segunda-feira, 6 de abril de 2015

Nazifascismo e Comunismo: Irmãos siameses


Stalin e Hitler: tudo a ver
Em 26 de agosto de 1939 Stalin assombrou o mundo com a assinatura do Pacto Nazi-Soviético. No Kremlin, ele e Von Ribbentrop levantaram o histórico brinde “pela saúde do grande Fuhrer”, e o Pravda enaltecia, em editorial, “os laços entre os dois povos, cimentados em sangue”.

É difícil ignorar as conexões psicológicas, filosóficas e históricas entre o nazismo e o comunismo. No início dos anos 30, os comunistas apoiaram entusiasticamente os esforços nazistas para derrotar o inimigo comum: a social-democracia.

Também não dá para ignorar que os primeiros filiados ao partido nazista eram ex-comunistas. O próprio Hitler não deixou nenhuma dúvida a esse respeito: “Existem entre nós e os bolcheviques mais pontos comuns do que divergências” (”Discursos de Hitler”,Hermann Rauchning, página 133).
      
O Procurador-Geral do Reich, Holand Freisler, havia sido comissário soviético na Ucrânia e Joseph Goebbles, quando estudante demonstrara clara preferência pelo socialismo em detrimento do nacionalismo. Estava convencido de que comunismo e nazismo guardavam a semelhança de sósias e  sentia enorme respeito por Lenin (“O Diário Matinal de Goebbls”, Helmuto Heiber, páginas 24 a 62).

Segundo Hitler, “Não é a Alemanha que irá se tornar bolchevista e sim o bolchevismo é que se transformará em nacional-socialismo. O pequeno burguês social-democrata e o chefe do sindicato jamais poderão ser nacional-socialistas, mas os comunistas, sempre (...) Uma aliança russo-alemã significa simplesmente a confluência de dois rios que correm para o mesmo mar, o mar da revolução mundial. A Alemanha e a Rússia, se se unirem, transformarão o mundo radicalmente” (“Interpretação de Hitler”, Paul Schmidt, página 134).

Hitler e Stalin formaram a mais sórdida aliança de toda a história. O marechal Ribbentrop, quando chegou a Moscou para firmar o célebre “pacto cimentado em sangue”, bandeiras com a cruz gamada tremulavam ao lado da foice e do martelo, com uma banda executando, com ênfase, a “Horst Wessel Lied”, o hino nazista, e a Internacional. Logo a seguir a Polônia era invadida pelos exércitos de ambos os países. Folhetos distribuídos por ordem do marechal Timoschenko inundaram as linhas de defesa polonesas: “Soldados, matem seus oficiais e generais. Não obedeçam às suas ordens...”.

Em pouco tempo, a fortaleza de Brest-Litovsk caiu após o ataque conjunto dos exércitos alemão e soviético e mais uma vez as bandeiras com a cruz gamada e a da foice e o martelo tremularam lado a lado.

A Polônia foi ocupada assim como Engels formulou em sua carta dirigida a Karl Marx em 23 de maio de 1851, quase um século antes: “Tirem tudo o que puderem dos poloneses do Leste. Atirem-nos ao fogo, devorem suas terras e, se os russos concordarem, façam aliança com eles e forcem os poloneses a ceder”(“A Revolução dos Intelectuais”, páginas 52 e 53).

É sabido que durante o avanço sobre a Polônia, o Exército Vermelho suplantou os nazistas em matéria de crueldades. De acordo com o embaixador italiano em Varsóvia, “a barbárie alemã é superada mil vezes pelos indescritíveis horrores das tropas bolcheviques” (“Diário de Ciano”, página 162).

Depois da pavorosa matança, vagões abarrotados com famílias seguiram para os campos de concentração nazistas e comunistas. O sinistro apelo de Engels a Marx tornara-se realidade.

Dados estatísticos comprovam que a polícia secreta soviética deportou um milhão e meio de poloneses para os campos da morte na Sibéria (“Trabalho Forçado na Rússia Soviética”, David Dallin e Boris Nicolaevsky, páginas 263 e 264).

Os soviéticos da NKVD deram uma aula em matéria de atrocidades aos seus colegas da Gestapo.

Os campos de concentração nazistas pareciam ficar devendo muito aos seus congêneres soviéticos. Até no temível campo de Dachau vários cidadãos soviéticos preferiram enforcar-se a voltar para sua pátria.

Os nazistas mataram, mas os soviéticos mataram mais. Os habitantes da União Soviética, a pátria do socialismo, eram divididos em três categorias: ex-prisioneiros, prisioneiros, e futuros prisioneiros.

É interessante também recordar o chamado Massacre de Katyn. O comando alemão fez, em abril de 1943, uma chocante revelação: na floresta de Katyn, perto de Smolensk, haviam sido descobertos milhares de cadáveres de oficiais poloneses, enterrados em valas comuns. Moscou reagiu prontamente, alegando que o referido genocídio havia sido obra do exército alemão, durante seu avanço em setembro de 1941.

A controvérsia resultou em uma investigação científica, realizada in loco por uma comissão internacional composta pelos mais renomados médicos de toda a Europa. Jornalistas de vários países também estiveram presentes durante a exumação dos corpos.

A cena foi macabra.  Apareceram 4.143 corpos de oficiais poloneses assassinados pela NKVD, antecessora da KGB. Dentro das valas foram encontrados jornais soviéticos datados de abril de 1940 (época da vigência do Pacto Nazi-Soviético).

Os cadáveres estavam vestidos com pesadas roupas de inverno, e o parecer da Comissão foi unânime, responsabilizando a União Soviética pelo massacre de Katyn. Tanto é assim, que durante os julgamentos de Nuremberg, não houve nenhuma alusão, em seu veredicto final, a qualquer culpa da Alemanha no pogrom de Katyn.

Finalmente, em 1989, Mikhail Gorbachev admitiu que a NKVD foi, realmente, a responsável pelo Massacre de Katyn e, no ano seguinte, com data de 25 de março de 1990, nos tempos da “glasnost” e da “perestroika”, foi elaborado um documento, em Moscou, com o título “Lista de Autoridades Soviéticas e Trabalhadores da NKVD que Participaram da Tragédia de Katyn”, que pôs um ponto final no assunto.



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Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

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