Por Alexandre Caverni
SÃO PAULO (Reuters) - A trágica morte do candidato do PSB à
Presidência da República, Eduardo Campos, nesta quarta-feira causa um terremoto
político inédito na corrida presidencial e traz um grau de incerteza muito
forte a poucos dias do início da propaganda no rádio e TV, considerado o ponto
real de partida da campanha eleitoral.
Qualquer cálculo político feito tão em cima dos eventos
desta manhã tem uma grande chance de cometer erros, mas é possível vislumbrar o
cenário mais provável e tentar imaginar alguns de seus desdobramentos.
Quando a ex-senadora Marina Silva decidiu se filiar ao PSB
em outubro do ano passado, o ex-governador de Pernambuco foi muito elogiado
pela inesperada manobra política, que reforçava a candidatura do partido à
Presidência.
Por outro lado trazia a possibilidade, remota, de ser Marina
a cabeça de chapa, já que ela disputara a Presidência em 2010, tendo quase 20
milhões de votos. Nos primeiros meses deste ano, as pesquisas eleitorais
traziam vários cenários de candidatos, incluindo Marina. Sempre com melhor
desempenho do que Campos.
Mas com o passar do tempo ficou claro que o candidato do PSB
seria mesmo Campos. Sua aposta era se apresentar como um candidato alternativo
à polarização PT X PSDB, que vem se repetindo nas eleições presidenciais desde
1994, defender o que ele chamava de "nova política" e aproveitar a presença
de Marina para atrair eleitores que estiveram com ela há quatro anos.
A aposta não estava funcionando. Campos aparecia num
distante terceiro lugar da corrida liderada pela presidente Dilma Rousseff (PT)
e pelo senador Aécio Neves, do PSDB.
Para ser justo com ele, em 2010, Marina só cresceu na reta
final da campanha e talvez isso fizesse com que Campos mantivesse um discurso
otimista sobre suas chances de vencer.
Embora o bom senso muitas vezes não prevaleça na política, o
mais sensato agora seria o PSB lançar Marina como candidata à Presidência. E
possivelmente com mais chances de chegar ao segundo turno do que Campos teria.
GANHANDO ELEITORES
Recuperando os ideais de sua campanha de 2010, o clima das
manifestações populares de junho de 2013 --quando havia um grande repúdio à
política tradicional--, junto com os slogans de Campos, Marina pode emplacar
com mais força do que o ex-governador a ideia da terceira via e da "nova
política".
Ela tem uma boa chance de manter os eleitores que até agora
se mostravam dispostos a votar no pernambucano e atrair parcelas dos indecisos
que talvez não vissem nele um candidato com chances de vitória.
A esses, existe espaço para se juntarem ainda eleitores que
podem ser influenciados pelo clima de comoção que certamente cercará a campanha
por um tempo difícil de prever.
Num primeiro momento, não é fácil prever se Dilma ou Aécio
perderiam eleitores, mas se Marina se tornar a presidenciável do PSB e começar
a crescer em cima dos indecisos e daqueles que planejavam votar em branco ou
anular seus votos, sua candidatura ganha um impulso que pode se retroalimentar,
a ponto até de roubar eleitores dos líderes.
Para a eleição em geral, é fácil prever a consequência
disso: se ainda pudesse haver esperanças de definição da eleição no primeiro
turno, um quadro com Marina candidata traria imediatamente a certeza da segunda
rodada.
Mais complicado é projetar o resultado do novo cenário para
Aécio e Dilma. Se Marina crescer e a dupla se mantiver mais ou menos onde está,
o perigo maior num primeiro momento parece ser para Aécio, que poderia ver em
algum momento ameaçada sua ida para um segundo turno.
Mas se Marina vier a chegar ao segundo turno contra Dilma,
diante das circunstâncias trágicas de sua candidatura e o forte desejo de
mudança da população, talvez ela venha a ter ainda mais chances de derrotar
Dilma do que Aécio.
NEGOCIAÇÕES COM A REDE
O fato de Marina ter se filiado ao PSB apenas porque o
partido que tentou criar, a Rede Sustentabilidade, não conseguiu o registro no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) poderia trazer algumas complicações. Isso
porque é sabido que a ex-senadora e o grupo que a acompanhou ao PSB pretendiam
deixar o partido assim que conseguissem tornar legal a Rede.
Esse movimento não era contraditório com uma eventual
vitória de Campos, já que nesse caso a diferença seria apenas que haveria mais
um partido na coligação governista.
Mas a tragédia que foi a morte de Campos e as chances
eleitorais de Marina abrem espaço para alguma negociação que mude de algum modo
o quadro inicial. Como por exemplo, acertar que Marina, se eleita presidente da
República, durante seu mandato continuaria no PSB mesmo que a Rede fosse legalizada.
Nada disso pode vir a acontecer e Marina pode continuar
apenas como candidata a vice-presidente de um outro nome do PSB ou até desistir
de participar da corrida. No limite, o próprio PSB pode decidir sair da
disputa. Se assim for, porém, seria difícil falar apenas em falta de bom senso.
Soaria mais como tolice.
Fonte: Reuters Brasil
O autor é editor de Front Page do Serviço Brasileiro da
Reuters. As opiniões expressas são do autor do texto)
Esta coluna foi publicada no terminal financeiro Eikon, da
Thomson Reuters, mais cedo nesta quarta-feira, 13 de agosto.
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