Há quem, incapaz de debater ou argumentar de verdade,
esconde-se atrás do humor (ou tentativa de) e cria espantalhos para atacar os
oponentes de ideologia. É o caso de Gregório Duvivier, o Greg. Em sua coluna de
hoje na Folha, o comediante faz uma caricatura do “reaça” que, confesso, não
despertou risos em mim, que sou uma pessoa com bastante senso de humor. É
porque foi fraquinho mesmo o texto.
Mas a tentativa de fazer comédia com essa caricatura do
“jovem reaça” acabou colocando em evidência a visão real que a esquerda caviar
tem do jovem branco, heterossexual, cristão de classe média. É tempo demais
vivendo em bolhas da elite “progressista”, no Leblon, no meio global, e a
pessoa perde o contato com a realidade, adota uma visão totalmente distorcida
do cidadão comum. Vamos ao ping-pong, ele em vermelho, eu em azul:
Aproveitando essa onda reaça que tá super-mega tendência, a
gente está lançando toda uma coleção pra você, jovem reacionário, que quer
gastar o dinheiro que herdou honestamente na sociedade meritocrática – apesar
dos impostos, é claro.
Em primeiro lugar, de onde ele tirou que são todos
herdeiros? Claro, não há mal algum em herdar bens, pois é um direito de quem
cria riqueza escolher para quem deixar, e ninguém trabalha duro para deixar
para o estado (duvido que o próprio Greg queira deixar sua fortuna em formação
para os burocratas e políticos). E quem gosta de pagar altos impostos, ainda
mais a fundo perdido? Duvido, novamente, que o Greg goste.
Mas mesmo assim, não é uma incrível falta de contato com a
realidade? Os maiores herdeiros que conheço são da esquerda caviar, como o
próprio Greg, como Verissimo, Chico Buarque e tantos outros. A direita que ele
ataca com seu sarcasmo é basicamente formada pela classe média trabalhadora,
espremida por tantos impostos e esmolas estatais.
Pode guardar a camiseta fedida do Che Guevara e raspar essa
barba de Fidel. A moda guerrilheira é muito 2002. Quem tá com tudo neste outono
é o jovem reaça. A moda é cíclica, gatinhos! Nesta estação, vamos aproveitar o
aniversário da revolução democrática e tirar do armário a fardinha verde-oliva
do vovô. E o melhor: não precisa nem limpar as manchas de sangue. Super orna.
A moda guerrilheira com camisas do porco assassino Che
Guevara infelizmente nunca desaparece. Mas fardinha verde-oliva, caso o Greg
não saiba, é a cara de outro porco assassino: Fidel Castro. Infelizmente,
também é adorado ainda por uma legião de idiotas úteis, muitos deles herdeiros
e da elite que Greg frequenta. Duvida? Pergunte à Letícia Spiller, ao Wagner
Moura, etc.
O último grito do outono fascistão é defender os valores
tradicionais e ressuscitar velhos chavões: direitos humanos para humanos
direitos, bandido bom é bandido morto, Deus não fez Adão e Ivo.
Então defender valores tradicionais, como a importância da
família (algo que o Clodovil, por exemplo, fazia), e demandar punição severa
para criminosos é coisa de “fascistão” agora? É essa a visão que Greg tem da
direita? A pessoa não pode, também, achar que homem e mulher é uma combinação
mais natural e normal, ainda que aceite os casos de homossexualidade como parte
da vida? É preciso enaltecer o gay, como se a pessoa fosse melhor só por gostar
de gente do mesmo sexo?
Nossa coleção – que será lançada amanhã, no prédio do
DOI-Codi- foi feita pensando em você, cidadão de bem, branco, católico,
heterossexual, rico, com as pernas no lugar, funcionando direitinho. Você é o
homem da minha coleção. Olha só esse soco inglês: é a sua cara. Vestiu bem,
homem da minha coleção. Combina com sua correntinha.
O mais engraçado – e o humor do Greg é melhor quando
involuntário – é o preconceito da esquerda caviar que finge não ter nenhum
preconceito. O cidadão de bem, para essa gente, não existe, pois somos todos
“iguais”, e o relativismo moral é sua marca registrada. O branco, católico,
heterossexual, aquele que não goza de privilégio algum, que não tem nenhuma
bolsa ou subsídio por não ser das “minorias”, esse é o vilão do Greg, o
fascista violento.
Já o soco inglês Greg deveria vender para os black blocs,
para a turma mascarada contra o “sistema”, defendida pela esquerda caviar. Se
bem que eles preferem coquetéis Molotov e rojões assassinos mesmo…
O homem da minha coleção anda armado e se algum viado der em
cima dele ele diz que atira na testa. O homem da minha coleção transa com
travesti mas se arrepende logo em seguida e enche a bicha de porrada. O homem
da minha coleção casou na igreja com a mulher da minha coleção num casamento
celebrado pelo padre da minha coleção, homofóbico, racista e com um sotaque
ininteligível apesar de nunca ter saído do Brasil.
A visão que Greg tem da direita é incrível. O estereótipo do
“machão” que não passa de um gay enrustido, que transa com travecos escondido,
ou um padre homofóbico e racista. Casal de classe média, fiel, cansado de
tantos impostos, que frequenta a igreja aos domingos, isso não existe para
nosso humorista Greg.
A mulher da minha coleção critica periguetes porque elas não
se dão valor – chama isso de feminismo. Saia curta, nem pensar. “Depois reclama
quando é estuprada…” A mulher da minha coleção acha que mulher gorda devia
evitar sair de casa. “Ninguém é obrigado a ver gente obesa.”
Criticar piriguetes é coisa de “reaça” agora, viram só?
Achar que meninas de 12 ou 13 anos não deveriam rebolar até o chão seminuas em
bailes funks é coisa de “reaça” agora, viram só? Greg deveria estar tão
desesperado para criar seu espantalho, no afã de fazer humor, que apelou até
para a mentira de que essas mulheres “reaças” culpam a própria vítima pelo
estupro. Quem? Onde?
Sobre as gordas, seria bom o Greg lembrar que a paranoia
pelo corpo perfeito vem da própria esquerda caviar, das suas colegas globais,
da turma do “detox”, dos “fascistas do bem” que vão, por meio do estado, cuidar
de todos nós em prol da “saúde perfeita”. Quem condena “junk food” como se
fosse coisa do capeta? Pois é…
A mulher da minha coleção finge que não sabe que é traída
pelo homem da minha coleção e se vinga estourando o limite do cartão de crédito
do homem da minha coleção que por sua vez finge que não sabe e se vinga saindo
com outras mulheres da minha coleção.
Claro, o típico casal classe média é assim: traição o tempo
todo. Os atores globais da esquerda caviar é que são diferentes, sempre fieis,
com casamentos duradouros. Quem o leitor acha que preenche melhor o perfil desse
espantalho criado pelo Greg: uma moça da esquerda caviar, rica e encantada com
Che, ou a típica mulher da classe média brasileira?
Nosso it boy, claro, é o coronel Paulo Malhães, torturador
chiquerésimo que deu depoimento à Comissão da Verdade usando um puta óculos
escuros Prada de aro dourado, onde assumiu ter perdido a conta de quantos
cadáveres ocultou. Divo. Viva a revolução – democrática.
Tinha que terminar com chave de ouro, lógico. Dar nome aos
bois. Quem é o ícone dos “reaças”? O maluco com cara de Saddam Hussein que
confessou ter torturado pessoas sem resquício de culpa. Notem bem: não é Ronald
Reagan um potencial ídolo da direita democrática, mas um assassino obscuro da
época do regime militar.
Eu sei que tudo isso era para ser apenas humor (pena que
fracassou). Poderia ter ficado engraçado. Mas não sejamos ingênuos: o pessoal
da festiva, incapaz de reagir com argumentos em debates sérios com a nova
direita que surge no país, após tanto tempo de hegemonia da esquerda, apela
para o humor como arma de ataque. Tenta criar espantalhos, fazer uma caricatura
do “inimigo”, pois dessa forma não precisa mais lidar com os oponentes reais,
de carne e osso, dessa direita.
Tenta, enfim, ridicularizar toda a direita como se fosse
dessa forma descrita acima, um bando de malucos, hipócritas, traidores,
reacionários e potenciais assassinos. O mais hilário, claro, é que devem fazer
isso diante de um espelho, pois acabam descrevendo com muito mais fidelidade a
própria turminha autoritária e hipócrita da esquerda caviar, gamada num
uniforme verde-oliva e num cartão de crédito…
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