terça-feira, 12 de maio de 2015

A morte política é o destino dos senadores que desertarem para render-se a Fachin


20150510081642626842e
O que houve com Álvaro Dias?, perguntam-se os milhões de paranaenses que votaram em outubro passado num candente opositor do governo lulopetista e acabaram reconduzindo ao Congresso um aliado incondicional de Luiz Edson Fachin? Como entender que um porta-voz do Brasil decente no Legislativo se tenha transformado em cabo eleitoral do doutor escolhido por Dilma para tornar majoritária no Supremo a bancada dos ministros da defesa de culpados?

Decidido a instalar Fachin no gabinete prematuramente esvaziado por Joaquim Barbosa, o senador do PSDB assumiu sem explicões razoáveis (e sem ficar ruborizado) o papel de estafeta de um caçador de togas. Uma guinada e tanto para esse paulista de Quatá criado em Londrina que, desde a ascensão do lulopetismo ao poder, tem sido um dos raríssimos integrantes da oposição partidária em permanente sintonia com o país que presta.

Antes de escancarar-se a estranha parceria com Fachin, a bela voz de locutor de rádio, sempre afinada com a voz rouca das ruas, ensinou em centenas de pronunciamentos corajosos como falar com fluência a linguagem dos indignados. Aos 71 anos, Álvaro Dias mudou de rumo e de lado. O tribuno veemente deu lugar ao homem que murmura pedidos de votos para uma ameaça ambulante ao Estado Democrático de Direito.

Alguma coisa parece ter-lhe confiscado o instinto de sobrevivência. Em rota de colisão com centenas de milhares de manifestantes exaustos de corrupção e incompetência, Álvaro Dias se nega a compreender que o apoio a Fachin é uma forma especialmente desonrosa de suicídio eleitoral. É um pecado sem remissão. Como descobriram tarde demais os senadores Demóstenes Torres e Kátia Abreu, não existe uma segunda chance para quem acampa voluntariamente na catacumba dos que capitularam por tão pouco. Ou quase nada.

O surto de suicídios políticos assumirá dimensões endêmicas se a bancada oposicionista não enxergar a tempo a relevância da sabatina a que Fachin será submetido na Comissão de Constituição e Justiça — e, sobretudo, a importância histórica da votação no plenário que decidirá em última instância se o eleito por Dilma merece um lugar no Supremo. Não merece, saberá o Brasil se os senadores cobrarem respostas que dissipem pelo menos as zonas de sombra localizadas por VEJA na edição desta semana.

1) Por anos a fio, Fachin foi simultaneamente procurador-geral do estado e advogado militante. A esse acúmulo de funções, proibido pela Constituição paranaense e, portanto, ilegal, soma-se uma agravante só contornada por gente dotada do dom da ubiquidade: o duplo emprego não impediu que Fachin continuasse a dar aulas na universidade. A sabatina precisa esclarecer esse milagre da multiplicação do tempo.

2) Em numerosos artigos, entrevistas e discursos, Fachin deixou claro seu menosprezo pelo preceito constitucional que garante a propriedade privada no Brasil. Se é que mudou de ideia, por que nunca se desmentiu?

3) Fachin sempre foi ostensivamente simpático ao MST, uma velharia comunista que não tem existência jurídica. Os laços afetivos permanecem? Como estão no momento as ligações promíscuas entre quem deveria defender o cumprimento das normas legais e o bando comandado pelo fora da lei João Pedro Stédile?

4) Fachin sempre defendeu a desapropriação de terras produtivas para fins de reforma agrária, sem o pagamento de indenização aos proprietários lesados. Recuperou o juízo ou ainda é tripulante da nau dos insensatos?

Há mais, muito mais. Mas o que acima se leu informa que a presença de um Fachin no STF pode ser ainda mais ruinosa que a de um Dias Toffoli. Como ocorre agora, também os defensores do ex-advogado do PT, ex-assessor de José Dirceu na Casa Civil e chefe da Advocacia-Geral da União garantiram que quatro ou cinco sessões do Supremo bastariam para que o novo ministro proclamasse a própria independência. Erraram feio, sabe-se hoje.


O Brasil de 2015 é outro. As multidões nas ruas avisam que não são poucos os providos do sentimento da vergonha. Contam-se aos milhões os que mantêm sob estreita vigilância os senadores eleitos para fazerem oposição. Quem trocar a oposição pelo amém ao governo não escapará do castigo reservado aos desertores.

2 comentários:

  1. A traição aos seus eleitores foi por um prato de comida?
    Então, se alimente bem senador, pois não terá mais eleitores.

    ResponderExcluir