Por Percival Puggina
Sou um dos 100%
Aécio, cujos nomes são destacados na página da tua campanha que divulga o apoio
de intelectuais. Por isso, contemplando a hipótese de que venhas a ler, tomo a
liberdade de escrever o que penso sobre esta esquina onde nos encontramos na
história da República.
Há uma parcela imensa
da sociedade brasileira perfeitamente consciente de que o problema do Brasil
não é Lula e não é Dilma. O problema do Brasil, sabemos nós, é o Partido dos
Trabalhadores, com seus métodos, seu projeto totalitário de poder, sua turbada
visão de história, suas más companhias internas e externas, sua ideologia malsã
e seu reacionarismo econômico. O problema do Brasil é a oficialização dessa
moral que parece abastecida em lojinha de conveniência, onde a cada momento é
selecionado o princípio que convém, dispensados os demais nos reservatórios de
lixo seletivo. É o governo de um partido que abraça a Petrobras com afagos de
quem lhe bate a carteira.
Seu principal
adversário ao longo dos últimos 12 anos, Aécio, é um partido que faz mal ao
Brasil. Na oposição, não deixa governar; no governo, não governa. Na oposição,
a quilômetros de distância, brada contra odores nos atos do governo; no
governo, não percebe a sujeira colada à sola do próprio sapato.
Fosse você, Aécio, eu diria à sua principal adversária que o
governo petista acabou. E não acabou agora, mas há seis anos. Acabou na metade
do segundo governo Lula, quando se esgotou o estoque de mágicas na cartola das
facilidades e o Brasil começou a desacelerar, a parar e, já agora, a declinar.
Eu diria que o PT já fez o pouco bem que podia e todo o mal que podíamos
tolerar. O PT, enfim, já era. Foi rareando o que nele havia de bom e aflorando,
dominante, tudo que nele havia de mau. O pouco que ainda resta de valor no
partido não compensa tudo que nele não presta. Só não vê isso quem não quer.
Trata-se de um terrível problema moral. Ele não está no fato
de que o PT transforma bandidos em heróis, mas no fato de que parcela imensa da
população nacional já não mais distingue um tipo de outro. E o nome disso já
não é pura e simples corrupção, mas é corrupção da alma brasileira, onde muitos
entram em confusão mental, ou em conflitos de interesse, nas encruzilhadas do
certo com o errado.
Pense sobre isso, Aécio. Você é a terceira geração de
políticos do PSDB aos quais parcela importante do povo brasileiro confia a
bandeira oposicionista. Você enfrenta um adversário fragilizado, combalido
pelos motivos que expus. Mas precisa evitar, com ajustes de discurso, que os
bons brasileiros migrem votos para quem nunca teve e ainda não tem palavras de
reprovação aos malefícios em curso no país. Isso, simplesmente, não faz
sentido.
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Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões,
integrante do grupo Pensar+.
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