Cajamar, a "escola de quadros" do PT
(p. 07) - destaca a importância da educação e da cultura para as pretensões da
organização comunista. "A construção deste pensamento de massas, de uma
cultura de massas, é, dentre as tarefas de longo prazo, talvez a mais
estratégica" (p. 255). Trata-se de um ardil conhecido, sobretudo nos
moldes gramscianos. Ocupação das universidades; formação de professores
militantes; doutrinação nas escolas; "intelectuais" e artistas
engajados - e a colaboração ingenua dos "idiotas úteis". Uma
estratégia eficiente, que não só consagrou o comunista e "apóstolo"
da Teologia da Libertação, Paulo Freire, como patrono da educação brasileira,
mas forjou a falsa reputação que tanto contribuiu para a ascensão do PT ao
poder [7].
Dentro do plano de promoção das "reformas
estruturais", a reeleição de Dilma Rousseff, alertava Pomar, era
imprescindível. "Não se trata da vitória de uma pessoa, mas sim da vitória
de um projeto, de uma aliança, de um Partido" - o governo Dilma, no
segundo mandato, "com reformas, com mudanças profundas, nos aproxima do
socialismo" (p. 88). E a candidata petista foi de fato reeleita. Uma fraude
eleitoral escandalosa conservou a marionete do Foro de São Paulo na Presidência
da República [8].
Quanto à "integração", ela não é outra coisa que a
construção da "Patria Grande" comunista na América Latina. Trata-se
de uma "integração de amplo alcance", que possa consolidar
"laços econômicos, sociais, políticos, militares e ideológicos" entre
os países governados pela organização (p. 37). "Esta compreensão de uma
integração de amplo escopo constitui o pano de fundo da criação da Comunidade
Sul-Americana de Nações (2004), cujo nome foi posteriormente alterado para
UNASUL (2007)" (p. 141). O Foro de São Paulo é um dos
"laboratórios" encarregados de planejar a institucionalidade da
"integração" comunista (p. 268).
No entanto, observa Pomar: "Não haverá integração sem
Brasil. Talvez sejamos o país menos latino-americano da região, mas somos
também o capitalismo mais potente, que tem melhores condições para ajudar a
financiar a integração" (p. 204). Os investimentos em
"infraestrutura" são estratégicos, e devem subordinar "a ação
das empresas brasileiras aos interesses da política externa e convertendo nossa
política externa de política de governo em política de Estado" (p. 245).
Porto em Cuba, metrô na Venezuela, estradas na Bolívia, hidrelétrica na
Nicarágua. Um mar de dinheiro público, em vez de ser investido em obras que o
país tanto precisa, é canalizado para patrocinar - com o disfarce de
"integração" - o totalitarismo na América Latina.
Enfim, esta síntese da "prestação de contas" do
ex-Secretário Executivo do Foro de São Paulo deixa à mostra o nefasto projeto
de poder comunista. O petista diz que agora, da "planície",
continuará contribuindo com a "luta pelo socialismo", com o Partido
dos Trabalhadores (p. 08). O PT, contudo, permanece no altos postos de poder.
Por isso, uma observação de Valter Pomar - feita quando ainda estava à frente
da organização fundada por Lula e por Fidel Castro - é importante para
concluir: "o PT valoriza extremamente o Foro de SP" [...]
"Devemos, portanto, combinar a necessária luta ideológica em favor do
socialismo, com uma estratégia e uma política organizativa mais amplas"
[...] "para nós, do PT, o Foro de São Paulo é prioritário" (p. 87).
__________
Referências
[1]. POMAR, Valter. "A estrela na janela: ensaios sobre
o PT e a situação internacional". Editora Fundação Perseu Abramo: São
Paulo, 2014.
[2]. Em 2012, o ex-Presidente Luiz Inácio enalteceu o papel
do Foro de São Paulo na construção do projeto de poder comunista na América Latina:
"hoje governamos um grande número de países, e mesmo onde somos oposição,
os partidos do Foro têm uma influência crescente na vida política e
social" (Mensagem enviada para o XVIII Encontro do Foro de São Paulo,
realizado em Caracas. Cf. [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/07/sob-o-efeito-do-encanto.html]).
[4]. Cf. "A reforma política para o Foro de São Paulo
continuar governando o Brasil" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/04/a-reforma-politica-para-o-foro-de-sao.html].
[5]. Cf. "Padres pregam proposta de reforma política.
Fiéis, não assinem!" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/07/padres-pregam-proposta-de-reforma.html];
"O porta-voz comunista da reforma política celebrada por padres" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/07/o-porta-voz-comunista-da-reforma.html];
"A reforma política da CNBB. Católicos, não assinem!" [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/08/a-reforma-politica-da-cnbb-fieis.html]; "Se
a CNBB realmente quer 'eleições limpas'..." [http://b-braga.blogspot.com.br/2014/11/se-cnbb-realmente-quer-eleicoes-limpas.html].
[6]. PACEPA, Ion Mihai. "A KGB criou a Teologia da
Libertação" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/01/a-kgb-criou-teologia-da-libertacao.html].
Tradução do Capítulo
"Liberation Theology" (15), que é parte do livro
"Disinformation": former spy chief reveals secret strategis for
undermining freedom, attacking religion, and promoting terrorism (WND Books:
Washington, 2013). ______. "A Cruzada religiosa do Kremlin".
Trad. Bruno Braga [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/04/a-cruzada-religiosa-do-kremlin.html].
[7]. Cf. "A 'pedagogia' do Foro de São Paulo" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/04/a-pedagogia-do-foro-de-sao-paulo.html].
[8]. Cf. "O Foro de São Paulo governa o Brasil" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/03/o-foro-de-sao-paulo-governa-o-brasil.html].
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