domingo, 7 de setembro de 2014

A exploração da Vala do Cemitério de Perus

Por Carlos Alberto Brilhante Ustra - Cel Ref EB

Compreendemos a dor dos familiares e a procura dos restos mortais de seus entes queridos.

Realmente, não deveria haver nenhum desaparecido mas, já que infelizmente isto aconteceu, essa procura e essa  dor não deveriam ser exploradas politicamente, como acontece com frequência em época de eleições ou datas importantes para as Forças Armadas.

Agora, novamente, está na pauta a Vala do Cemitério de Perus, volta e meia remexida, por militantes da luta armada.

Ontem, 04/09/14, Ivan Seixas, militante do MRT e da ALN, alçado à categoria de pesquisador da Comissão da Verdade, entrevistado na Globo News, reabriu o assunto, relembrando que foi no governo de  Erundina PT/SP - 1990,  que o assunto veio á tona.

Evidentemente, Ivan Seixas  omitiu o motivo pelo qual esta vala foi criada e nela colocados os restos mortais de mais de mil indigentes e alguns poucos militantes da luta armada. 

O Cemitério de Perus foi criado pelo prefeito Paulo Maluf, em 1971, para enterrar os corpos dos indigentes falecidos. Alguns terroristas, mortos durante a luta armada,  foram enterrados neste cemitério. O sepultamento era feito pelas autoridades estaduais. Não cabia ao Exército esta missão.

Em 1975, durante a gestão do prefeito Miguel Colasuonno, (28/08/73 a 16/08/75), talvez para desocupar vagas, foram exumadas mais de mil ossadas que foram colocadas em sacos plásticos e empilhadas no cemitério.

Em 1976 quando o prefeito era  Olavo Egídio Setúbal (17/08/75 a 11/07/79), o Serviço de Sepultamento da Prefeitura de São Paulo determinou que a Vala de Perus fosse aberta e nela despejadas as ossadas de 1049 indigentes, inclusive as de 6 a 8 terroristas.

Quando Mário Covas era prefeito da cidade de São Paulo, determinou que a abertura da Vala de Perus não fosse comentada. Covas foi membro do antigo MDB, depois PMDB, fora nomeado pelo governador Franco Montoro, portanto de oposição aos governos militares e, se não denunciou irregularidades na colocação das ossadas na Vala é porque elas não existiram. Ao contrário, endossou  a atitude do Serviço de Sepultamento da Prefeitura.

É impossível que, em 1990, a prefeita Luiza Erundina quando fez o estardalhaço sobre a Vala de Perus, com grande repercussão na mídia, acusando os militares de terem ocultado milhares de cadáveres de terroristas, não soubesse que as ossadas colocadas naquela vala, foram lá despejadas por ordem da Prefeitura de São Paulo.

Em depoimento, em dia 24/02/2014, à Comissão Nacional da Verdade, o ex-administrador do Cemitério de Perus, Antonio Pires Eustáquio, que esteve à frente do posto entre 1976 e 1992, relatou que, segundo funcionários que trabalharam no local no início dos anos 1970. Os corpos eram enterrados como indigentes em caixões simples de madeira e em covas rasas separadas. Alguns vinham com uma letra “T, vermelha. Eu descobri depois que ela se referia a terrorista. Essa declaração ficava em minha posse e, depois do sepultamento, ela era usada para efetuar o registro de óbito”.(...) “houve uma preocupação da administração funerária de São Paulo, na década de 1970, em dar fim aos restos mortais. A solução encontrada foi abrir uma vala comum na qual foram despejadas as ossadas de mais de 1500 pessoas.” Sendo entre seis e oito militantes de esquerda”(...), “após a Anistia Política, ele foi orientado, em uma reunião na capital paulista, a “não fazer alarde” e nem dar entrevistas sobre a vala comum. O pedido foi feito por membros da administração funerária em São Paulo durante a gestão de Mário Covas” - (1983-1985). “Na reunião, os meus superiores do serviço funerário lembraram que havia tido a anistia e que apareceriam muitos curiosos procurando por pessoas desaparecidas. E pediram que eu não mostrasse o livro (de óbitos). Era para ele (Mário Covas) estar presente, mas ele não foi – disse. (...)” O ex-administrador do Cemitério de Perus afirmou ainda que foi ameaçado de morte após a descoberta da vala e teve de se esconder no interior do estado de São Paulo, abandonando seus familiares.”

E agora, qual a versão que a Comissão Nacional da Verdade adotará, a da Erundina ou a do Administrador do Cemitério de Perus?


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